segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O Presidente Tem Razão: Os Brasileiros Estão na M...

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:

O PRESIDENTE TEM RAZÃO: OS BRASILEIROS ESTÃO NA M...

Ao menos desta vez o Presidente da República falou a verdade. Talvez o ambiente não muito salutar que lhe cercava o tenha impulsionado a falar algo que as estatísticas oficiais não negam. Estimulado pela vontade de atingir o Prefeito de São Luis que estava presente e que pertence ao partido que lhe faz oposição cometeu o ato falho de denunciar uma das mazelas do seu próprio governo. O equivoco está em debitar na conta dos outros as próprias deficiências, o que aliás tornou-se uma das suas características.

Quando fizemos um esforço muito grande para romper paradigmas, dobrar uma sociedade conservadora, uma mídia, inclusive a local, fortemente hostil, imaginávamos que um governo que tivesse como líder um homem que, na oposição tinha o dedo em riste para apontar os equívocos de outros governos, não tolerar o comportamento anti-ético de sujeitos sociais carcomidos de então, iria ter comportamento diverso. Naquele memorável primeiro de janeiro de 2003 eu estava em Luis Correia, no Piauí, rodeado de familiares e gente simples em torno do aparelho de televisão imaginando que ali começaria uma nova era para o Brasil. Acreditava ingenuamente que os dinossauros da política brasileira, que tanto mal nos haviam feito, iriam finalmente vestir os pijamas, mas não impunemente.

Em 1985, quando da transição para a chamada Nova Republica em que o Brasil se frustrou, primeiro pela derrota das eleições diretas para Presidente e em seguida pela morte de Tancredo Neves, Chico Buarque, com a lucidez de sempre, denunciava em uma de suas belas músicas que nos bastidores da política brasileira de então se erguiam estranhas catedrais. Parece que elas também foram erigidas, sem que sequer imaginássemos, nos bastidores que antecederam aquela solenidade cheia de simbolismos e repleta de esperanças por melhores dias, que assisti naquela tarde ensolarada e muito quente no Piauí.

O Presidente que imaginávamos iria “romper com tudo que ali estava”, subverteu e se aproximou de tudo aquilo, lhe deu guarida, fôlego e poder. Pior, o cargo lhe empavonou, transformou-lhe em onisciente, em ‘opinador’ sobre tudo, ainda que as opiniões sejam as mais equivocadas possíveis. A última foi a expressão chula que utilizou no Maranhao. Precisava ser exatamente ali? Logo o Maranhão que ainda não conseguiu deglutir o trauma de ver frustrada, via golpe judicial, a sua tentativa de conduzir o seu próprio destino!

Por vias transversas ele, do alto do palanque, de que nunca desceu, falou uma verdade e deu um “tiro no pé”. Senão vejamos. De acordo com a PNAD do IBGE, em 2003, apenas 48% da população brasileira tinha acesso a esgotamento sanitário. Dada a população de então, 91 milhões não tinham este serviço. Em 2008 o percentual daqueles que viviam em domicílios com esgoto ascendeu para 52,5%. Dada a população de 2008, algo como 90,3 milhões de brasileiros continuavam sem esgoto. Um resultado pífio.

Se considerarmos saneamento no sentido menos restrito em que se admitem como destino adequado de dejetos as fossas sépticas, em 2003 a população privada de esgoto e de fossas no Brasil era de 31%, ou 54,5 milhões de pessoas. Em 2008 o percentual regrediu para 27% (0,5% ao ano), o que deixou 51,3 milhões de brasileiros na M... Portanto, pouquíssimo, quase nada, foi feito nesta área, tendo em vista que apenas 3,2 milhões de brasileiros (457 mil por ano) foram incluídos neste serviço em sete anos de governo.

Apenas para efeito de comparação, o Maranhão na época em que os atuais parceiros do Presidente ainda lhes eram hostis, e dele recebiam hostilidades, em 2001, tinha 62% da sua população privada de local adequado para destinar dejetos humanos. Em 2008, graças aos esforços dos Governadores Zé Reinaldo (2002/2006) e Jackson Lago (2007/2008), e com o forte boicote do seu Governo, orientado pelos novos parceiros, este percentual havia declinado para 38%. Ou seja, uma queda de expressivos 24% (3,4% ao ano) da população sem local adequado para destinar dejetos humanos.

Talvez o Presidente pudesse ter um lampejo de humildade e convocasse o ex-governador José Reinaldo e o Governador legítimo, Jackson Lago, para uma conversa franca par ouvir deles como foi possível conseguir avanços sociais como aqueles contra tudo e contra todos. Fica a humilde sugestão.

=================

José Lemos é Engenheiro Agrônomo. Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Sítio Eletrônico: www.lemos.pro.br

Nenhum comentário: