terça-feira, 14 de outubro de 2008

Não tem jeito mesmo

A jornalista Eliane Cantanhêde da Folha de São Paulo, fazenda análise da conjuntura política pós-eleição, escreveu em artigo: “Novo mundo, novo Brasil. Enquanto o capitalismo se contorce com a quebradeira de bancos e a queda das Bolsas, no Brasil, quem está na berlinda é o velho caciquismo político.


Na Bahia, ACM Neto é deputado federal em primeiro mandato e certamente promissor, mas ser excluído do segundo turno em Salvador foi um aviso: ele vai precisar comer muito feijão antes de assumir uma posição de liderança no Estado. O nome e a força do carlismo, sozinhos, já não dão para o gasto.


ACM, o avô, morto em 2007, era o "rei da Bahia". E não se fazem mais reis como antigamente, nem súditos. O eleitorado está mais disputado e diversificado, a correlação de forças é heterogênea.


No Maranhão, a família Sarney não apenas sofreu um revés, como andou na contramão do que ocorreu com o PMDB no resto do país.
Sarney filiou-se ao partido para ser vice de Tancredo e foi ficando, ficando... e ficou. Agora, mais de 20 anos depois, também Roseana saiu do ex-PFL para ficar no PMDB e mais próxima de Lula.


Mas enquanto o partido é campeão em prefeituras em 14 Estados e avançou no Acre, no Amazonas, na Bahia, em Goiás, em Mato Grosso do Sul, no Pará, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, no Maranhão ele encolheu. E encolheu bem. O reinado dos Sarney dura meio século, mas não se fazem mais reis...”

Na mesma Folha de São Paulo, uma matéria, da Sucursal de Brasília, faz uma análise dos resultados do PMDB pelo país e diz:

“O PMDB saiu das urnas no último domingo como campeão no número de prefeitos eleitos e dono da maior votação nominal no país. Isso, porém, não livrou o partido de derrotas significativas.


A principal delas foi no Maranhão, Estado onde o clã da família Sarney disputa a hegemonia com o PDT, do governador Jackson Lago. Em 2004, os peemedebistas saíram das urnas com 41 prefeituras, contra 10 do PDT.


O troca-troca partidário fez o PMDB crescer - o partido está em 45 prefeituras hoje, de acordo com dados da Confederação Nacional de Municípios. Mas, no domingo, o jogo no Estado virou. O PDT chegou ao poder em 65 municípios. O PMDB só ganhou em 16, ou seja, perdeu 29 prefeituras".

Isso sem fazer uma análise qualitativa dos resultados eleitorais do Maranhão. Basta citar os resultados do PMDB em São Luís e Imperatriz. Na capital, o candidato do partido teve 1,95% dos votos e a soma de todos os candidatos do grupo Sarney, somados os quatro, foi de 7,82% dos votos totais. Em Imperatriz o prefeito é do PMDB e disputava a reeleição no cargo, o que lhe dava uma imensa vantagem. Nestas eleições aconteceram os maiores índices de reeleição de toda a história brasileira. 67% dos prefeitos conseguiram permanecer no cargo. Contra 58% de reeleitos em 2000 e 2004. E o PMDB foi o partido com o maior número de prefeitos reeleitos. Mas apoiado por Sarney, mal avaliado, perdeu por mais de 17.000 votos de diferença. Foi mais uma entre as 29 prefeituras perdidas pelo partido dos Sarney. Só venceram em 16.

Se continuar assim o PMDB vai sumir no Maranhão. O que é um paradoxo, pois cresce em todo o país, e em vez de diminuir de tamanho como acontece no Maranhão, no restante do Brasil ele é cada vez mais forte. Chega a 1200 prefeituras. Para quem tinha 45 prefeitos em 2004 e agora só elegeu 16 é uma catástrofe. É caso de rejeição explicita dos eleitores. E qual é a causa? Devem estar se perguntando as lideranças nacionais.

Não era assim antes de Roseana Sarney se mudar para lá de vez. Ela viu no partido a porta para obter um cargo no governo Lula. É verdade que não foi o ministério que ela tanto queria e sonhava. Recebeu um cargo que nem existia, inventado ali na hora, “Líder do Governo no Congresso” que, nessa legislatura, raramente se reúne. Não lidera nada, mas pelo menos é chamada para reuniões das lideranças do governo. Serve de decoração, pois raramente abre a boca. A grande líder endeusada pelo seu sistema de mídia, depois da derrota de 2006, ocupou definitivamente o seu verdadeiro espaço na política maranhense. Aonde apóia candidaturas é um “Deus nos acuda”. Todo mundo foge dela como o “diabo da cruz” porque sabem que esse apoio é meio caminho para a derrota. Aqueles que ignoraram isso foram rechaçados pelo povo. Com raras exceções, gente que já tinha prestígio próprio. É preciso ser muito forte para resistir.

Viram como a principal testemunha de acusação no processo que Sarney pretende derrubar Jackson, em depoimento à Polícia Federal, declarou que foi chantageada e ameaçada para dar o depoimento? E quem a ameaçou foram os advogados e os conhecidos “faz tudo” do senador Sarney? Eu sempre avisei que o processo era falso. Um engodo!

Agora precisam inventar outra lorota para manter a expectativa de poder que ainda adia a debandada política que cada vez se aproxima mais.

Nenhum comentário: