quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sarney Inveja Marcelo

O ex-presidente José Sarney sempre pretendeu voltar a presidência do Senado. Ele sabe que não pode ficar longe do poder.

Saiu a contragosto em 2005. Naquela época, ele queria forçar uma mudança na constituição para permitir a reeleição para presidente do Senado, na mesma legislatura, o que era proibido. Tentou então envolver Aldo Rebêlo, na época presidente da Câmara, na empreitada que beneficiaria os dois. Mas, para proteger a biografia, embora tenha sido dele a idéia, quem tinha que se expor era Aldo, que posaria de pai. Tentava dissimular e não se queimar.

Não esperava encontrar pela frente um adversário aguerrido e ambicioso como ele. Renan Calheiros também queria a mesma coisa e com as primeiras notas de jornal denunciando a jogada, Sarney desistiu da lide e passou, depois de muito ranger de dentes, a ser o maior amigo de Renan. "Se não pode vencê-lo, junte-se a ele", como bem explica o ditado popular.

Em 2006, Renan podia se candidatar novamente, já que era uma nova legislatura e assim foi feito. Ademais, aquele ano não seria o ideal, pois acreditava que deveria voltar em 2009, para ficar até 2011. Assim poderia influir na eleição presidencial de 2010...

Tudo parecia perfeito. Renan tinha muitos adeptos, mas estava fragilizado pelos escândalos que acabaram por forçar sua renúncia como presidente do Senado. Dessa maneira, evitaria a cassação que parecia certa.

Sarney costurou e teve o apoio do presidente Lula para arranjar um cargo para Renan. Queria colocá-lo em posição de trabalhar por ele. Com a concordância de Lula, este foi ungido Líder do PMDB no Senado. E aí começou a trabalhar por Sarney, pois isso significaria voltar ao poder no Senado.

Sarney achava que, como ex-presidente e facilitado pelos inúmeros favores que fez a muitos colegas senadores e, principalmente, espelhando-se nas outras eleições que venceu, essa seria muito fácil e que seria eleito para a presidência do Senado sem precisar competir.

Não queria competir, porque o telhado é de vidro e não resiste a muitas pedradas. Mas todo esse planejamento deu errado. Tião foi presidente interino da Casa e, sabendo que havia um acordo para que o PMDB ficasse com a presidência da Câmara e o PT a do Senado, resolveu se candidatar.

Era a solução que Lula queria e, desconfiando de Sarney, perguntou cinco vezes se ele queria ser presidente do Senado. Em todas sem exceção recebeu a mesma reposta: não queria! Tião Viana esteve com Sarney e quatro vezes repetiu a pergunta de Lula, obtendo a mesma resposta: não quero! E na última ainda teve a garantia de que Sarney faria campanha por ele.

Por fim, depois de justificar com um resfriado o adiamento a sucessivos encontros com Lula, Sarney finalmente disse ao presidente que era candidato. E levou a ele, em sede de justificar a sua candidatura, um levantamento que mostrava o pouco apoio que tinha Tião Viana entre os Senadores. A turma de Sarney, com Renan Calheiros na linha de frente, prometia aos Senadores o que tinha e o que não tinha, numa campanha de baixíssimo nível, onde o que menos interessava era a instituição e sua imagem, conforme a revista Veja publicou em matéria dessa semana.

Lula, demonstrando contrariedade, não atendeu Sarney e apenas prometeu não interferir. Porém, quando viu a coisa ameaçar tomar outro rumo com a decisão do PSDB de apoiar Tião Viana, Sarney resolveu importunar Lula e cobrar dele o que este nunca lhe prometeu. E parece que Lula não gostou da atitude do protegido. Eis o que publicou ontem Noblat em seu Blog:

“Na tarde do sábado, Lula atendeu a uma ligação de Sarney. Ouviu queixas contra seus auxiliares empenhados em cabalar votos para Tião – entre eles, Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da presidência da República.

Lula respondeu que se mantém distante da eleição do Senado. E que assim como ministros do PMDB trabalham por Sarney, nada mais natural que os do PT trabalhem por Tião.
Lula jamais engoliu a candidatura de Sarney ao Senado. Por três vezes Sarney lhe disse que não seria candidato. Alegou cansaço e a idade avançada - 78 anos.

Por cinco vezes Sarney procurou Tião e lhe garantiu seu voto. Finalmente, quando Sarney foi a Lula e contou que cedera à pressão do PMDB para concorrer, o diálogo entre os dois azedou. Sarney imaginou que Lula forçaria Tião a desistir. Lula recusou-se a fazê-lo.

- Mas o Tião não se viabilizou como candidato – argumentou Sarney. Ao que Lula retrucou:
- Como ele poderia ter se viabilizado se você negava que seria candidato, prometia votar nele, mas se articulava para ser?
Sarney foi embora do Palácio do Planalto emburrado. Lula ficou emburrado. Tião continuou atrás de voto com a esperança de pelo menos se livrar de uma surra humilhante. Até que de repente o PSDB se enfiou na tuba de Tião.”

Em seu Blog, a cientista política Lúcia Hippólito afirma: “Temer ganhou mais e melhor. Sarney ganhou menos e pior. “De fato, o senador do Amapá pensou que seria como das outras vezes. Em 1995, ganhou de Lauro Campos por 61 contra 7. Em 2003, sem adversários, teve 76 dos 79 Senadores presentes a Sessão. Hoje, depois de ser presidente da República e duas vezes presidente do Senado, ganhou por 49 a 32, dividindo o Senado e irritando o PT e Lula.

Deixou de ser o ex-presidente respeitado por seus pares. Concorreu como um Senador qualquer. Não existe mais a vestal e diminuiu de tamanho... Terrível!

Vai ter contra si muitos senadores e deixou de ser unanimidade. Uma verdadeida lástima para o ex-presidente...

Que inveja de Marcelo, que, no segundo mandato, foi eleito presidente da Assembléia Legislativa em um pleito sem adversários e com 41 votos a favor e nenhum contra.

Que inveja! Era tudo que ele precisava...

Um comentário:

GUSTAVO LOPES disse...

Apesar da desilusão política vislumbrada por mim no Maranhão, vejo no fim do túnel uma luz, a possibilidade de ver o Marcelo Tavares no governo do estado. Assim poderíamos ver continuadas todas as aspirações e lutas do seu tio o verdadeiro libertador do Maranhão e próximo senador deste estado