segunda-feira, 18 de maio de 2009

Para revista Veja, Sarney faz ‘teatro da moralização’

ABERRAÇÕES NO SENADO

Publicação diz que medidas de José Sarney contra os escândalos do Senado são ‘teatrinho de má qualidade, cuja trama é tão surrada quanto a encenada há 14 anos’ .

Em matéria sobre a reforma administrativa do Senado, a revista Veja que chega hoje às bancas do Maranhão chama o presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP), de "demagogo" e afirma que as intenções moralizadoras de Sarney são só "teatro". "Os dois [Sarney e um diretor da FGV, que fez um estudo para enxugar a estrutura do Senado] disseram o que a platéia queria ouvir, e não o que será feito. Não há força do universo, nem mesmo José Sarney, que consiga demitir dois terços do Senado", diz a publicação. Veja a íntegra da matéria:

"O presidente do Senado, José Sarney, convocou a imprensa na semana passada para anunciar com orgulho os resultados de um estudo feito para extirpar da burocracia da Casa as aberrações que vieram a público nos últimos meses - coisas como a existência de 181 diretores, ou funcionários que são donos de mansões, ou verbas que bancam toda sorte de despesa pessoal dos senadores... O estudo foi encomendado à conceituada Fundação Getulio Vargas, que dispôs de 35 dias e 250 000 reais para apresentar uma proposta de limpeza do Senado. Em 1995, a mesma FGV recebeu a mesma tarefa do mesmo senador José Sarney - que, talvez por uma coincidência cósmica, era presidente do Senado na ocasião.

O noticiário recente demonstra que essa velha parceria não deu muito certo. O ato da semana passada seria uma coletiva, mas, assim que Sarney proclamou as primeiras palavras moralizadoras, descortinou-se um teatrinho de má qualidade, cuja trama é tão surrada quanto a encenada há catorze anos.

Sarney pôs-se a arengar: 'Não sou daqueles que gostam de soltar fogos de artifício. Não vamos fazer espetáculo, mas é uma reforma de profundidade. Vamos cortar 40% da estrutura da Casa'.
No ato seguinte, um diretor da FGV assegurou que o Senado funcionaria perfeitamente com apenas um terço dos funcionários que tem hoje. Os dois disseram o que a platéia queria ouvir, e não o que será feito. Não há força do universo, nem mesmo José Sarney, que consiga demitir dois terços do Senado.

A demagogia do discurso ficou evidente quando os atores admitiram que os superburocratas do Senado podem até vir a perder o título nobiliárquico de 'diretor', mas manterão os salários e as gratificações.

Na verdade, se acatada, a proposta da FGV resultaria numa economia de apenas 650 000 reais mensais - um trocado, se comparado ao orçamento anual do Senado de 2,7 bilhões de reais.

'A redução de despesa não é significativa', concluiu um dos doutores da FGV, num raciocínio que impressionou. O papelório consiste de um amontoado de intenções vagas. Há nele 121 páginas, muitas palavras difíceis e poucas propostas exequíveis.

Entre 'macrofluxos' e 'departamentalizações', a palavra 'transparência', que é exatamente tudo o que o Senado mais precisa neste momento, aparece uma mísera vez - e somente de modo genérico, vago.

Os doutores da FGV, no entanto, deixaram claro que não puderam ir a campo e que dispuseram de um 'tempo exíguo' para preparar o relatório. Quando as perguntas dos jornalistas começaram a se multiplicar, Sarney percebeu que a peça não agradara - e saiu de fininho."

(Diego Escosteguy, da Veja)

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