terça-feira, 29 de julho de 2008

Obama e a Esperança

O sistema eleitoral americano é tão democrático e tão forte que é capaz de produzir líderes que começam do nada e em uma campanha se tornam líderes políticos de expressão global pela importância do país. Quando são realmente especiais acabam levando sentimentos de esperança a milhões de pessoas que anseiam por um mundo melhor com paz e prosperidade.

Bill Clinton foi um presidente que conseguiu grandes resultados, internos e externos, para o povo americano. Em seu período de governo a economia americana apresentava grande crescimento, baixo desemprego, inflação baixa, massa salarial crescente. Por tudo isso, Clinton foi um presidente muito popular. Sua presença no mundo foi altamente positiva, pois usou a grande influencia e poder do país para conciliar regiões com grande potencial para conflitos. O prestigio americano no mundo era bastante positivo.

Depois de Clinton veio George Bush, de uma família poderosa, seu pai foi também presidente, com grande participação no setor de petróleo. Possuíam amigos influentes e com grandes participações na poderosa indústria bélica americana. Esses interesses predominaram e estavam por trás das ações de seu governo, marcado principalmente pela desastrosa guerra do Iraque. Hoje, ao final do seu governo, a imagem americana no mundo é muito ruim. Em todos os continentes. Cresceu no seu governo, como há muito não se via, um sentimento caracterizado por um anti-americanismo crescente.

Agora o mundo parece ver em um dos candidatos à sucessão do presidente Bush uma grande expectativa de mudança nas relações mundiais. A palavra mágica é “hope”, esperança, que é a base do discurso do candidato Barack Obama do Partido Democrata nos EUA.

O mundo começou a se interessar por Obama e procurou conhecê-lo durante as eleições primárias que existem unicamente no sistema eleitoral dos Estados Unidos. As primárias são instrumentos importantes da democracia americana, pois tiram dos caciques políticos a prerrogativa da escolha dos candidatos a presidente. Sem as primárias Obama jamais seria escolhido candidato do Partido Democrata. Senador pelo estado de Illinois ele não era conhecido nacionalmente e não pertencia a nenhuma família importante das elites americanas. Negro, filho de emigrante mulçumano, e de sobrenome Hussein. Filho de Barack Obama economista queniano negro educado em Havard e Ann Dusham, branca de Wichita, estado do Kansas, ele nasceu em Honolulu, estado do Hawai em 1961. Seus pais se separaram quando ele tinha 2 anos. Obama morou na Indonésia enquanto criança, após sua mãe se casar com um indonésio e depois viveu com avós brancos no Hawai. Essas idas e vindas, segundo ele mesmo, lhe deram as ferramentas necessárias para que pudesse se tornar um político hábil na hora de fazer coligações e traçar alianças. Casou-se em 1992 com uma negra bonita, alta, inteligente, Michelle Robison Obama e tem duas filhas. Foi estudante brilhante em Columbia e Havard e trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago e foi eleito senador em 2004. Assim, passando parte de sua juventude no exterior, pele escura, descendência de mulçumanos, ele não teria chances de ser escolhido candidato, se não fossem as primárias. De outra maneira, como ganhar de Hilary Clinton, advogada muito respeitada, importante senadora, mulher de Bill Clinton, um dos cardeais do partido, casal de grande prestigio na sociedade americana, com amigos muito influentes e poderosos, depois de passar 8 anos na presidência em um bem sucedido governo da mais poderosa nação do planeta?

As primárias trouxeram um poderoso foco de luz sobre Obama e chamaram a atenção dos americanos e do mundo para o que ele dizia. Seu bordão era “Sim, nós podemos” que foi rapidamente incorporado por todos aqueles que estavam sem esperança com as crises do mundo e pela falta de perspectiva da exaurida economia americana. O americano via seu país ser considerado quase um vilão da humanidade motivado pelo intervencionismo do seu presidente, pela sua recusa em assinar os acordos mundiais para diminuir o efeito do aquecimento global, pela predominância dos interesses americanos em petróleo no mundo ao ponto de Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central dos EUA dizer em seu livro que a guerra do Iraque foi motivada pelos interesses americanos no petróleo iraquiano.

O carisma e o discurso forte de Obama acabaram por predominar entre os eleitores democratas e o levou, depois de duro embate com Hilary, a vitória.

Muitos pensaram que o partido enfrentaria os rivais republicanos divididos pelas longas e disputadas eleições primárias, mas a experiente Hilary abraçou a candidatura vitoriosa de Obama e uniu o partido em torno dele.

Agora enfrenta John McCain, indicado pelo Partido Republicano, e os adversários jogavam sobre ele a sua falta de experiência em política internacional. Mas ele acaba de espantar o mundo com uma muito bem sucedida viagem a alguns importantes países europeus.

Em seu único compromisso público, em Berlin, escolhida por ser uma cidade emblemática pelo que sofreu durante a guerra, pelo simbolismo do famoso muro e pelo esforço americano do pós-guerra no abastecimento da cidade bloqueada pelos soviéticos.

Foram ouvi-lo mais de 200 mil pessoas que vieram de todas as partes da Alemanha. Uma coisa nunca vista um candidato ao governo americano juntar tantos alemães para ouvir suas idéias para o mundo. E interromperam o discurso de 27 minutos mais de 30 vezes com grandes aplausos. E Obama não os decepcionou. Deixou claro que quer estreitar os laços com a Europa. O discurso focou cooperação, Irã, terrorismo, aquecimento global. Sorridente e sereno, apresentou à multidão as linhas gerais do que seria sua política externa. Disse que “foi nesta cidade que americanos e alemães aprenderam a trabalhar juntos” colocando a Europa como principal parceira dos EUA. Foi muito aplaudido quando lembrou os aviões americanos que lançavam alimentos na Berlim destruída após a segunda guerra mundial. Obama disse que está na hora de construir novas “pontes” entre países do mundo todo diante dos “muros” que ameaçam dividi-los. “A queda do muro de Berlim trouxe novas esperanças. Mas essa proximidade também trouxe outros perigos” lembrando que parte dos planos para o 11 de setembro foi traçada na Alemanha. “Precisamos de parceiros que escutem uns aos outros, que aprendam e acima de tudo, que confiem uns nos outros”, lembrando que alguns temas só poderão ser enfrentados com êxito com estreita cooperação internacional como o terrorismo, o tráfego de drogas, a pobreza, a imigração, a fome, o comércio internacional, o aquecimento global, entre outros. Defendeu o fim da guerra do Iraque, sob aplausos gerais.

No fim, a multidão gritava “Sim, nós podemos!” Obama é a esperança de um mundo ocidental que se preocupa. Ele concretiza a esperança de que não vai apenas modificar os EUA, mas a política em si.

Ele marcou o início da virada do sentimento antiamericano que bate índices recordes e domina a Europa desde pelo menos 2002.

Foi um começo e tanto!

Um comentário:

Ricardo Santos disse...

Ricardo Santos;


Quanta diplomacia, muito bom!