sábado, 7 de novembro de 2009

Nobel de Economia 2009: O que o Maranhão Teve em Comum?

Reproduzo abaixo artigo do Professor José Lemos:

NOBEL DE ECONOMIA 2009: O QUE O MARANHÃO TEVE EM COMUM?

Uma das ganhadoras de Prêmio Nobel de Economia de 2009 é a Professora Elinor Ostrom, que não é Economista. Alguns colegas Economistas não gostaram desta premiação, não pelo fato de ela não ter o Diploma na área, mas pelo tipo de trabalho que desenvolve e que levou a Academia a lhe conceder uma das mais elevadas honrarias que um profissional pode receber em vida.

O trabalho da Professora Ostrom tem um enfoque bastante forte sobre a forma como as pessoas têm a capacidade, se fortalecidas em associações, de desenharem o seu destino. Quem é titulado em nível avançado, em geral, acredita que as pessoas simples não sabem o que querem e precisam estar sempre tuteladas por esses sábios. Por esta razão, uma quantidade inestimável de “boas idéias” e de “bons projetos” concebidos, gestados e paridos pela cabeça de “iluminados” não dá certo.

Um dos textos recentes da Professora Ostrom, que disponibilizo para os interessados na nossa página na internet, cujo título em português seria mais ou menos assim: “Análise Política para o Futuro de Boas Sociedades”, pode-se ter idéia desse comportamento até certo ponto arrogante de “Bem-treinados com Boas intenções” que, segundo a Professora acreditam na sua auto-capacidade de gestarem e produzirem modelos capazes de gerarem bons resultados para terceiros.

No livro “Mapa da Exclusão Social: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”, em sua segunda edição de 2008, nas suas primeiras paginas encontra-se uma frase de uma mulher pobre que a proferiu em um evento da SBPC em cuja mesa havia somente pessoas altamente qualificadas e ela era a representante dos pobres. Ela disse de forma clara: “Nós é pobre, mas nós não é besta. Nós sabe o que nós quer (sic)”. Dito com aquela eloqüência e ênfase deixou-nos todos a nos olhar e sem saber o que dizer.

No texto da ganhadora do Nobel de Economia de 2009 está dito que um bom caminho na formatação de análises consistentes de políticas que possam encaminhar-se para bons resultados não pode se desviar de perguntas básicas como: Que objetivos devem ser buscados e para beneficiar a quem? Qual a origem dos problemas que se quer resolver com a intervenção? Que caminhos futuros o grupo social poderá percorrer se a intervenção não for realizada? O que pode ser feito para conseguir mudanças na trajetória dos eventos de tal sorte que os objetivos possam ser mais do que superados e quem efetivamente irá se beneficiar?

Em síntese, o trabalho da Professora Ostrom sugere que deve haver o “empoderamento” dos sujeitos sociais, que implica nas decisões serem tomadas e encaminhadas por eles, sempre que os seus interesses estiverem em jogo.

No Governo de Zé Reinaldo esses fundamentos foram adotados, sobretudo quando foram desenhadas as intervenções que seriam feitas a partir do Programa de Desenvolvimento Integrado do Maranhao (PRODIM), com recursos do Banco Mundial.. Havia uma meta clara a ser atingida que era tirar o Maranhao do pior IDH que detinha em 2001 para um patamar de pelo menos 0,700 em 2006. Estava claro na formulação das políticas qual seria o público preferencial: os agricultores familiares maranhenses.

Para isso foi reconstruída a estrutura técnica e institucional que havia sido desmontada em meados dos anos 90. As famílias rurais foram estimuladas a construírem entidades legais e legítimas, por onde demandariam as ações de intervenção que lhes beneficiariam. Os resultados vieram. O Maranhão suplantou a meta de IDH. Os indicadores sociais e econômicos avançaram. Saímos da incômoda posição de Estado mais pobre da Federação. O trabalho da Nobel em Economia de 2009 respalda os resultados observados no Maranhão entre 2001 e 2006. Isso voltará em 2011 pela vontade da população do Estado, como já tinha feito em 29 de outubro de 2006. Não haverá Banca de “Juízes Iluminados” que castre o nosso futuro.

=================
José Lemos é Engenheiro Agrônomo. Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. lemos@ufc.br. Sítio Eletrônico: www.lemos.pro.br

Nenhum comentário: