O morubixaba José Sarney não tem nada a ver com a crise que carcome as entranhas do Senado. A crise, como Sarney já esclareceu, não é dele. A crise é do Senado.
Nas últimas duas décadas, Sarney fez. Nesse período, Sarney aconteceu. Mas Sarney não tem nada a ver com coisa nenhuma.
Sob Agaciel Maia, o Senado foi gerido por baixo da mesa. Editaram-se um sem número de atos administrativos secretos.
Isso aconteceu porque Agaciel mandou e desmantou na direção-geral do Senado por arrastados 14 anos. Sarney nomeara-o em 1995, na sua primeira presidência.
Um prêmio a Agaciel que, como diretor da Gráfica do Senado, editara, às expensas da Viúva, peças de campanha de políticos. Entre eles Roseana Sarney.
Numa segunda presidência, Sarney manteve Agaciel. Amigos e aliados de Sarney –ACM, Jader e Renan, por exemplo— preservaram Agaciel.
Eleito presidente pela terceira vez, Sarney conservou a intocabilidade de Agaciel. Defenestrou-o depois. Por pressão, não por vontade própria.
A mansão de R$ 5 milhões, cuja propriedade Agaciel ocultara, tornara-se um fardo demasiadamente pesado. Mas Sarney não tem nada a ver com isso.
Sacudida pela imprensa golpista, a folha do Senado revelou-se um abrigo de frutos da árvore genealógica dos Sarney.
O neto, a mãe do neto, o irmão, o par de sobrinhas, a cunhada da filha, o diabo. Sarney, o patriarca, não tem nada a ver com isso.
A empresa de outro neto intermediou no Senado os interesses de casas bancárias. Operou no filão dos empréstimos a servidores.
Coisa segura e rentável. Entrega-se o dinheiro aqui e amarra-se o pagamento ali, no contracheque dos enforcados.
Os contratos foram firmados antes que o senador virasse tri-presidente. O neto é preparado, coleciona canudos internacionais. Sarney não tem nada a ver com isso.
A Petrobras borrifou nas arcas da Fundação José Sarney R$ 1,4 milhão. Grana de mecenato, trançada na grande área do Ministério da Cultura.
Até então, a fundação era uma pedinte malsucedida. Espetara na burocracia do ministério nove projetos. Coisa de R$ 3,4 milhões.
Noves fora um caraminguá de R$ 100 mil, pingado pela Telebras em 1996, na fase pré-privatização, só a Petrobras se animou a estender a mão para a fundação.
Sarney endereçou uma carta ao ministério. Pediu pressa na aprovação do projeto. Liberada a coleta, a estatal petroleira começou a contribuir no mesmo dia.
Levantaram-se dúvidas quanto à aplicação de um pedaço do patrocínio: R$ 500 mil. Contraram-se empresas amigas.
Entre elas a da mulher de um tal de “Pipoca”, ex-assessor de Roseana, hoje auxiliar do ministro-companheiro Edison Lobão.
E Sarney: “Não participo da gestão da fundação”. Ou seja: não tem nada a ver com isso também. De modo algum. Absolutamente não!
O repórter acredita na tese. Ela guarda certa coerência. Ora, se Sarney não teve nada a ver com coisa nenhuma nos últimos 15 anos, por que teria agora?
A imprensa maledicente não vai parar, porém, de aborrecer o senador. Sugere-se a Sarney a adoção de uma providência que renderia homenagens à transparência.
Para evitar o incômodo de ter que dar uma explicação atrás da outra, Sarney poderia imprimir na testa uma tatuagem: “Não tenho nada a ver com isso”.
Se achar que a frase grande demais, Sarney pode recorrer a uma abreviatura: NaV, “Nada a ver”. Com o tempo, o dístico lhe será tão característico quanto o bigode.
Ao avistar um ou outro, mesmo o mais desavisado dos transeuntes será compelido a concluir: Ali vai José Sarney, o homem que não tem nada a ver com nada.
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Nas últimas duas décadas, Sarney fez. Nesse período, Sarney aconteceu. Mas Sarney não tem nada a ver com coisa nenhuma.
Sob Agaciel Maia, o Senado foi gerido por baixo da mesa. Editaram-se um sem número de atos administrativos secretos.
Isso aconteceu porque Agaciel mandou e desmantou na direção-geral do Senado por arrastados 14 anos. Sarney nomeara-o em 1995, na sua primeira presidência.
Um prêmio a Agaciel que, como diretor da Gráfica do Senado, editara, às expensas da Viúva, peças de campanha de políticos. Entre eles Roseana Sarney.
Numa segunda presidência, Sarney manteve Agaciel. Amigos e aliados de Sarney –ACM, Jader e Renan, por exemplo— preservaram Agaciel.
Eleito presidente pela terceira vez, Sarney conservou a intocabilidade de Agaciel. Defenestrou-o depois. Por pressão, não por vontade própria.
A mansão de R$ 5 milhões, cuja propriedade Agaciel ocultara, tornara-se um fardo demasiadamente pesado. Mas Sarney não tem nada a ver com isso.
Sacudida pela imprensa golpista, a folha do Senado revelou-se um abrigo de frutos da árvore genealógica dos Sarney.
O neto, a mãe do neto, o irmão, o par de sobrinhas, a cunhada da filha, o diabo. Sarney, o patriarca, não tem nada a ver com isso.
A empresa de outro neto intermediou no Senado os interesses de casas bancárias. Operou no filão dos empréstimos a servidores.
Coisa segura e rentável. Entrega-se o dinheiro aqui e amarra-se o pagamento ali, no contracheque dos enforcados.
Os contratos foram firmados antes que o senador virasse tri-presidente. O neto é preparado, coleciona canudos internacionais. Sarney não tem nada a ver com isso.
A Petrobras borrifou nas arcas da Fundação José Sarney R$ 1,4 milhão. Grana de mecenato, trançada na grande área do Ministério da Cultura.
Até então, a fundação era uma pedinte malsucedida. Espetara na burocracia do ministério nove projetos. Coisa de R$ 3,4 milhões.
Noves fora um caraminguá de R$ 100 mil, pingado pela Telebras em 1996, na fase pré-privatização, só a Petrobras se animou a estender a mão para a fundação.
Sarney endereçou uma carta ao ministério. Pediu pressa na aprovação do projeto. Liberada a coleta, a estatal petroleira começou a contribuir no mesmo dia.
Levantaram-se dúvidas quanto à aplicação de um pedaço do patrocínio: R$ 500 mil. Contraram-se empresas amigas.
Entre elas a da mulher de um tal de “Pipoca”, ex-assessor de Roseana, hoje auxiliar do ministro-companheiro Edison Lobão.
E Sarney: “Não participo da gestão da fundação”. Ou seja: não tem nada a ver com isso também. De modo algum. Absolutamente não!
O repórter acredita na tese. Ela guarda certa coerência. Ora, se Sarney não teve nada a ver com coisa nenhuma nos últimos 15 anos, por que teria agora?
A imprensa maledicente não vai parar, porém, de aborrecer o senador. Sugere-se a Sarney a adoção de uma providência que renderia homenagens à transparência.
Para evitar o incômodo de ter que dar uma explicação atrás da outra, Sarney poderia imprimir na testa uma tatuagem: “Não tenho nada a ver com isso”.
Se achar que a frase grande demais, Sarney pode recorrer a uma abreviatura: NaV, “Nada a ver”. Com o tempo, o dístico lhe será tão característico quanto o bigode.
Ao avistar um ou outro, mesmo o mais desavisado dos transeuntes será compelido a concluir: Ali vai José Sarney, o homem que não tem nada a ver com nada.
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