O mando da família Sarney no Maranhão chega ao fim depois de tantos
anos, trazendo como herança um estado pobre, atrasado e visto com desdém no
Brasil. Os problemas são imensos, seja na educação, na saúde, na segurança, no
meio ambiente, na renda, no desemprego, no analfabetismo, na pobreza, além do
grande endividamento e do déficit nas contas do governo. Sem projeto e sem rumo,
o governo de Roseana vai concedendo triste fim ao ciclo de poder de uma família
que o teve como poucas no Brasil e cujo chefe, o senador José Sarney, teve
todas as oportunidades possíveis de transformar o estado. Sim, porque deteve
imenso poder nas esferas estadual e federal, chegando, inclusive, à presidência
da República, mas, mesmo assim, nunca cuidou dos reais interesses do Maranhão e
do seu povo.
Com Roseana Sarney enclausurada no Palácio, vivendo uma crise política
sem precedentes, chegamos a um ponto em que seus porta-vozes hoje são
blogueiros do seu sistema de comunicação. Estes, no afã de prestar serviço, desrespeitam
a todos. Um dos mais atacados é Arnaldo Melo, presidente da Assembleia e futuro
governador, membro antigo do grupo e em cujas mãos estará o destino político de
Roseana Sarney. A origem de todos os problemas sob os quais estão mergulhados é
que não existe atualmente um ‘grupo Sarney’. Só existe a família Sarney e seus
interesses. Não há solidariedade de grupo.
José Sarney, do alto de sua experiência, sabe que Arnaldo será o
governador no período eleitoral, sabe que não há como evitar isso. Sabe ainda
que a candidatura de Roseana ao senado não existirá para valer, se estiver
contra ela o governador. Ela só será uma candidata competitiva se tiver o
governador jogando o peso do governo para elegê-la. Fora desse cenário, inexoravelmente
perderá a eleição. Mesmo assim, sem orientação, seguem desrespeitando e menosprezando
Arnaldo Melo sempre que podem. São muito incompetentes, felizmente.
Agora, perdidos, alimentam um ‘não-assunto’, como esse do ‘sai não-sai’
de Roseana do governo. Até os leões de pedra do palácio sabem que ela vai sair
no dia 4 de abril. Se não sair, Lobão tomará conta do espólio e isso Sarney não
admitirá.
Enquanto isso, o setor hoteleiro de São Luís está tomado pela
apreensão e pelo desânimo. Como o governo abdicou de governar, as notícias que
são divulgadas pela imprensa nacional são péssimas e a imagem do estado passou
a ser Pedrinhas, violência, poluição das praias, etc. O turista prefere ir para
outros locais onde se sinta mais protegido. Tudo se agrava, porque, a exemplo
do que houve recentemente - não investiram no carnaval - os hotéis, como
consequência, ficaram vazios em um período de alta estação. Os brasileiros
perderam o interesse pelo Maranhão e os proprietários de hotéis amargaram um
enorme prejuízo e um grande fator de emprego e de dinamismo da economia. Com
efeito, o turismo também vai para o elenco dos setores que vêm definhando
celeremente no Maranhão. Muitos estão colocando seus hotéis à venda. A
consequência disso? Mais desemprego. É um efeito cascata.
No meu governo trabalhamos muito para o turismo e chegamos a ter nosso
aeroporto com muitos voos internacionais, isto em grande intercambio com a
Guiana Francesa, com Portugal e com o Chile, por exemplo. Os hotéis viviam com
sua capacidade máxima atingida, ao contrário de hoje. Não há esforço de
abnegados que possa suplantar a má fama que o descaso colou no estado. Quando
estava no governo, chegamos a assinar acordos com os governos do Piauí e do
Ceará para desenvolver em conjunto a promoção e a infraestrutura de turismo na
região que abrange Jericoacoara, Camocim, Parnaíba, Araioses, até Barreirinhas.
A estrada ligando essa região a, BR-402, chegou a ser licitada já no governo de
Jackson Lago. Dezoito empresas participaram, as pontes já estão prontas e
aprovadas pelo DNIT, mas tudo foi abandonado depois que saímos do governo. Nas reuniões que se seguiram, Roseana impediu
a participação de representantes do estado e chegou a declarar que aquilo era
contra os interesses do Maranhão. Ninguém entendeu até hoje e assim nosso estado
vai ficando para trás.
Agora vejam que José Sarney, atualmente em fase do “Ame-o ou deixe-o”,
adaptado por ele a “me ame ou deixe”, tece loas em seu artigo sobre o Tegran - terminal de grãos de empreendedores
privados - localizado no Porto do Itaqui. Esse terminal é projeto do meu
governo, cujas agências nacionais controladas por ele mesmo não permitiram que
fosse feito, colocando defeitos nos editais e etc. Um absurdo, mas fazia parte
do bloqueio imposto ao meu governo por influência dele mesmo na esfera federal.
Pois agora vem e elogia o Tegran, dizendo ser fundamental e tentando,
naturalmente, colocá-lo como iniciativa do governo da filha. Quanto prejuízo o
Maranhão sofreu por motivos políticos... Lembremos também, por oportuno, da
siderúrgica que perdemos. Mas falaremos sobre isso novamente um outro dia...
O consolo é que tudo uma hora se acaba, tudo tem um fim, e o fim desse
mando que tanto atrasou o Maranhão está chegando. É uma realidade.
Realidade que não deixa Sarney e o seu mundo ilusório em paz. Só ele
vê um Maranhão que mais ninguém vê. E, com raiva, ataca toda a ‘oposição
mentirosa’ do estado. Desta vez o alvo foi a muito respeitável Fundação João
Pinheiro de Minas Gerais que, em parceria com o Ministério das Cidades, divulgaram
um grande trabalho de pesquisa sobre o déficit habitacional municipal no Brasil
de 2010. Nesse estudo, consta que o Maranhão tem o pior déficit habitacional
relativo do país, contando com 27,3 por cento.. Mais uma vez o pior.
Infelizmente, senador, seu ufanismo não se baseia na realidade. O
Maranhão é o estado mais atrasado do país.
Enfim... Podiam, com tanto poder, ter evitado o vexame. Mas há esperanças,
resta à oposição encarar o desafio. A tarefa é árdua, mas, citando o grande
poeta conterrâneo Gonçalves Dias, ‘a vida é combate’.
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