A direção do Senado monta um teatro para tentar reduzir os danos do caso da ex-babá – mas não param de surgir novas denúncias
Andrei Meireles e Matheus Leitão*
SOB ENCOMENDA
João Carlos Zoghbi e sua mulher, Denise, na saída do depoimento à Polícia do Senado (ao fundo, o advogado Kakay). Eles avisaram que poderiam perder o controle diante da Polícia FederalNas duas últimas semanas, o presidente do Senado, senador José Sarney (PMDB-AP), tentou conter os possíveis estragos causados pelo casal Zoghbi. Com apoio da maioria da Mesa do Senado, está em curso um plano concebido por assessores e pelo advogado do casal, Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay, um dos mais articulados de Brasília. Kakay já atuou como advogado de gente como o ex-deputado e ex-ministro petista José Dirceu, atuou para grandes construtoras durante a CPI do caso Collor e já defendeu interesses de vários senadores – entre eles o próprio Sarney.
A intervenção de Kakay ocorreu depois que o casal Zoghbi passou a enviar mensagens preocupantes a seus padrinhos políticos e a seus parceiros em negócios no Senado. Eles informaram que estavam abalados e receavam enfrentar um depoimento à Polícia Federal ou ao Ministério Público. Sarney colocou a Polícia do Senado para investigar as denúncias. Em geral, ela investiga apenas pequenas agressões e furtos dentro do Senado. Outro problema: a Polícia do Senado é comandada por homens de confiança do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, implicado em acusações de corrupção feitas pelo casal Zoghbi a ÉPOCA.
“A Polícia do Senado não tem competência nem legitimidade para promover essa investigação”, afirma Cezar Britto, presidente nacional da OAB. Sarney também enfrentou reações em plenário. Afirmou que não tinha intenção de obstruir as investigações e prometeu mais de uma vez que a apuração seria acompanhada pelo Ministério Público. Na terça-feira, Sarney buscou o respaldo do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Por duas vezes, pediu a indicação de um procurador para acompanhar o trabalho da Polícia do Senado. Antonio Fernando não topou. O procurador Gustavo Pessanha Velloso, que já se ocupava da investigação e mapeou todas as denúncias surgidas até aqui, vai trabalhar com a Polícia Federal.
Na quarta-feira, o casal Zoghbi prestou durante quatro horas depoimento à Polícia do Senado. Nada lhes foi perguntado sobre as cinco empresas criadas em nome da babá de 83 anos. Na saída, o chefe da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Cavalcanti, chegou a dizer que o casal negara as acusações feitas a ÉPOCA. O próprio Kakay telefonou para ÉPOCA e afirmou: “Eles não desmentiram nada. Apenas esclareceram que disseram tudo aquilo como uma tentativa de evitar a publicação da reportagem sobre a babá”. Seu plano, aparentemente, é abafar uma investigação sobre um esquema de corrupção no Senado, deixar o casal longe de investigadores de verdade e produzir um depoimento que possa virar arma de defesa em um inquérito. Ao assumir a causa, Kakay afirmou que só a aceitou porque não haveria denúncia contra nenhum senador. “Para mim, isso seria um conflito de interesses. Tenho 15 senadores como clientes.” De acordo com o relato de vários senadores, Kakay também avisou a parlamentares que não aceitaria o trabalho se o casal Zoghbi mantivesse qualquer denúncia contra Agaciel.
Na sessão do Senado na quinta-feira, o trabalho de apuração da Polícia do Senado foi criticado. “Esse depoimento foi uma farsa”, afirmou na tribuna o senador Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM). “É até maldade com a Polícia do Senado, que está pronta para enfrentar a baderna do MST, mas não para investigar os generais da Casa.” As críticas de Virgílio foram endossadas por outros senadores, como Pedro Simon (PMDB-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Eduardo Suplicy (PT-SP).
Senadores que, em outros momentos, subiam à tribuna e chamavam a atenção do país com sua combatividade hoje estão calados. É fácil entender por quê. Eles temem, provavelmente, que a turma de Agaciel use informações negativas para desmoralizá-los. É o que tem acontecido com as passagens aéreas. Essa postura defensiva só protege o esquema que domina a máquina do Senado há 15 anos e quer preservar sob segredo os negócios feitos pela administração da instituição.
