quarta-feira, 16 de abril de 2008

Alimento à hipocrisia

Folha: Tom apocalíptico sobre carestia da comida é exagero; subsídios de países ricos dificultam revolução agrícola global

Que instituições multilaterais, como as Nações Unidas, o FMI e o Banco Mundial, perdem importância não é segredo. O inusitado é que, agora, tentem compensar essa diminuição de peso relativo com uma gritaria apocalíptica em torno da inflação dos alimentos -e de sua relação com os biocombustíveis.

A fiar-se nas palavras de representantes dessas instituições, o mundo parece à beira de um cataclismo. Legiões de famélicos seriam produzidas a cada centavo de alta no preço das commodities; dezenas de conflitos seriam fomentados por causa da falta de comida. Nesse cenário, os biocombustíveis seriam mesmo "um crime contra a humanidade", como disse ontem o relator da ONU para o direito à alimentação, Jean Ziegler.

Há, evidentemente, um exagero estrondoso nesse tipo de avaliação. Ela perde de vista a hierarquia dos fatores que concorrem para a inflação no preço da comida, fenômeno mundial. A parcela de grãos ora utilizada para a produção de combustível, uma fronteira tecnológica no mundo rico, não tem escala para produzir, sozinha, elevação tão vultosa e abrangente no preço dos gêneros alimentícios.

O ganho contínuo de renda das populações mais pobres do mundo -na Ásia, na América Latina e na África-, as quebras de produção em países que são grandes exportadores agropastoris, a disparada no preço da energia e a especulação financeira contra o dólar são os fatores preponderantes para a inflação da comida. O uso crescente do milho, nos EUA, para a produção de álcool também ajuda no processo, mas de modo bem mais restrito.

Abortar investimentos em biocombustíveis, portanto, seria a terapia errada para ampliar em ritmo suficiente a oferta de alimentos. A abordagem correta seria liberar as forças produtivas agrícolas, em nível mundial, de constrangimentos que atravancam os ganhos de produtividade no setor. Leia-se: acabar com os subsídios a lavouras e rebanhos nas nações desenvolvidas.

Se esse imperativo vigorasse, países africanos miseráveis já teriam passado de importadores a exportadores de comida; uma revolução nas técnicas rudimentares adotadas em vastas regiões do mundo em desenvolvimento teria multiplicado o volume colhido e abatido; o biocombustível para complementar a demanda global por energia seria obtido em terras tropicais que hoje têm baixíssimo ou nenhum aproveitamento; todo o milho produzido nos Estados Unidos seria destinado à alimentação.

Os governos de países ricos de repente ficaram preocupados com o impacto da carestia alimentar na pobreza global. Que ajam, então, para resolver o problema e ponham um fim às barreiras agrícolas.

Comentário do Blog: Essa é uma típica agenda falsa que se aproveita de fatos verdadeiros para tentar atingir objetivos inconfessáveis. O etanol está sendo escolhido e aí juntam tudo para fazer confusão. Principalmente porque a produção de etanol ainda é muito baixa e os preços dos alimentos estão subindo por outras causas. Aumento de renda dos pobres, dólar em baixa no mundo inteiro e, principalmente, o protecionismo dos países europeus e dos Estados Unidos, com suas altíssimas barreiras alfandegárias que prejudicam países competitivos na produção de alimentos, como o Brasil e como podem ser países africanos. Tudo para proteger os produtores locais, que não tem condição de competir conosco. Se quisessem realmente baixar os preços dos alimentos, bastava acabar com as barreiras alfandegárias para a importação de alimentos que rapidamente Brasil e a África iriam multiplicar por muito sua atual produção e inundar o mundo de alimentos.

Quanto ao etanol, só os Estados Unidos produzem etanol do milho, trocando alimentos por energia. Essa proibição, sim, é vantajosa ser for feita. O Brasil não tem nada a ver com isso. Na verdade, os produtores de petróleo não querem perder espaço e têm medo de ficar de fora do mercado, pois não produzem etanol. É a velha história de sempre. O mais forte querendo impor agendas aos mais fracos para tirar vantagens sempre. Esse editorial é muito lúcido e por isso muito bom. É da Folha de São Paulo.

2 comentários:

Anônimo disse...

SEN PANTALEÃO QUER AUMENTAR OS SALÁRIOS DE BOMBEIROS DE RORAIMA, RONDONIA, AMAPÁ E ACRE. PERAÍ, PANTALEÃO NÃO É MARANHENSE E NÃO DEVIA ESTAR LUTANDO PELAS COISAS DO NOSSO MARANHÃO? AH, SIM ME LEMBREI PANTALEÃO É AQUELE MESMO QUE VIVIA DIZENDO NAS TRIBUNAS DO SENADO, QUE EMPRÉSTIMO PARA O MARANHÃO NÃO, NÃO E NÃO. E ESSA GENTE AINDA ACHA QUE ALGUÉM ACREDITA QUE ELES TRABALHAM PELO NOSSO POBRE MARANHÃO, PURA ILUSÃO.........
É POR ISSO QUE EU DIGO E REPITO:
SARNEY NUNCA MAIS!!!!!!!!!!!!!

PANORAMA POLÍTICO
ILIMAR FRANCO - ilimar@bsb.oglobo.com.br

AUMENTO PARA POLICIAIS
Os senadores do PMDB Romero Jucá (RR), líder do governo, e José
Sarney (AP) querem incluir policiais militares e bombeiros dos ex-territórios
(Roraima, Rondônia, Amapá e Acre) no reajuste salarial previsto
para as Forças Armadas. Dizem que, se o ministro Paulo
Bernardo não cumprir o acordo, farão emendas para incluir o aumento
no projeto do Executivo. “Compromissos assumidos aqui não são
levados tão a sério como eu pensava antigamente”, disse Sarney.

Anônimo disse...

Em alguns serpentários a "união fraterna" funciona assim...

Deu em "O Imparcial"

Roseana acusa o irmão no TSE
17-Abr-2008

A senadora Roseana Sarney (PMDB) acusou o irmão, deputado federal Sarney Filho (PV), junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de ser o único e exclusivo responsável pelo crime eleitoral cometido no pleito em que disputou o governo do Estado e foi derrotada. O ilícito é atribuído pela senadora ao irmão em recurso especial apresentado ao TSE.
A alegação da senadora maranhense foi apresentada junto ao ministro Caputo Bastos, relator do recurso em que a ex-candidata tenta suspender a multa por propaganda eleitoral antecipada. A irregularidade foi confirmada à época pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA).
O recurso especial foi ajuizado por Roseana, o irmão Sarney Filho e a Gráfica Escolas S.A., empresa responsável pela edição do jornal O Estado do Maranhão, de propriedade da família. A Gráfica Escolar S.A. está sujeita à sanção prevista no artigo 36, parágrafo 3º, da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições), ficando sujeita ao pagamento de multa.
Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público Eleitoral no Maranhão, no dia 24 de junho de 2006, antes do período de propaganda, o jornal da família trouxe encartado um boletim informativo destacando atividades parlamentares do deputado Sarney Filho com foto em destaque de Roseana Sarney.
Em sua alegação, Roseana Sarney afirma que não existe nos autos nenhuma referência a fatos protagonizados por ela, na época candidata ao governo do estado pelo PFL, partido que integraria a coligação “Maranhão – A Força do Povo”. A coligação ingressou com recurso no TSE pedindo a cassação de Jackson Lago por abuso de poder econômico e captação ilícita de votos.
No argumento a senadora afirma que não lhe caberia evitar nem a confecção nem a veiculação do boletim informativo. Para o ministro Caputo Bastos os autos “demonstraram, inequivocadamente, a sua situação de beneficiária da propaganda eleitoral antecipada, apto a configurar ilegalidade atribuível à recorrente, quando comprovado o seu prévio conhecimento”.
Para o ministro, o boletim informativo não foi confeccionado para servir às suas atividades institucionais, ou para a ‘prestação de contas’ de suas atividades regulares como parlamentar, de seus projetos, e ideários, ou mesmo a realização de críticas a atual situação política. “Serviu como verdadeiro palanque eleitoral, não havendo o que se falar de imunidade parlamentar”, afirmou o ministro Caputo Bastos.