segunda-feira, 23 de junho de 2008

Impressão confirmada

Quando inaugurei, no final do meu mandato, a indústria de beneficiamento de grãos da ABC Inco em Porto Franco, o presidente da empresa falou em seu discurso que quando esteve pela primeira vez comigo, em entrevista formal, apresentando o projeto e anunciando a sua vinda para o Maranhão, chegou para o encontro com muito receio do que podia ouvir de mim.

Ele é um homem de mais de 80 anos, realizado, vitorioso, que, como tantos outros empreendedores no Brasil, começou de baixo, sozinho e a custa de muito trabalho construiu um império industrial. Homens assim dizem o que pensam, não tem rabo preso nem obedecem a conveniências políticas.

Continuando o discurso, ele desabridamente disse que outros empresários o haviam alertado que no Maranhão ele seria assaltado pelos governantes que impunham sociedade no empreendimento para aprová-lo. E sem entrar com nenhum capital. Disse que ficou aliviado quando ouviu a resposta à pergunta que me fez sobre o que eu esperava da empresa dele e eu lhe respondi que desejava que ganhasse muito dinheiro no Maranhão e trouxesse muitos empregos.

São muito conhecidos no meio empresarial os casos da Bunge e do Shopping São Luís, além de muitos outros semelhantes a esses. E isso fez uma imagem que contribuiu para o atraso do Maranhão, pois nos apresentava como um estado dominado pela oligarquia, tal como uma República Dominicana dos tempos de Trujillo. Quem iria quere vir para cá?

Hoje, o próprio Senador José Sarney, poderoso chefe da oligarquia, é empresário, dono do Shopping Jaracaty, como, aliás, está na sua declaração de bens no Tribunal Regional Eleitoral do Amapá.

Enfim, esse e outros casos, todos sabem no Maranhão. Mas agora ficou comprovado em pesquisa realizada entre empresários e formadores de opinião no meio empresarial do sul e sudeste do país sobre intenção de investimento no estado e grau de conhecimento de suas potencialidades. A família Sarney é o principal inibidor que acaba por impedir a vinda de grandes grupos que tem vontade de vir. E, segundo o que dizem, já estudaram nossas potencialidades, mas não se decidem a vir com medo de interferências políticas.

Vou transcrever trechos da pesquisa, literalmente. Com relação ao estado do Maranhão:

- É muito forte a impressão de que “o Maranhão é um dos estados politicamente mais atrasados do Brasil.”

-A maioria não tem conhecimento sobre seus índices de crescimento.

- Não há consenso a respeito dos eventuais benefícios do governo Lula para a economia do estado.

Com relação a Jackson Lago:

-68% acreditam que sua vitória tenha “abalado fortemente a liderança da família Sarney no Maranhão”

-A sua preocupação em modernizar o estado é percebida, apesar de 38% não responderem.

- 58% desconhecem ações de seu governo no sentido de facilitar investimentos, mas 38% reconhecem tais ações.

Sobre influência das elites:

- “Porque mudou o poder no Estado e a família Sarney fez muito pouco pelo estado. Estamos em um país democrático, e só de ter mudado o poder, já é positivo.”

- “Só o fato do poder mudar de mãos já é uma mudança positiva.”

- “Acho que a gente tem que ser otimista. Acho que, com a mudança, a possibilidade é pequena, eu diria, se couber, moderadamente otimista. Pode colocar positiva. Porque o Jackson Lago é um político mais comprometido com uma administração mais moderna, mais eficiente, mais democrática”

Disseram empresários do Agronegócio, da Indústria e do Mercado de Capitais. Alguns textuais dos entrevistados explicitam melhor essa atitude crítica.

“(...) Porque o Estado é dirigido como se fosse uma capitania hereditária pela família Sarney e seus aliados. O Estado do Maranhão vem sendo dirigido pela família Sarney há não sei quantos anos, por essa elite, e é um dos estados mais atrasados do Brasil, em termos de crescimento econômico. Então, a direção da família Sarney lá é absolutamente desastrosa para o estado.”

“(...) Influem negativamente em vários aspectos, mas também não quero dizer, o que seria uma opção míope, que nada funciona por causa disso. Mas a oligarquia, esse clã, a manipulação de dados na época da eleição, isso não é saudável. Isso cria vícios, rotinas que são previsíveis, o que também não é bom. O jogo democrático não é respeitado. Eu sou suspeito de falar do Sr. Sarney, ele é uma presença nefasta para a política do Amapá e do Maranhão. É um velho dinossauro que já teve sua época, já teve o período de fazer política que no Brasil era assim. Acho que o Brasil mudou e o Sarney não mudou.” (Jornalista formador de opinião no meio empresarial).

“A primeira coisa que vem à cabeça é a família Sarney. É um estado com bastante desigualdade social, é um estado de poder de coronelismo político e situação social complicada.”

“ Não muito boa. Não são boas as imagens. São imagens de pobreza, atraso, curral político, um domínio de uma família, de um tipo meio superado hoje em dia. Um lugar prejudicado por essas coisas”, diz Dirigente de Entidade de Classe.

Entre as conclusões da pesquisa está a de que empresários não pretende vir para cá. “Quem não pretende investir demonstra receio da eventual interferência da família Sarney”. E “comentam o fato de empreendimentos econômicos estarem sujeitos a favorecimento político”.

Como o Sarney foi para o Amapá, mas mantém todo o seu foco no Maranhão, estado de economia maior e com mais possibilidades empresariais, não há outro jeito. O processo de tirar os Sarney do comando político do estado tem que continuar para o Maranhão poder se ombrear com as outras unidadades federadas e atrair livremente capitais e empreendedores para desenvolver o estado. A pesquisa mostra claramente isso. E, essa imagem, e o medo da interferência da família nos negócios privados irá mantê-los longe do Maranhão enquanto essa ameaça estiver presente.

E infelizmente isso ainda se deve por causa do presidente Lula e a força que dá ao Sarney, deixando-o manipular a vontade as coisas de interesse do estado.

Mas o casco do navio que parecia tão forte começa a fazer água.

A pseudo-imprensa miranteana, que inventa notícias e entrevistas, publica mais uma inverdade. Eu não compareci a oitiva das testemunhas do Vice-Governador Porto, porque, em chamada telefônica, pautada na gentileza e cordialidade, fui dispensado de comparecer por seu advogado. Chega de mentiras, pessoal.

2 comentários:

GUSTAVO LOPES disse...

Aprecio sua visão e preocupação com o nosso Maranhão, ao mesmo tempo que estou deveras preocupado com as atitudes covardes do nosso atual gestor, por onde andas? O estado hoje paralisado com duas Greves, e a sucessão municipal pegando fogo o “bom” velhinho some.
Avaliando a decisão do governo lançar aqui em Pinheiro um desconhecido do RJ para disputar com o grupo de Filuca, é querer devolver o Maranhão por Sarney.

Ricardo Santos disse...

Ricardo Santos:


Antes de começar escrever no meu próprio blog, era figura tarimbada nos fóruns de debates pela internet. Lembro-me que certa vez, indaguei para um blogueiro do Imirante, sobre a distribuição das terras do Maranhão pelo então governador José Sarney, que favoreceU apenas os grandes grupos que “trariam para cá oportunidades”, mas ele nada falou, senão repetir o mesmo lenga-lenga sarneisista: “Sarney fez o porto, e as estradas...” O tempo passou e cá estamos na pobreza, e o pior de tudo, nada de industrias.Imagino, que se ao menos isso não tivessem feito, após 40 anos de mandonísmos como estaria a vergonhosa Haiti brasileira?

(E a nossa vizinha Bahia, continua bela e próspera)