terça-feira, 8 de julho de 2008

Deprimente

O senador José Sarney, ex-deputado, ex-governador, ex-presidente da República, membro da Academia Brasileira de Letras, um homem que conseguiu muito mais na política do que poderia alcançar por seus méritos, a olhos de muitos, deve parecer um homem feliz e completamente realizado. Teve muito mais do que poderia sonhar e gente assim geralmente se torna um conselheiro e uma pessoa especial que pensa em gastar os anos que lhe restam ajudando, aconselhando e dando exemplos. Mas não é assim que ele demonstra sentir.

Juscelino Kubitschek, por seus méritos, ganhou tudo o que quis na política. Foi um presidente amado por todos os brasileiros por tudo que proporcionou ao país e ao seu povo. O Brasil de Juscelino era uma euforia só. Chutamos para longe o famoso “complexo de vira-latas” que o grande Nelson Rodrigues enxergava em nós. De repente, em 1958 nos tornamos campeões mundiais de tudo. Futebol, boxe, tênis, basquete etc. Criamos a bossa-nova, que mudou e deu charme ao país, o Rio de Janeiro era uma maravilha incomparável, um verdadeiro paraíso. O brasileiro se tornou orgulhoso de seu país e éramos admirados pelo mundo inteiro. Era a época de Marta Rocha e, puxando tudo, estava o presidente bossa-nova, Juscelino.

Por isso ele sofreu tanto pelas perseguições que passou a ser impingido. Tenho a impressão que ele não entendia direito o que se passava consigo. Ele, que a tudo perdoava, e que tinha uma imensa compreensão das dificuldades do povo brasileiro, que lhe amava, não suportou o exílio e os inquéritos que lhes foram impostos e acabou por se tornar um homem triste antes de morrer tragicamente em acidente de carro. Mas sempre amado pelo povo brasileiro que não o esquece até hoje.

Uma tarde, eu exercia a superintendência da Novacap, Companhia Urbanizadora da Nova Capital, em Brasília, e recebi a visita do grande arquiteto Oscar Niemeyer. Não era uma visita de trabalho, como foram tantas outras. Ele vinha pedir por Juscelino. A anistia havia sido decretada e restava ainda um processo aberto, que não havia sido concluído, na justiça. Era uma ação movida anos atrás pela Novacap contra o ex-presidente. Ele era acusado de ter usado funcionários da companhia para pintar e reformar o seu apartamento na Avenida Atlântica, Copacabana, Rio de Janeiro. Era um processo considerado por todos um verdadeiro absurdo e Oscar Niemeyer vinha pedir o seu arquivamento, para que Juscelino pudesse voltar em paz ao Brasil. Chamei o saudoso Dr. Dario, Consultor Jurídico da Companhia e dentro de pouco minutos decidimos retirar a ação, nunca concluída e permitindo assim a volta do grande presidente ao Brasil.

Dois homens que, de maneira diversa, chegaram ao topo da política: Juscelino e Sarney. Juscelino, amado sempre, nunca perseguiu ninguém e sempre usou a sua influência para unir o país e lutar pela conciliação e pelo desenvolvimento. Nunca usou o imenso poder que teve em suas mãos para perseguir adversários, nem em Minas nem no país. Sarney, ao contrário, se tornou muito mais poderoso à sombra da popularidade do presidente Lula do que quando exerceu a presidência. E usou toda a força que lhe caiu nas mãos para impedir que o Maranhão recebesse grandes projetos públicos ou privados de dimensões capazes de desenvolver o estado. Além disso, chefiou uma oligarquia durante 40 anos que atrasou o estado e empobreceu sua população.

Mas, principalmente nos últimos anos, se notabilizou pela perseguição sem tréguas aos seus adversários políticos, novos ou velhos, da maneira mais torpe, disposto a arrasar com todos os que ousam ter outra opinião ou contrariar os interesses da família.

Agora se notabiliza por perseguir jornais e jornalistas. Uma ironia para quem se dizia orgulhoso de portar carteira de jornalista. Uma dupla ironia para quem é dono do maior complexo jornalístico do estado. Não consegue mais defender a sua trajetória política com os próprios meios de mídia que dispõe simplesmente, pois os fatos se impõem, e Bandeira Tribuzzi, grande intelectual e mentor do pensamento e dos propósitos dos primeiros anos da trajetória de Sarney e do seu grupo, que com sua morte, se tornou muito diferente, dizia que “não adiantava lutar contra os fatos”. Só insultar já não lhe basta. Passou a perseguir jornalistas por meio de processos em que exige indenizações milionárias ou mais recentemente processos penais. Quer que eles sejam algemados e presos. Única forma de se sentir contente.

Já são 9 jornalistas no Amapá e aqui a perseguição é total sobre o Jornal Pequeno e sobre Lourival Bogéa. Quer R$ 200 mil, a prisão de Lourival e mais a falência do Jornal. É o mundo ideal de Sarney. Sem contraditório, só ele mandando insultar todo mundo. E quem viu o processo diz que é embasado em matérias transcritas da Veja, Estado de São Paulo e outros. Porque então não processar a Veja? Medo de mostrar ao Brasil quem ele é realmente?

Deve ser muito triste para alguém que foi o que ele foi, viver seus anos de vida avançada amargurado, só pensando em fazer o mal a quem ele considera adversário. É uma tragédia pessoal. Que vida, em que tenta se imortalizar na marra, tomando, por meio de chicanas jurídicas, um prédio público, tombado, o Convento das Mercês, onde pensa ter sua última morada. Nos seus devaneios, o povo vai em romaria visitar o seu túmulo conforme disse a revista “Carta Capital”. Muito triste.

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente o poder faz isso com as pessoas. Pra vc ver, Sarney já é tão rico que nem os netos precisariam trabalhar se não quisessem( rico as custas da política) mas não consegue ficar longe do poder e faz de tudo pra não perde-lo inclusive passar por cima de qualquer pessoa que se meta no caminho, parece uma doença. Triste mesmo...