quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sai dai rápido, Sarney!

O que dirá o senador José Sarney (PMDB-AP) quando lhe perguntarem a respeito do neto que há dois anos negocia dentro do Senado empréstimos consignados para servidores, segundo reportagem publicada, hoje, pelo jornal O Estado de S. Paulo?

Dirá que desconhecia o fato?

O neto é filho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA).

Presidente do Senado pela terceira vez, senador há 19 anos, seguramente o mais prestigiado dos 81 senadores, responsável pela nomeação de um diretor-geral que permaneceu no cargo durante 14 anos, acolitado por mais de 100 auxiliares, é razoável imaginar que Sarney nunca ouviu falar das ações do neto banqueiro?

Quem acredita?

Seria a mentira do ano.

Se ouviu e as considerou legítimas é porque perdeu o juízo por completo.

Há um claro conflito de interesses entre um senador no exercício de suas funções e um neto a realizar transações financeiras em um espaço sujeito à forte influência do avô. A mais rala noção de ética impediria que uma situação desse tipo tivesse se estabelecido.

Sarney valeu-se do "eu não sabia" para contornar a descoberta de que recebia há mais de um ano auxílio-moradia de R$ 3.800,00 mensais, embora tenha casa própria em Brasília, além da residência oficial de presidente do Senado.

Novamente apelou para a mesma desculpa ao ser confrontado com a informação de que outro neto dele, filho do seu filho mais velho Fernando, havia sido funcionário do gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA).

"Eu não pedi e não sabia", jurou Sarney.

Disse ainda que nada pedira e que nada sabia a respeito das nomeações de uma prima e de uma sobrinha de Jorge Murad, seu genro. Uma delas morava em Barcelona e era lotada no gabinete do líder do PTB no Senado.

Preferiu nada comentar sobre a nomeação em 2005 de seu irmão Ivan para a 2ª Secretaria do Senado. Dali, mais tarde, Ivan foi exonerado mediante ato secreto.

Admitiu ter pedido ao colega Delcídio Amaral (PT-MS) que empregasse uma sobrinha que se mudara para Campo Grande. Uma vez que o nome da sobrinha foi citado pela imprensa, pediu a Delcídío que a devolvesse.

Sarney saiu em defesa da filha Roseana quando este blog publicou em primeira mão que Amauri Machado, conhecido como "Secreta", ganhava salário de motorista do Senado para trabalhar como serviçal na casa da atual governadora do Maranhão.

"Ele é chofer do Senado há 25 anos", contou. "E Roseana nem mora mais em Brasília".

"Secreta" foi um chofer pago pelo Senado para trabalhar, primeiro, na casa de Sarney, e, depois, na casa de Roseana. Até há pouco, Roseana morava em Brasília.

Por último, Sarney negou a existência de atos secretos produzidos pela direção do Senado. Ao saber que eles existiam, sim, apressou-se em garantir:

- Mas é tudo relativo ao passado, nada relacionado ao nosso período. Nós não temos nada a ver com isso. Eu não vou dizer que ocorreu na presidência tal e tal, até porque alguns colegas nossos estão mortos.

Restou provado que algumas dezenas de atos secretos foram assinados por Sarney quando assumiu pela segunda vez a presidência do Senado. Portanto, aqui, há como se afirmar que ele mentiu para seus pares e para o distinto público.

Numa linguagem tortuosa, que não faz jus a um escritor de tantos livros e membro da Academia Brasileira de Letras, Sarney observou outro dia:

- Nossos valores [do Congresso] não podem ser julgados pela imperfeição do exercício, dos valores morais e dos valores do parlamento que são feitos muitas vezes por maus parlamentares a quem devemos combater.

Em defesa da própria reputação e, é claro, do cargo que ocupa, Sarney trovejou na tribuna do Senado:

- A crise do Senado não é minha. A crise é do Senado. É essa instituição que nós devemos preservar. Tanto quanto qualquer um aqui, ninguém tem mais interesse nisso do que eu, até porque aceitei ser presidente da Casa.

Se ainda está valendo o que ele disse sobre a preservação do Senado como instituição; se de fato ninguém mais do que ele tem interesse em preservá-la; se não quer passar pelo pesadelo que atormentou Renan Calheiros (PMDB-AL), obrigado a se licenciar do cargo e, mais tarde, a abdicar dele; Sarney deveria renunciar de imediato ao cargo de presidente.

A crise é do Senado, mas também é dele. Uma presidência em crise não tem condições de administrar uma instituição em crise.

Não é mais caso de licença do cargo, mas de renúncia, como decretou, anteontem, o senador Pedro Simon (PMDB-RS).

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