terça-feira, 4 de janeiro de 2011

NUVENS PESADAS NO HORIZONTE

É começo de ano e, como tal, fica irresistível não fazer prognósticos, como todo mundo. Então abaixo segue o meu, após análise dos acontecimentos políticos recentes no Maranhão:
 
Os Sarneys, sob o comando dedicado do senador José Sarney, e patrocínio ostensivo do presidente Lula, além, naturalmente, da força e dos recursos do governo, conseguiram juntar em torno de si um grupo numeroso de políticos nas eleições. Pouco tempo decorrido, e após a escolha da equipe de governo e a posse, o que domina o ambiente político é o descontentamento e a divisão irremediável do grupo oligárquico.

Nesse curto período de tempo, da reeleição até a posse, a governadora Roseana e o seu marido Jorge Murad não compreenderam bem a real situação e, por falta de talento e habilidade política, precipitaram a própria sucessão. Isto se deu quando ostensivamente interromperam no meio o mandato do prefeito Luís Fernando, que governava a terceira cidade do Maranhão. Assim mesmo sem a menor sutileza. Em seguida, encarregaram-no da Chefia da Casa Civil do governo, com poderes nominais de “primeiro ministro”, poderes de um super-secretário de estado. Luís Fernando entrou assim, de cabeça, em um nível político que nunca tinha chegado nem perto, onde não há juízes e impera o “vale tudo”. Não vai ser fácil.

Por outro lado, Roseana se sentia tão desamparada e sem legitimidade quando assumiu o governo por decisão judicial, que andou cometendo erros em serie. O maior deles foi entregar a Ricardo Murad a secretaria de Saúde. E ele rapidamente expandiu o seu poderio a todo o governo,  inventando fantasias sem consistência, como o programa de construção de 72 hospitais, transferências fundo a fundo com prefeitos amigos (uma tremenda ilegalidade que vai dar muito problemas para a governadora, pois este constitui um dos pontos da ação de RCED -Recurso Contra Expedição de Diploma que já foi protocolado contra ela) e assim, Murad logo se tornou o “cara”, posando de governador. Até helicóptero adquiriu para seu deslocamento, como um símbolo de poder.

Pois bem, quando veio o “novo” governo de Roseana, Ricardo ficou preterido, já que seria impossível a convivência de dois poderosos - ele e o irmão Jorge Murad. E como todos sabiam que iria acontecer, ela bateu o martelo em favor do marido.

Ricardo, evidentemente, ficou muito ressentido e com muitas ideias na cabeça. Roseana o queria fora do governo e, imprevidente, já que não podia deixá-lo sem nada de importante, fez a pior escolha possível: entregou-lhe a Assembleia!

Deu um canhão para Ricardo, manobra que vai se arrepender amargamente. Ele rapidamente, com a ajuda sintomática do deputado  Milhomem - que arregimentou as assinaturas necessárias - tratou de garantir logo um mandato presumido de 4 anos como presidente da Assembleia Legislativa. Roseana não teve coragem de interferir.

E a história continua. Ricardo Murad rapidamente passou a testar até aonde poderia chegar, quais seriam os limites em que podia peitar Roseana sem brigar (pois ainda não é hora da briga que virá por aí depois) e fez assim:

 Primeiro colocou no Twitter que era contra a exclusividade acordada com o Banco do Brasil para os empréstimos consignados. E aplaudiu de público o despacho do juiz que anulou a decisão de Roseana, mesmo sabendo que foi a instituição que pagou a folha de dezembro, pois o governo não tinha dinheiro, salvando Roseana de um vexame colossal.

Em seguida peitou os Procuradores do Estado, avisando que ia anular um benefício duramente conquistado por eles, qual seja o de poderem também exercer advocacia. Como, aliás, existe em muitos estados. Ricardo sabe muito bem que entrar em litígio violento com os procuradores do estado é danoso para o governo. Roseana, pelo menos de público, calou. E agora desafia diretamente a governadora em sua decisão de apoiar Junior Marreca, prefeito de Itapecuru para presidente da Famem, a associação de prefeitos do Maranhão. Roseana estranhamente não o enquadrou e vai travar com ele uma luta perigosa.
Agora seguindo com os comentários, todos presumiam que o candidato da oligarquia às próximas eleições para o governo do estado fosse Edison Lobão, senador eleito que, até pela idade, deverá ter a sua chance de ouro para voltar ao governo daqui a quatro anos. Seria o fato mais natural, pois ele teve muito mais votos do que a própria Roseana e sempre teve bom transito na classe política, entre deputados e prefeitos. Mas não é amigo do peito de Jorge...

Há desconfianças de que os dois, Lobão e Ricardo, já se encontraram e se entenderam. Ambos estão muito ressentidos. Lobão, claro, segue e seguirá fiel ao seu estilo sem briga e sem criar problemas. O enfrentamento ficará com Ricardo, que naturalmente também é fiel ao seu estilo. E que terá a Assembleia nas mãos...

Com efeito, foi uma temeridade anunciar oficialmente a pretensão de uma candidatura oficial de Luís Fernando ao governo, pois até as pedras do Convento das Mercês sabem que Ricardo não lhe dará tréguas... Estão até falando (um exagero, sem dúvidas) em possíveis CPIs...

Vai ser interessante ver a luta que será travada: Roseana, Jorge e Luís Fernando, todos de cintura dura para o jogo e do outro lado, Lobão e Ricardo com toda a experiência em situações de risco como essa.

E tudo isso só vai acontecer porque é fato que pelo menos uma leitura a classe política já fez: Nunca mais um Sarney será governador e coincidentemente Sarney só tem mais quatro anos de mandato e seguramente não arriscará ser derrotado em busca de novo mandato no final da carreira.

Em suma, a expectativa de poder que move a classe política para um lado ou para o outro desta vez não está com a família Sarney.

E é aí que entrará a oposição!  

Um comentário:

Anônimo disse...

O Senador José Sarney jamais poderia concorrer ao cargo de Presidente do Senado Federal, pois existe uma norma constitucional federal. A nível federal, tanto a Câmara dos Deputados, assim como, o Senado Federal, não é permitido a reeleição. A reeleição é permitida apenas nas Câmaras e Assembléias estaduais. Este é o entendimento.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006)
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006)

REGIMENTO INTERNO DO SENADO FEDERAL
Art. 59. Os membros da Mesa serão eleitos para mandato de dois anos, vedada a reeleição para o período imediatamente subseqüente (Const., art. 57, § 4o).