domingo, 15 de fevereiro de 2009

Se não Atrapalharem o Maranhão Deslancha

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:

Se não Atrapalharem o Maranhão Deslancha

Meus pais, “Seu” Domingos e “Dona” Amélia eram muito rígidos na forma de criar os seus filhos. Minha mãe era mulher de quase nenhuma posse e de pouca instrução formal, mas de uma sabedoria incrível e de uma riqueza de valores imateriais impressionante. Ela teve apenas dois filhos, eu sendo o segundo. Fomos criados com obediência e respeito recíproco. Irmão mais novo respeitando o mais velho. Falar palavrão perto do irmão? Nem pensar! Quando cometíamos deslizes, as sanções eram proporcionais. Achar qualquer objeto na rua era proibido na nossa modestíssima casa. Principalmente se fosse dinheiro. Tínhamos que devolver para o local onde havíamos achado. Este foi o instrumento que ela, na sua sabedoria, encontrou para cortar, na origem, qualquer tentativa de apropriação de algo que não tivesse origem transparente. Na nossa casinha não tinha passarinho preso em gaiola. Fomos educados para ter disciplina. A hora de acordar para o colégio era sagrada. Aqueles ensinamentos nos acompanharam pela vida e foram fundamentais na construção da nossa personalidade, na convicção da defesa de princípios dos quais não se deve abrir mão.

Este preâmbulo é para dizer que filhos criados com muitos mimos, cheios de vontades, podem ter dificuldades no encaminhamento da própria vida. Amar é também saber dizer NÃO e impor limites. É mostrar que as conquistas têm que ser fruto da obstinação, do trabalho e do talento. Os objetivos têm que ser sonhados previamente e depois buscados com tenacidade. Ao contrário do que aprendemos na matemática, a menor distancia entre dois pontos nas nossas vidas, quase sempre não é uma reta. Nas conquistas da vida, no geral, precisamos fazer contornos, muitas vezes árduos e sinuosos.

A teia em que querem enredar o atual Governador Jackson Lago tem todos os ingredientes associados à tentativa de conquistas fáceis, birro de quem sempre teve as vontades satisfeitas, equívocos de pais que não souberam dizer NÃO para os filhos no momento que deveria ser dito, e não lhe mostraram que as conquistas, para serem sólidas, precisam ancorar-se em trabalho árduo. Trabalho que começa com a lapidação pessoal, na busca do conhecimento, na capacitação. Na busca incessante da competência.

Os que demandam apear o Governador de um mandato legitimamente conquistado nas urnas são os mesmos que já demonstraram amplamente a incapacidade que têm de gerirem a coisa pública. Apesar disso, são exímios em transgredirem a lei da gravidade, sempre “caindo ‘prá’ cima”, e também são muito hábeis na construção de fortunas.

Conseguiram transformar um dos Estados mais promissores do Brasil, no mais pobre da Federação, e com isso jogar para baixo a autoestima dos que tiveram a felicidade de nascer nesse pedaço de chão. Com efeito, busquei os dados da PNAD de 1995, no final do primeiro ano do Governo de quem quer agora receber, sem votos, um mandato de Governador. Naquele ano a taxa de analfabetismo dos maiores de 10 anos no Maranhão era de 33,7%. A escolaridade média dos maranhenses em 1995 era de 3,8 anos. Pois bem, ao final de quase oito anos de poder, em 2001, a taxa de analfabetismo dos maranhenses ainda era de 26,6%, e a escolaridade média era de inacreditáveis 4,5 anos. A taxa de desaceleração do analfabetismo foi de apenas 3,3% ao ano. A taxa de aceleração da escolaridade média foi de modestos 2,4% ao ano. Deixaram sem escolas de segundo grau a grande maioria dos municípios maranhenses. O Maranhão produziu, em 1982, mais de três quilogramas diários de alimentos per capita. Em 1998 fizeram-no produzir apenas 678 gramas. Em 2006 o Maranhão já produzia 1.282 gramas diárias por pessoa.

Um outro indicador relevante é a população do Estado que não tinha acesso à água encanada, que em 1995 era de 55,3%. A privação de local adequado para destinar dejetos humanos penalizava 76,2% da população. Em 2001, os maranhenses sem água encanada continuavam sendo de 55,3%, ou seja, com mais gente sem água, tendo em vistas que a população cresceu naquele lapso de tempo. A privação de local adequado para destino de dejetos havia declinado para 62,6%, a uma taxa de desaceleração de apenas 2,8% ao ano.

A partir de abril de 2002 os governos assumiram como prioridade a redução da pobreza do Estado, e desenharam políticas para isso. Como resultado, em 2007 a taxa de analfabetismo no Maranhão havia declinado para 17,9% e a escolaridade média havia ascendido para 6,1 anos. Portanto, o analfabetismo desacelerou-se a um ritmo médio de 5,5% ao ano e a escolaridade média acelerou-se a uma taxa de 4,4% ao ano. A população privada de água encanada havia reduzido para 35,4% (-6,1 % ao ano) e a população privada de saneamento havia declinado para 47,3% (desaceleração de 4,0% ao ano).

Estimei o Índice de Exclusão Social (IES) para 2001 e para 2007. Neste lapso de tempo a população socialmente incluída no Maranhão superou 600 mil pessoas. Óbvio que os eleitores perceberam todos estes resultados que incrementaram a qualidade das suas vidas e, por isso, votaram no atual Governador em outubro de 2006. Não tenho certeza, jamais a terei, mas este parece ser mais um “birro” de quem jamais recebeu um NÃO dos genitores e sempre teve os seus mimos sancionados. Este seria apenas mais um. Os Membros do TSE farão justiça e não deixarão que isso aconteça, para que os maranhenses não tenham interrompida a sua atual trajetória de progresso, ainda lenta, devido à forma virulenta com que utilizam o seu império de comunicação para atrapalhá-la. A propósito o texto do Jornalista Alberto Dines do dia 10/02/09 é um primor e deveria ser lido pelos brasileiros, sobretudo, pelos maranhenses de todas as tinturas ideológicas.

Não poderia concluir este texto sem apresentar as condolências da minha família pela passagem da Sra. Conceição de Maria Simões Melo, ou “Dona Cita”, grande liderança no município de Primeira Cruz, batalhadora por dias melhores para aquele que é um dos municípios mais carentes do Maranhão. Era mãe da Ivana, Vanessa, Mauricio e esposa do Francisco Melo. Ivana trabalhou comigo quando fui Secretário de Estado entre 2005 e 2006. “Dona Cita” foi grande entusiasta do Programa de Mitigação da Pobreza do Governador Zé Reinaldo, assim como do atual Governador. Estava cotada para assumir novamente uma Secretaria na atual Administração do seu município. Não foi possível!


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José Lemos é Engenheiro Agrônomo e Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”.

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