Reuters: Num instante em que o mundo celebra o 200º aniversário do nascimento de Charles Darwin, o PMDB converteu-se em prova política dos desacertos do cientista.
Quem vê o que aconteceu com o PMDB nos últimos anos, fica tentado a levar o pé atrás em relação à Teoria da Evolução pela Seleção Natural.
Uma passada de olhos pelo quadro de lideranças do PMDB, que supostamente representam o que o partido tem de melhor, impõe uma conclusão inexorável;
Pelo menos na tribo dos peemedebês, o homem brasileiro parou de evoluir. Pior: tomou um caminho inverso ao que fora esboçado na grande teoria.
Lá atrás, o PMDB tinha a cara de Ulysses Guimarães. Ficou com a cara do Quércia. Foi adornado com o bigode de Sarney...
...Ganhou a sobrancelha de Jader -o Barbalho. Migrou para a face brejeira de Renan... Interrompa-se a lista aqui, para não cansar o leitor.
Foi assim, afrontando a ciência, que aquele PMDB que combatera a ditadura -que a Arena de Sarney ajudava a disfarçar-, virou o PMDB dos dias que correm.
Registre-se, em homenagem à lógica, que o PMDB, tomado por seu peso numérico, tem todo o direito de reivindicar o comando do Senado.
Mas precisava apresentar-se com a cara do Sarney, à sombra do Renan? Bem verdade que, a certa altura, pendurou-se nas manchetes o nome de Pedro Simon.
Num concurso de beleza, Simon daria vexame. Mas, numa eleição para o cargo máximo do Legislativo, até que não faria feio.
O diabo é que Simon não passava de mais uma jogada de Renan. Uma maneira de divertir o Senado enquanto se alinhavada a costura em torno de Sarney.
Sarney reivindica o retorno à vitrine por razões só explicitadas a portas fechadas. Deseja recuperar o terreno que perdeu no Maranhão.
De resto, busca um escudo para as investigações que a Polícia Federal de Tarso Genro realiza nas cercanias dos negócios do filho, Fernando Sarney.
Nenhuma palavra à platéia sobre o futuro do Senado, hoje com os joelhos grudados no chão. Discute-se apenas a partilha dos cargos de direção, das comissões.
Se fosse possível tirar um retrato do que se passa em torno da dupla Sarney-Renan, a imagem evidenciaria que, em política, o cinismo pode ser uma forma de resignação.
Tricotam com Renan todos os que, há bem pouco, pediam a cabeça dele da tribuna do Senado. É como se a ex-virtude já não se importasse em dar as mãos à indecência.
Cercado de PMDB por todos os lados, Lula, valendo-se de uma suposta "isenção", joga água no moinho de Sarney. FHC também ligou para manifestar simpatia.
Tudo se passa sob o manto diáfano da indulgência de parte da imprensa. Realce-se a volta de Renan ao primeiro plano. Esquece-se o passivo que o levara ao ostracismo.
Assim, cortejado por governo e oposição, alisado pelo noticiário, o PMDB assegura os cargos presentes e os futuros. Sob Dilma, Serra ou quem quer que seja.
Observando o retorno de Sarney à ribalta do Senado, puxado pela gola por um Renan redivivo, um macaco haveria de perguntar a Darwin:
- Será que valeu a pena?
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