ABERRAÇÕES NO SENADO
Publicação diz que medidas de José Sarney contra os escândalos do Senado são ‘teatrinho de má qualidade, cuja trama é tão surrada quanto a encenada há 14 anos’ .
Em matéria sobre a reforma administrativa do Senado, a revista Veja que chega hoje às bancas do Maranhão chama o presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP), de "demagogo" e afirma que as intenções moralizadoras de Sarney são só "teatro". "Os dois [Sarney e um diretor da FGV, que fez um estudo para enxugar a estrutura do Senado] disseram o que a platéia queria ouvir, e não o que será feito. Não há força do universo, nem mesmo José Sarney, que consiga demitir dois terços do Senado", diz a publicação. Veja a íntegra da matéria:
"O presidente do Senado, José Sarney, convocou a imprensa na semana passada para anunciar com orgulho os resultados de um estudo feito para extirpar da burocracia da Casa as aberrações que vieram a público nos últimos meses - coisas como a existência de 181 diretores, ou funcionários que são donos de mansões, ou verbas que bancam toda sorte de despesa pessoal dos senadores... O estudo foi encomendado à conceituada Fundação Getulio Vargas, que dispôs de 35 dias e 250 000 reais para apresentar uma proposta de limpeza do Senado. Em 1995, a mesma FGV recebeu a mesma tarefa do mesmo senador José Sarney - que, talvez por uma coincidência cósmica, era presidente do Senado na ocasião.
O noticiário recente demonstra que essa velha parceria não deu muito certo. O ato da semana passada seria uma coletiva, mas, assim que Sarney proclamou as primeiras palavras moralizadoras, descortinou-se um teatrinho de má qualidade, cuja trama é tão surrada quanto a encenada há catorze anos.
Sarney pôs-se a arengar: 'Não sou daqueles que gostam de soltar fogos de artifício. Não vamos fazer espetáculo, mas é uma reforma de profundidade. Vamos cortar 40% da estrutura da Casa'.
No ato seguinte, um diretor da FGV assegurou que o Senado funcionaria perfeitamente com apenas um terço dos funcionários que tem hoje. Os dois disseram o que a platéia queria ouvir, e não o que será feito. Não há força do universo, nem mesmo José Sarney, que consiga demitir dois terços do Senado.
A demagogia do discurso ficou evidente quando os atores admitiram que os superburocratas do Senado podem até vir a perder o título nobiliárquico de 'diretor', mas manterão os salários e as gratificações.
Na verdade, se acatada, a proposta da FGV resultaria numa economia de apenas 650 000 reais mensais - um trocado, se comparado ao orçamento anual do Senado de 2,7 bilhões de reais.
'A redução de despesa não é significativa', concluiu um dos doutores da FGV, num raciocínio que impressionou. O papelório consiste de um amontoado de intenções vagas. Há nele 121 páginas, muitas palavras difíceis e poucas propostas exequíveis.
Entre 'macrofluxos' e 'departamentalizações', a palavra 'transparência', que é exatamente tudo o que o Senado mais precisa neste momento, aparece uma mísera vez - e somente de modo genérico, vago.
Os doutores da FGV, no entanto, deixaram claro que não puderam ir a campo e que dispuseram de um 'tempo exíguo' para preparar o relatório. Quando as perguntas dos jornalistas começaram a se multiplicar, Sarney percebeu que a peça não agradara - e saiu de fininho."
(Diego Escosteguy, da Veja)
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Publicação diz que medidas de José Sarney contra os escândalos do Senado são ‘teatrinho de má qualidade, cuja trama é tão surrada quanto a encenada há 14 anos’ .
Em matéria sobre a reforma administrativa do Senado, a revista Veja que chega hoje às bancas do Maranhão chama o presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP), de "demagogo" e afirma que as intenções moralizadoras de Sarney são só "teatro". "Os dois [Sarney e um diretor da FGV, que fez um estudo para enxugar a estrutura do Senado] disseram o que a platéia queria ouvir, e não o que será feito. Não há força do universo, nem mesmo José Sarney, que consiga demitir dois terços do Senado", diz a publicação. Veja a íntegra da matéria:
"O presidente do Senado, José Sarney, convocou a imprensa na semana passada para anunciar com orgulho os resultados de um estudo feito para extirpar da burocracia da Casa as aberrações que vieram a público nos últimos meses - coisas como a existência de 181 diretores, ou funcionários que são donos de mansões, ou verbas que bancam toda sorte de despesa pessoal dos senadores... O estudo foi encomendado à conceituada Fundação Getulio Vargas, que dispôs de 35 dias e 250 000 reais para apresentar uma proposta de limpeza do Senado. Em 1995, a mesma FGV recebeu a mesma tarefa do mesmo senador José Sarney - que, talvez por uma coincidência cósmica, era presidente do Senado na ocasião.
O noticiário recente demonstra que essa velha parceria não deu muito certo. O ato da semana passada seria uma coletiva, mas, assim que Sarney proclamou as primeiras palavras moralizadoras, descortinou-se um teatrinho de má qualidade, cuja trama é tão surrada quanto a encenada há catorze anos.
Sarney pôs-se a arengar: 'Não sou daqueles que gostam de soltar fogos de artifício. Não vamos fazer espetáculo, mas é uma reforma de profundidade. Vamos cortar 40% da estrutura da Casa'.
No ato seguinte, um diretor da FGV assegurou que o Senado funcionaria perfeitamente com apenas um terço dos funcionários que tem hoje. Os dois disseram o que a platéia queria ouvir, e não o que será feito. Não há força do universo, nem mesmo José Sarney, que consiga demitir dois terços do Senado.
A demagogia do discurso ficou evidente quando os atores admitiram que os superburocratas do Senado podem até vir a perder o título nobiliárquico de 'diretor', mas manterão os salários e as gratificações.
Na verdade, se acatada, a proposta da FGV resultaria numa economia de apenas 650 000 reais mensais - um trocado, se comparado ao orçamento anual do Senado de 2,7 bilhões de reais.
'A redução de despesa não é significativa', concluiu um dos doutores da FGV, num raciocínio que impressionou. O papelório consiste de um amontoado de intenções vagas. Há nele 121 páginas, muitas palavras difíceis e poucas propostas exequíveis.
Entre 'macrofluxos' e 'departamentalizações', a palavra 'transparência', que é exatamente tudo o que o Senado mais precisa neste momento, aparece uma mísera vez - e somente de modo genérico, vago.
Os doutores da FGV, no entanto, deixaram claro que não puderam ir a campo e que dispuseram de um 'tempo exíguo' para preparar o relatório. Quando as perguntas dos jornalistas começaram a se multiplicar, Sarney percebeu que a peça não agradara - e saiu de fininho."
(Diego Escosteguy, da Veja)
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