terça-feira, 25 de novembro de 2008

O País está Bem?

Li na Folha de São Paulo uma notícia que mostra bem o enorme desequilíbrio das contas do governo federal, que tem se esforçado para vender ao povo brasileiro que o país está equilibrado e, na verdade, está atolado até o pescoço em grandes problemas. Enquanto o mundo acelerava com a boa fase da economia americana, que puxava a China, a Índia, o Brasil, a Rússia, a Europa e parte da Ásia, e cada um desses potencializava entre si grandes oportunidades de negócios, tudo ia a mil maravilhas.

O consumo mundial exacerbado aumentava dia a dia e o dinheiro corria a rodo pelo mundo globalizado. O preço do petróleo subia desenfreado, fazendo fortunas da noite para o dia. O Brasil, em descompasso com as outras economias emergentes, praticava os juros mais altos do mundo, utilizados pelo Banco Central do país como única forma disponível para controlar a inflação.

As autoridades fizeram vista grossa do conselho de quase a unanimidade dos economistas, que repetiam ser ideal o momento para que o país se livrasse desses problemas e entrasse finalmente em um ciclo de crescimento virtuoso. Mas, para isso, o governo deveria cortar gastos com pessoal e custeio da máquina, que não paravam de crescer e assim iam diminuir suas necessidades de ir ao mercado de capitais pegar dinheiro a juros proibitivos para financiar o seu ímpeto gastador que comprometia o futuro do país.

Como o governo dava mostras de não acreditar em nada disso e preferia continuar o caminho que a prosperidade mundial tornava fácil e tentadora, pois parecia que nunca iria acabar, as coisas chegaram ao ponto em que estão. Para que fazer sacrifícios?

Nesta semana o jornal Folha de São Paulo publicou a notícia que transcrevo: “Os gastos do governo com pagamento de juros do endividamento público, entre 2000 e 2007, somaram R$ 1,268 trilhão, o que representa 8,5 vezes o dinheiro investido em educação no mesmo período, que foi de R$ 149,9 bilhões.

A informação consta de estudo divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)”.

A notícia, porém, não se encerra aí e continua:

“O gasto com juros também supera de longe o que foi empregado em saúde: R$ 310,9 bilhões.

Segundo nota distribuída pelo Ipea, além de o gasto com juros ser "improdutivo, pois não gera emprego e tampouco contribui para ampliar o rendimento dos trabalhadores", também colabora para a concentração de renda.

Para o mesmo período, segundo o Ipea, o somatório dos gastos da União com saúde, educação e investimento correspondeu a somente 43,8% do total das despesas com juros”. Diz também : “Os impostos crescem sete vezes mais que os salários, diz IPEA”.

Essa é a causa do atraso relativo que o Brasil vem experimentando em relação aos outros países emergentes. Estes se desenvolvem tendo por base a grande melhoria do seu sistema educacional, investindo maciçamente em saúde e tecnologia, além de melhorar rapidamente sua infra-estrutura física, ou seja, estradas, portos, aeroportos e redes ferroviárias. Aumentam assim a produtividade e baixam os custos na produção, maximizando fortemente a competitividade dos seus produtos.

O Brasil crescia impulsionado pelas exportações e pela grande competitividade do agronegócio, que estavam tão rentáveis que cresciam, a despeito dos custos internos altos do transporte, dos portos e da péssima qualidade do sistema de saúde e do sistema educacional no país. E nada era feito para melhorar esse quadro. Para pagar as contas com os banqueiros, os impostos no Brasil não param de crescer penalizando principalmente assalariados e empresas privadas que sustentam o governo, cada vez mais perdulário.

Nada disso acontece na China e na Índia, que, inclusive, se lançam na corrida espacial, mostrando a força da sua tecnologia. Enquanto isso, o Brasil não consegue fazer funcionar um pequeno foguete em sucessivos lançamentos.

Esse é o país que a propaganda oficial nos faz crer que é um país em grande crescimento. Como, se as contas são uma tragédia e a infra-estrutura a cada dia que passa está pior? Se os exames do ENEM mostram que estamos patinando e fracassando em prover um ensino público de qualidade e de interesse para os alunos? Se aumenta a desigualdade entre pessoas e se aprofunda o fosso social e econômico entre as regiões brasileiras, e o governo não liga para o fato e não toma a iniciativa de preparar um programa para enfrentar o problema? E como explicar que, por motivos políticos, menores, o presidente da Republica não vem ao Maranhão ajudar a resolver seus problemas? Que compromisso é esse?

Temos que melhorar nossa agenda, encontrar soluções com urgência. A agenda atual não leva em conta os interesses básicos do país e não deixará nenhuma solução para resolvê-los. Em que pesem alguns avanços pontuais...

O governo brasileiro não tem planejamento global e segue sujeito aos humores do mercado de capitais.

Nada disso é bom.

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