Andrei Meireles e Matheus Leitão*
SOB ENCOMENDA
João Carlos Zoghbi e sua mulher, Denise, na saída do depoimento à Polícia do Senado (ao fundo, o advogado Kakay). Eles avisaram que poderiam perder o controle diante da Polícia FederalNas duas últimas semanas, o presidente do Senado, senador José Sarney (PMDB-AP), tentou conter os possíveis estragos causados pelo casal Zoghbi. Com apoio da maioria da Mesa do Senado, está em curso um plano concebido por assessores e pelo advogado do casal, Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay, um dos mais articulados de Brasília. Kakay já atuou como advogado de gente como o ex-deputado e ex-ministro petista José Dirceu, atuou para grandes construtoras durante a CPI do caso Collor e já defendeu interesses de vários senadores – entre eles o próprio Sarney.
A intervenção de Kakay ocorreu depois que o casal Zoghbi passou a enviar mensagens preocupantes a seus padrinhos políticos e a seus parceiros em negócios no Senado. Eles informaram que estavam abalados e receavam enfrentar um depoimento à Polícia Federal ou ao Ministério Público. Sarney colocou a Polícia do Senado para investigar as denúncias. Em geral, ela investiga apenas pequenas agressões e furtos dentro do Senado. Outro problema: a Polícia do Senado é comandada por homens de confiança do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, implicado em acusações de corrupção feitas pelo casal Zoghbi a ÉPOCA.
“A Polícia do Senado não tem competência nem legitimidade para promover essa investigação”, afirma Cezar Britto, presidente nacional da OAB. Sarney também enfrentou reações em plenário. Afirmou que não tinha intenção de obstruir as investigações e prometeu mais de uma vez que a apuração seria acompanhada pelo Ministério Público. Na terça-feira, Sarney buscou o respaldo do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Por duas vezes, pediu a indicação de um procurador para acompanhar o trabalho da Polícia do Senado. Antonio Fernando não topou. O procurador Gustavo Pessanha Velloso, que já se ocupava da investigação e mapeou todas as denúncias surgidas até aqui, vai trabalhar com a Polícia Federal.
Na quarta-feira, o casal Zoghbi prestou durante quatro horas depoimento à Polícia do Senado. Nada lhes foi perguntado sobre as cinco empresas criadas em nome da babá de 83 anos. Na saída, o chefe da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Cavalcanti, chegou a dizer que o casal negara as acusações feitas a ÉPOCA. O próprio Kakay telefonou para ÉPOCA e afirmou: “Eles não desmentiram nada. Apenas esclareceram que disseram tudo aquilo como uma tentativa de evitar a publicação da reportagem sobre a babá”. Seu plano, aparentemente, é abafar uma investigação sobre um esquema de corrupção no Senado, deixar o casal longe de investigadores de verdade e produzir um depoimento que possa virar arma de defesa em um inquérito. Ao assumir a causa, Kakay afirmou que só a aceitou porque não haveria denúncia contra nenhum senador. “Para mim, isso seria um conflito de interesses. Tenho 15 senadores como clientes.” De acordo com o relato de vários senadores, Kakay também avisou a parlamentares que não aceitaria o trabalho se o casal Zoghbi mantivesse qualquer denúncia contra Agaciel.
Na sessão do Senado na quinta-feira, o trabalho de apuração da Polícia do Senado foi criticado. “Esse depoimento foi uma farsa”, afirmou na tribuna o senador Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM). “É até maldade com a Polícia do Senado, que está pronta para enfrentar a baderna do MST, mas não para investigar os generais da Casa.” As críticas de Virgílio foram endossadas por outros senadores, como Pedro Simon (PMDB-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Eduardo Suplicy (PT-SP).
Senadores que, em outros momentos, subiam à tribuna e chamavam a atenção do país com sua combatividade hoje estão calados. É fácil entender por quê. Eles temem, provavelmente, que a turma de Agaciel use informações negativas para desmoralizá-los. É o que tem acontecido com as passagens aéreas. Essa postura defensiva só protege o esquema que domina a máquina do Senado há 15 anos e quer preservar sob segredo os negócios feitos pela administração da instituição.
(*) Fonte: Matéria publicada na edição de Época No. 573 de 09 de Maio de 2009. Link original aqui.
Um comentário:
O que mais acho imoral é do fato de que o mandato é do aprtido ou coligação entaõ Roseana não deveria ter tomado posse. Pq ela não pertence ao PFL hj DEM então quem deveria assumir seria João Alberto. Ou seja o TSE desrespeita a vontade do eleitor que vota no partido. Conforme caso do governador da Paraíba que perdeu o mandato pq deixou o partido. Democracia é respeitar o direito do eleitor e tirar o cargo imediato de Roseana.
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