sexta-feira, 6 de março de 2009

Merece o Oscar de efeitos especiais

O senador José Sarney vem fazendo o que pode para sair do que ele chamou de corredor polonês (entrevista na Globo News), referindo-se à repercussão negativa que causou a sua eleição para presidente do Senado. A sua eleição, da maneira como foi obtida, apoiada pela turma mais barra pesada do PMDB, serviu para que o respeito que ainda mantinha em Brasília, por ter sido presidente do Brasil, e pela imagem que se esforçou muito para construir sofresse brutal e definitiva erosão. Hoje a sua imagem pública no país se aproximou muito da sua imagem verdadeira, muito conhecida entre nós. E isso é patente nas inúmeras e variadas matérias publicadas sobre ele, inclusive, por publicações internacionais.

Talvez só O Globo e a TV de mesmo nome não tenham feito matéria crítica, para ser ameno com o ex-presidente, já que são associados. Sua vida e suas práticas, inclusive a de seus familiares, porém, estão expostas em matérias nos demais grandes meios de comunicação. E todas elas mostram o profundo envolvimento de Sarney com as piores práticas do partido porque, sem ele, que faz o que quer com Lula, jamais teriam ido tão longe. Assim, Sarney é o maior responsável pelas perversões do PMDB.

Na verdade, esse grupo não se preocupava com a opinião pública, já que mesmo sendo o maior partido do Brasil jamais se interessou em ter candidatos a presidente. Com o poder nas mãos, maior número de deputados e senadores e a certeza de impunidade alicerçados em sólidas relações em Brasília e não economizando ameaças e retaliações a quem tenta se opor, estão cada vez mais despudorados, pois, como dominaram Lula, acham que podem fazer o mesmo com quem estiver no exercício da Presidência. Todos precisariam deles para governar. Consideram-se intocáveis. Lula os protegeu demais e ajudou a criar um monstro que não pensa no bem do Brasil; só se interessa pelo poder, por cargos e principalmente em defender interesses que já souberam esconder melhor da sociedade. Nada temem a não ser a opinião pública nacional quando são focados pessoalmente. A revista Caros Amigos diz que Lula governa, mas quem manda é Sarney.

A partir da matéria da revista inglesa, The Economist, antes tão elogiada por Sarney, que mostrou ao mundo porque o Brasil não se livra do atraso, comparando o senador aos dinossauros e reconhecendo nele práticas só existentes no semi-feudalismo, estava desatado um nó que ao se romper ensejou uma torrente de matérias negativas que velhos favores do passado ainda seguravam na imprensa brasileira.

Em seguida e, não menos importante, veio a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos nas Páginas Amarelas da Veja. De longos tempos foi a mais importante entrevista dada por um político sobre a realidade brasileira dominada pela corrupção, mediocridade e o poder destruidor do maior partido brasileiro. Em seguida publicaram matérias muito pesadas a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo, a revista Caros Amigos, etc. e um grande número de renomados articulistas engrossou o coro contra Sarney, formando assim o corredor polonês que o incomodou muito. O Jornal Pequeno não estava mais só.

Sarney, sem defesa, apenas dizia que essas matérias foram motivadas financeiramente pelos seus adversários do Maranhão. Ridículo que demonstra a falta absoluta de argumentos para se defender tal a contundência das matérias publicadas, sempre ancoradas nos fatos de amplo domínio público.

O escândalo da vez é o do Fundo de Pensão dos empregados de Furnas e da Eletronuclear chamado de Real Grandeza. Esse Fundo já havia quebrado, poucos anos atrás, por gerência fraudulenta. Chegaram ao desplante de aplicar (e perder) mais de R$ 160 milhões no notório Banco Santos liquidado pelo Banco Central. Banco de Edemar Cid Ferreira, amigo, padrinho de casamento e hospedeiro de Roseana Sarney, e grande amigo de Sarney, correntista do banco.

O PMDB partiu com tudo para botar para fora os administradores do Real Grandeza que recuperaram o Fundo, tornando-o lucrativo. Seus depósitos de R$ 6,3 bilhões eram mais que tentadores para o PMDB. Foram para cima, com despudor nunca visto, mas não contavam com a firme reação dos empregados, que, na verdade, são os donos do dinheiro. Vale pensar porque políticos brigam tão avidamente por controlar um fundo previdenciário que só interessa, em tese, aos seus cotistas? Será que alguém sabe a resposta?

O ministro Lobão, também do PMDB, sempre tão discreto e precavido, entrou em uma fria ao se expor atacando a diretoria do Fundo preparando o terreno para a troca de seus administradores. Mas teve que recuar, muito constrangido, com a tardia ordem de Lula para não mexer nos diretores pelo menos por enquanto.

Isso lhe valeu um editorial do Estado de São Paulo pedindo que ele se demitisse. Eis uma parte do editorial do influente jornal:

"Fossem outros os tempos e os homens, o senador Edison Lobão (PMDB) teria se demitido do cargo de ministro de Minas e Energia no instante mesmo em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizou expressamente manobra - que, segundo informou o presidente de Furnas, Carlos Nadalutti, era orientada pelo ministro - para destituir o presidente e o diretor-financeiro da Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários de Furnas e da Eletronuclear...

(...)Antes de ir ao Palácio do Planalto, o ministro Lobão, em entrevista ao jornal O Globo, afirmou que os diretores do fundo haviam alterado os estatutos para ampliar seus mandatos por um ano e concluiu com acusações para lá de pesadas: "Isso é uma bandidagem completa! (...) Esse pessoal está revoltado porque não quer perder a boca. O que eles querem é fazer uma grande safadeza."...

(...)O ministro Edison Lobão obteve do presidente Lula, como prêmio de consolação, autorização para que a Controladoria-Geral da União faça uma auditoria nas contas da Fundação Real Grandeza. Tudo indica que a atual diretoria sairá com um atestado de boa conduta...

(...)Melhor seria auditar o comportamento da ala do PMDB que quer controlar os R$ 6,3 bilhões do fundo. Mas sobre essa gente o senador Jarbas Vasconcelos já deu seu veredicto, na já famosa entrevista à Veja."

E a revista Veja continua dando sequência às palavras do senador Jarbas Vasconcelos. De maneira muito pesada.

Um tresloucado blogueiro miranteano, que me viu assistindo ao filme 'Operação Valkíria' no cinema, ao tentar me atacar, acaba comparando Sarney a Hitler! Menos, vai com calma, Sarney bem que tentou, mas não conseguiu...

Haja corredor polonês!

Um comentário:

Anônimo disse...

Governador José Reinaldo,

Vi na Veja da semana passada um funcionário da Fundação Real Grandeza que carregava uma placa: "O Brasil não é o Maranhão", quando protestava contra o ministro Lobão.
Confesso que a imagem emblemática me fez mal. Como assim, o Brasil não é o Maranhão?
Aqui pode tudo? Mandatos são tomados pelos semi-deuses do TSE, famílias agem como se aqui fosse um grande feudo onde os amigos do rei sempre podem tudo e os vassalos assistem a tudo, calados, oprimidos, espoliados...
Já vejo até a ressurreição da Maria Antonieta do Bumba-meu-boi gritar que o povo se não tem pão, que coma farinha d´água.
Um abraço e parabéns pelo blogue,
Kátia Persovisan