quarta-feira, 27 de maio de 2009

Drama e Insensibilidade

A total insensibilidade pessoal de Roseana Sarney e o enorme desinteresse e inoperância desse governo biônico que tenta se aboletar na gestão estadual não era mais para causar espécie ou a ninguém impressionar. O tempo passa e nada se vê, nenhum ato em favor dos desabrigados e, também, nada é feito para minorar o tremendo infortúnio que se abate sobre cada um dos desses maranhenses.

Isso sem contar o fato de que o estado possui o maior número de desabrigados (em torno de quase 130 mil). Nem isso comove a governadora e a faz trabalhar. Fica enclausurada em seu palácio, recebendo prefeitos espoliados por ela mesma, com dinheiro retirado das contas de suas gestões, e posando para fotografias, buscando afirmação política. Por meio dessa postura midiática, obrigatória em seus jornais, tenta enganar a população, tentando passar a imagem de que está trabalhando. Pura cosmética. Resta saber em benefício de quem é o suposto trabalho... Dos desabrigados é que não é.

É uma completa imoralidade. As coberturas jornalísticas tentam feitas por suas hostes tentam mascarar o que está acontecendo nas áreas alagadas. Tentam incutir que o pior já passou e não divulgam uma única entrevista com os vitimados. Mas a imprensa nacional, não controlada por eles, vem colocando relatos cada vez mais dramáticos do que de fato vem acontecendo.

A Folha de São Paulo, de domingo traz uma descrição terrível do que a falta de apoio traz para a população. O quadro é medieval, típico da idade das trevas, época em que Sarney deveria se sentir muito bem, naturalmente. Um rei espoliando os súditos. Vamos à matéria:

“O chão de Trizidela do Vale, município às margens do rio Mearim, no centro geográfico do Estado do Maranhão, está coberto por uma lama pegajosa, quase preta, com um cheiro forte de alimento estragado. Gruda no pé.


A maior parte da cidade ainda está sob as águas que, no último dia 4, depois de uma espécie de dilúvio, elevou em seis metros o nível do rio. Fossas sanitárias, lixo e fezes misturaram-se às chuvaradas e ao leito do rio, formando um caldo rico em matéria orgânica. Os 15 mil flagelados (de uma população total de 18.500 habitantes) passam a maior parte do dia mergulhados nisso.

Doentes com um catálogo de doenças dermatológicas, como furunculose, ptiríase, micoses, escabiose, pruridos já se contam aos milhares. Segundo a secretária de Saúde de Trizidela, Ediuene Costa Souza, a situação deve piorar. "Conforme os dias vão passando, a lama apodrece e essa tragédia sanitária aumenta o risco de epidemias", disse ela.


A enchente gerou um paradoxo. Apesar do excesso de água, não há água para beber. Já não havia água encanada antes, mas poços artesianos davam conta do abastecimento -agora, a água da maioria deles está contaminada. A prefeitura contratou sete carros-pipa para fornecer água para os moradores. Mas os caminhões não conseguem passar -em muitos lugares, só de barco mesmo.


Os moradores banham-se na água imunda e bebem água de chuva, coletada dos telhados. Cozinham com uma mistura das duas - "Vai ferver mesmo, não é?", diz a faxineira Francisca Silva Nel, 19, mãe da menina Natali Nel da Silva, 2, com quadro de otite e diarreia. A cidade já conta 608 atendimentos por otite e 1.500 por diarreia.

Mãe e filha são parte de 58 famílias que estão alojadas em um parque de vaquejadas ao qual agora só se chega de barco. Moravam perto dali, na rua do Campo, que encheu. Dividem o espaço das cocheiras com cavalos de até R$ 40 mil (são usados para cercar os bois, nas corridas). Mas também com porcos e porquinhos da criação local e até com gaiolas de galos de briga. Uma família mora no banheiro masculino do parque.

A aflição dos moradores -principalmente os mais velhos- é visível pela movimentação onipresente dos rodos e vassouras e detergentes e desinfetantes. Com o nível das águas baixando (na sexta-feira, completavam-se três dias de estiagem), mulheres e homens entram nas casas para tentar limpá-las da lama e secá-las -retomá-las das águas.


O zelador Manuel Souza de Oliveira, 27, fez isso. Deixou a casa cheirosa, mas ainda encharcada.O trabalho de limpeza do zelador custou-lhe caro. Uma hora depois da faxina, ele caiu com uma febre de 40 graus, dor na cabeça e nos olhos. Ficou quatro dias internado.
A diretora-adjunta do Hospital e Maternidade Municipal João Alberto, de Trizidela do Vale, Laydianne Castro, 26, é ela mesma uma "alagada" - assim se chamam os desabrigados pela enchente. A mãe de Laydianne é uma das pessoas que necessitaram de socorro médico. Teve uma intoxicação grave quando voltou a sua casa para limpá-la da lama negra que invadiu todos os cômodos.


Mas Laydianne não tem tempo para ficar chateada com esses problemas. Na sexta-feira, ela ajudava a organizar o enterro de um colega de hospital, providenciava o atendimento de uma gestante que derrapou no lodo e bateu a cabeça no chão, dava assistência a um homem que quebrou o nariz ao tropeçar no asfalto esburacado, providenciava socorro aos oito casos de pneumonia e ao primeiro caso de tuberculose surgidos da enchente, e cuidava para que os muitos pacientes com diarréia estivessem bem hidratados. Uma correria.


Até a sexta-feira, as autoridades de saúde contabilizavam cinco mortos. Duas pessoas afogaram-se depois que a canoa que as transportava virou. Um homem foi eletrocutado quando as águas atingiram a fiação. Um apareceu morto boiando no rio e outro foi encontrado sem vida em casa. Não se sabe a causa da morte dos outros dois.


Abaixo, o relato de Laydianne sobre o atendimento ao colega que morreu:


"Evandro Costa e Silva, 52, chegou às 6h30, de bicicleta ao hospital. Queixava-se de dores. Estava com os rins travados. Os médicos de pronto perceberam que estavam diante de um quadro de infarto. Evandro necessitava de atendimento cardiológico urgente.


Pusemos nosso colega em uma maca com oxigênio, e lá fomos, de ambulância, na direção da saída da cidade. Aqui não temos condições de atender a um caso com esta gravidade. O único caminho para sair da cidade estava obstruído pelas águas. A ambulância não podia prosseguir. A saída foi colocar Evandro, maca, oxigênio e tudo em cima de uma canoa.


Para que ela não virasse, vários homens seguiam com a água até o peito, escorando as laterais do barco.


Do outro lado do encharcado, outra ambulância já nos aguardava. Nosso colega foi com a mulher, um enfermeiro e um homem da Defesa Civil em direção a Caxias, município a mais de 170 km de Trizidela. Mas não aguentou. Teve três paradas cardíacas no caminho. Às 10h, foi declarado morto. Nem chegou ao hospital de Caxias. Voltou morto. O enterro vai sair daqui a pouco".

Essa matéria foi publicada no domingo último. Mostra o quadro dantesco e epidêmico que a insensibilidade, a preguiça e a inapetência do governo está criando.

Isso é só uma amostra. Pior é a situação de crianças, idosos (privados de seus remédios de uso controlado), gestantes e doentes. Quando vai dar para recuperar?

Roseana sempre surpreende. Ela está se superando, o que muitos achavam impossível!

Pobre Maranhão!


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