Nunca um presidente de qualquer país do mundo teve uma posse tão ansiosamente aguardada quanto Barak Obama nos Estados Unidos da América. O dia 20 de Janeiro de 2009 representou para muitos um divisor de águas, talvez mais que isso, pois Obama simboliza a saída contra a crise e a vitória na luta contra o desemprego.
Os EUA, nação mais forte econômica e militarmente do planeta, são o mercado cujos demais países do mundo sempre encontram compradores para os seus produtos, sejam lá quais forem eles. Se essa nação entra em crise e para de comprar, ninguém mais vende como antes, as indústrias no mundo inteiro colapsam e vem o desemprego em grande escala. E desta vez a coisa é pior, pois a origem da crise são os Estados Unidos, que assumiram aspectos de recessão, deflação e estagnação econômica. Tudo isso é sinônimo de desemprego e de dramas e tristezas para milhões de famílias. Um quadro desesperador.
A posse de Obama representa para milhões de pessoas a esperança de que aquele pesadelo poderá acabar, que aquele homem desenvolto, de fala e discurso bonitos, poderá trazer a solução para os problemas que afligem o mundo.
No dia da posse, o discurso estava à altura do momento. Foi feito para que todos o entendessem, sem apelar para a retórica, e as frases de efeito procuraram mostrar claramente a gravidade dos problemas, alertando que estes eram sérios e requereriam tempo para serem resolvidos.
Como ele compreende que sozinho nada terá sentido, apela para a conciliação com os adversários, agradecendo a George Bush pelo trabalho em favor da nação e pela correção na transição entre os governos. E mais uma vez apela para o passado da América e para o sacrifício das gerações passadas. Começa assim:
“Estou aqui hoje na presença de vocês, humilde diante da tarefa que temos pela frente, agradecido pela confiança que vocês depositaram em mim, consciente dos sacrifícios feitos por nossos antepassados. Agradeço ao presidente Bush pelos serviços prestados à nação, além da generosidade e cooperação que ele manifestou ao longo desta transição.”
Em seguida, procura mostrar que essa não é uma posse igual a outras pois o país tem muitos problemas:
“Quarenta e quatro americanos já fizeram o juramento presidencial. As palavras foram proferidas durante marés ascendentes de prosperidade e nas águas serenas da paz. De quando em quando, porém, o juramento é feito em meio a nuvens acumuladas e tempestades assoladoras. Nesses momentos, a América tem seguido adiante não apenas graças à habilidade ou visão daqueles que ocupam seus cargos mais altos, mas porque nós, o povo, nos mantivemos fiéis aos ideais de nossos antepassados e fiéis aos nossos documentos fundadores. Assim tem sido. Assim deve ser com esta geração de americanos.
Que estamos em meio a uma crise já é amplamente compreendido. Nossa nação se encontra em guerra contra uma rede de violência e ódio de grande extensão. Nossa economia está gravemente enfraquecida, consequência da cobiça e irresponsabilidade da parte de alguns, mas também de nosso fracasso coletivo em fazer escolhas difíceis e preparar o país para uma nova era. Residências foram perdidas, empregos desapareceram, empresas foram fechadas. Nosso sistema de saúde é oneroso demais, nossas escolas reprovam alunos demais, e cada dia traz mais evidências de que a maneira como consumimos energia fortalece nossos adversários e põe em risco nosso planeta.
Esses são os indicativos de crise, sujeitos a dados e a estatísticas. Menos mensurável, mas não menos profundo, é o enfraquecimento da confiança verificado em todo nosso país -um medo angustiante de que o declínio da América seja inevitável e de que a próxima geração seja obrigada a reduzir suas expectativas.”
Continuando, Obama procura incutir confiança nos interlocutores, dando a certeza de que os problemas serão enfrentados e vencidos:
“Digo a vocês hoje que os desafios que enfrentamos são reais. Eles são graves e são muitos. Não serão enfrentados facilmente, nem num período de tempo curto. Mas saiba, América: eles serão enfrentados.
Estamos reunidos neste dia porque optamos pela esperança em lugar do medo, pela unidade de objetivos em lugar do conflito e da discórdia. [...] a promessa dada por Deus de que todos são iguais, todos são livres, e todos merecem a oportunidade de lutar por sua plena medida de felicidade.
Ao reafirmar a grandeza de nosso país, compreendemos que a grandeza jamais é dada. Ela precisa ser conquistada. Nossa jornada nunca foi uma jornada de atalhos ou de nos contentarmos com menos. Ela não tem sido um caminho para os fracos de espírito -para aqueles que preferem o lazer ao trabalho ou que buscam apenas os prazeres da riqueza e da fama. Têm sido aqueles que assumem riscos, os fazedores, os criadores de coisas -alguns deles celebrados, mas mais frequentemente homens e mulheres obscuros em seu trabalho- que nos têm carregado pelo caminho longo e árduo rumo à prosperidade e liberdade".
O discurso de 20 minutos, feito em praça pública, sob um frio de -3,0 graus centígrados, diretamente para mais de 1,8 milhões de pessoas que enchiam a esplanada e para bilhões de pessoas que no mundo inteiro que estavam colados à televisão, foi muito bonito e afirmativo. Agradou a quase todos.
Mas agora é que começa a era Obama. É agora que ele terá que mostrar que se preparou para o desafio gigantesco que terá pela frente. É agora que terá que vencer o ceticismo e a desconfiança de muitos. E principalmente terá que vencer a inércia trazida pela crise, fazendo a economia andar e criando os empregos para estabilizar a vida da nação.
É uma tarefa gigantesca porque a crise vai aumentando todos os dias, com a informação de que mais empresas de todos os setores estão fechando ou pedindo falência.
Ademais de Obama, a tarefa é mais para o “Super-Obama”, tão a gosto da população americana.
Vamos torcer sinceramente por ele e esperamos que enfrente os problemas com coragem e determinação, não só com palavras bonitas e bem colocadas. Boa sorte!
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