quarta-feira, 3 de junho de 2009

Vamos regulamentar o uso do Eu não sabia

Sugiro que no mínimo se regulamente o uso do "Eu não sabia" como forma de justificar a prática de crimes, o envolvimento direto ou secundário em maracutaias e o desrespeito flagrante à etica.

Do contrário, não escaparemos no futuro à condenação da História por conivência ou cumplicidade com tantos desmandos.

Sendo flexível, proponho que se aceite o "Eu não sabia" no caso de irregularidades cometidas por pessoas apenas subordinadas, parentes ou amigas de acusados.

Um ex-diretor do Senado, por exemplo, nega que soubesse das artes financeiras do seu filho.

É fato que empresas em nome do filho dele receberam propinas de banco responsável por empréstimos concedidos a servidores do Senado.

É fato também que o banco só podia conceder empréstimos porque havia sido autorizado pelo ex-diretor.

Mas, que diabos! Se o filho operava em silêncio como seu pai poderia saber o que ele fazia?

Não foi Lula que disse certa vez que os pais não podem responder pelo o que seus filhos fazem? Que na maioria das vezes eles nem sabem o que os filhos estão fazendo?

De volta ao Senado: foi o próprio pai que denunciou o filho à polícia. Hosanas para ele.

Por sua vez, o filho contou à polícia que o pai de fato ignorava suas atividades. Razoável - ou não?

Cabe também o recurso ao "Eu não sabia" em casos de crimes, digamos, coletivos.

No Direito privado, tudo o que a lei não proibe pode ser feito. No Direito Público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite.

Senadores e deputados doaram a terceiros passagens que receberam para voar entre Brasília e seus Estados. Todos procederam assim durante mais de uma década - os 81 senadores e os 513 deputados.

Jamais uma alma sequer os procurou para dizer: "Não pode. As passagens são pagas com dinheiro público. Vocês as recebem para que desempenhem seus mandatos a contento".

Se ninguém os alertou, se os costumes do Congresso haviam consagrado a farra das passagens, justifica-se o "Eu não sabia", sim. Agora que sabem não poderão mais se valer da desculpa.

Deve ser abolido em definitivo o recurso ao "Eu não sabia" quando alguém muda de função e continua a receber benefícios restritos à função anterior.

Três senadores se licenciaram do mandato para assumir ministérios. A nova função lhes garante moradia. No entanto... No entanto continuaram embolsando o auxílio-moradia pago pelo Senado.

Aí é um abuso - e dos grandes - socorrer-se do "Eu não sabia".

É claro que eles sabem que por ora não são senadores. Sabem que ocupam imóveis cedidos pelo governo. Portanto, sabiam que o auxílio-moradia pago pelo Senado era dispensável.

Não perderei meu tempo - nem o de vocês - com considerações sobre quem diz desconhecer o quanto ganha por mês.

Vocês sabem a quem me refiro - sim, ao senador que revelou todo o seu espanto ao descobrir que recebia mensalmente R$ 3.800,00 de auxílio-moradia. Ele é dono de uma casa em Brasília e como presidente do Senado tem direito a outra.

Foi nesse episódio que emporcalharam de vez o apelo ao "Eu não sabia".

O senador saberia se mensalmente lhe tomassem R$ 3.800,00 dos seus vencimentos. Mas não sabia que mensalmente lhe engordavam a conta com R$ 3.800,00.

Para cima de mim?

Me incluam fora do bando de trouxas dispostos a ouvir calados algo tão absurdo.

Há trouxas suficientes neste país. Não quero ser um deles e sugiro que vocês também não queiram.

O espaço de comentários desta nota acolherá sugestões de vocês para a regulamentação do uso do "Eu não sabia".

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2 comentários:

Carlos Oliveira disse...

Jose Reinaldo,sou seu leitor constante no jornal pequeno e no seu blog, eleitor fiel e cabo eleitoral voluntário de sua futura candidatura a senador. Mende-me pelo manos um "Olá" e um aperto de mão!!!!!!!!!

carlos oliveira disse...

Ah! para não esquecer: cesoliveira@bol.com.br. (carlos oliveira). Me mande um abraço por imail. ficaria muito feliz! Um abraço!