terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Presidente Obama

O resultado da eleição nos Estados Unidos foi recebido de maneira muito positiva por quase todo o mundo. Muitos fazem uma leitura ideológica que, a meu ver, não se justifica. Outros o fazem por achar que Obama mudará os Estados Unidos e, por conseguinte, mudará o mundo, trazendo esperança e paz.

Uma leitura apressada feita por muitos, inclusive no Brasil, é a de que a eleição de um negro representaria uma vitória contra o racismo. Os números da eleição americana mostram a coisa de maneira muito diferente. Senão vejamos: votaram 153,1 milhões de americanos. Os negros representam 13% dos eleitores ou 19,9 milhões. Desses, 95% declararam voto em Obama, ou seja, 18,91 milhões. Os hispânicos representam 8% do eleitorado ou 12,25 milhões de habitantes. Declararam voto em Obama 66% ou 8,09 milhões de eleitores. Os brancos são 74% dos eleitores ou 113,29 milhões. Declararam voto em Obama 43% ou 48,71 milhões. Em resumo, hispânicos e negros que votaram em Obama somam 27 milhões de eleitores. Brancos, 48,71 milhões. Portanto, quem elegeu Obama foram os brancos, maioria, os negros e os hispânicos. Em outras palavras, foram os americanos que elegeram Obama, democrata, senador americano, contra principalmente George Bush, republicanos, e a crise que está levando o país para a recessão e o desemprego. Outra interpretação pode ser bonita, mas agride a realidade. E é por isso que habilmente o presidente eleito, durante a campanha, fugiu da armadilha racista e sempre colocava, como meta, conseguir o apoio de todos os americanos. Nada de racismo. E o resultado mostra a grande evolução dos americanos na questão racial.

Barack Hussein Obama é um homem muito preparado, intelectualmente poderoso, de discurso brilhante, escritor de livros muito interessantes sobre a união do povo e dos políticos americanos. Formado com louvor pelas Universidades de Columbia e de Havard, forma com sua mulher Michelle um casal muito preparado. Advogados militantes de causas sociais. Vitorioso na vida, arrepende-se de ter tentado a nomeação como candidato à Câmara dos Representantes (equivalente a Câmara dos Deputados no Brasil), que perdeu. Como compensação, foi eleito por Illinois Senador Federal, depois de ser Senador Estadual, e agora em campanha brilhante que chamou a atenção e empolgou o mundo, se elegeu Presidente do país.

Falando como presidente eleito, no discurso que fez em comemoração à vitória, ele procurou ser comedido e realista, buscando mostrar as dificuldades que tem pela frente:

"Eu os ouvirei, especialmente quando discordarmos. E, acima de tudo, eu peço que vocês participem do trabalho de reconstrução desta nação, do jeito que tem sido feito na América há 221 anos - bloco por bloco, tijolo por tijolo, mão calejada por mão calejada. O que começamos há 21 meses, em pleno inverno, não pode terminar nesta noite de outono. Esta vitória isolada não é a mudança que buscamos. Ela representa apenas a oportunidade de fazermos a diferença. E isso não vai acontecer, se voltarmos ao modo como as coisas eram. [A mudança] não pode se feita sem vocês, sem um novo espírito de serviço, um novo espírito de sacrifício. Então alcemo-nos a um novo espírito de patriotismo, de responsabilidade, graças ao qual cada um de nós irá se levantar e trabalhar ainda mais e cuidar não apenas de si mesmo, mas também dos outros”.

Muito inteligente, Obama não se coloca como salvador da pátria. Não renega o passado, que evoca para dizer que a reconstrução da nação será feita como tem sido feito na América há 221 anos, bloco por bloco etc. Nada do discurso fácil do "nunca antes nesse país”. Chama a todos, sem distinção, para a reconstrução.

E continua chamando a atenção para os enormes desafios a enfrentar:

“E eu sei que vocês não fizeram isso só para ganhar uma eleição. Eu sei que vocês não fizeram tudo isso por mim. Vocês fizeram isso, porque entendem a grandiosidade da tarefa que nos espera. Por mais que comemoremos nesta noite, entendemos que os desafios de amanhã são os maiores de nossos tempos - duas guerras, um planeta em perigo, a pior crise financeira em um século”.

Procura se ombrear no grande presidente Abraham Lincoln e ao mesmo tempo desarmar os espíritos, chamando a todos para a união:

“Como [o ex-presidente Abraham] Lincoln [1861-1865] havia declarado a uma nação muito mais dividida do que a nossa, não somos inimigos, mas amigos. A paixão fervente pode ter se acirrado, mas não pode romper nossos elos de afeição. E àqueles americanos cujo apoio eu ainda terei que merecer, eu talvez não tenha ganho seu voto, mas eu ouço suas vozes. Preciso de sua ajuda. Serei seu presidente também”.

Enfatiza que não buscará a paz a qualquer preço e que o poder americano continuará. Mas enfatiza que a verdadeira força do país é a sua democracia, a liberdade e a oportunidade:

“Àqueles que querem destruir o nosso mundo: nós os derrotaremos. Àqueles que buscam paz e segurança: nós os apoiamos. E a todos que vêm se perguntando se o farol da América ainda brilha como antes: nesta noite nós provamos mais uma vez que a verdadeira força da nossa nação vem, não da bravura das nossas armas ou do tamanho da nossa riqueza, mas do poder duradouro de nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e inabalável esperança”.

Ninguém no mundo ficou indiferente a Obama. Se ele vai conseguir as mudanças que tem que fazer, depois do desastrado governo Bush, é outra história. Na sexta-feira, após longa reunião com seus assessores econômicos, disse em entrevista coletiva que "não será fácil sair do buraco”, premido pelas péssimas notícias de que em outubro os americanos tinham perdido 240 mil vagas de emprego e de que a indústria automobilística estava parando, com perdas enormes para a economia e os milhares de empregados que estão lá.

Bill Clinton, exitoso presidente americano, disse: "Você pode fazer campanha em poesia, mas governa em prosa”. Campanha é uma coisa, governar é outra, quis dizer o ex-presidente.

Tudo indica, porém, que o país está em boas mãos. Sua declaração de apoio absoluto à criação e manutenção dos empregos é muito importante. Paul Krugman, o novo prêmio Nobel de economia, Obama não pode ter medo e sua plataforma está correta. O desafio é avassalador mas, se ele tiver êxito, vai entrar para a galeria dos pilares da nação. Não vai ser fácil, mas o mundo vai torcer por ele!


Nenhum comentário: