quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Por que aluno inglês aprende mais que brasileiro?

Professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, o israelense Victor Lavy é um estudioso dos métodos que fazem com que as melhores escolas formem os melhores alunos. Comparando sistemas de todo o mundo, ele chegou a uma conclusão tão importante quanto alarmante: na média, o rendimento de um estudante de um país desenvolvido é duas vezes superior ao de um aluno de uma nação em desenvolvimento - incluindo o Brasil.

Na raiz do problema estão a dificuldade em atualização dos sistemas de ensino e o baixo envolvimento dos professores em sala de aula - além do elevado número de faltas dos mestres. Em visita ao Rio, para participar de seminário sobre educação e crescimento econômico, ele repetiu uma observação conhecida: o Brasil tem um longo caminho a seguir para conquistar um ensino de qualidade.

E concedeu a seguinte a seguir a VEJA.com.

Qual o efeito da carga horária no desempenho de estudantes de diferentes países?

A relevância das horas de instrução nas escolas dos países desenvolvidos é maior do que nas nações em desenvolvimento e subdesenvolvidas. O rendimento dos estudantes nos países do primeiro grupo é duas vezes superior ao dos demais, para o mesmo número de horas-aula.

Qual a razão dessa diferença?

Vários fatores podem ser analisados: de que forma as instituições de ensino treinam seus professores, quantos esforços são investidos pelas escolas para garantir melhorias no ensino e quanto é transmitido aos estudantes dentro da sala de aula. Em países como o Brasil ou outras nações em desenvolvimento, existem os professores que não frequentam regularmente seu ambiente de trabalho - há muitas faltas - ou apresentam desempenho apenas regular frente às turmas - o que não acontece de maneira nenhuma nas nações desenvolvidas.

Então, podemos dizer que um aluno que estuda seis horas por dia na África não aprende da mesma forma que um estudante com a mesma carga horária na Inglaterra?


Sim, é claro. Isso é exatamente o que eu analiso em meu estudo.

Mas isso não está relacionado apenas à qualidade de educação? Em um país desenvolvido, o sistema de educação costuma ser melhor do que o de um subdesenvolvido, não?

Correto. Mas o sistema de educação da Finlândia ou Noruega, por exemplo, é melhor do que o do Brasil e Argentina em diferentes aspectos. No meu estudo, eu avalio apenas as questões que envolvem as diferenças no número de horas-aula em cada país e o quanto o estudante aprende em cada uma dessas horas com o professor em sala de aula. Mas existem também outros fatores determinantes, como violência na comunidade, barulho nas salas de aula e menor comprometimento dos professores nos países mais pobres. Há vários fatores que explicam por que o sucesso e a performance dos estudantes em países em desenvolvimento é mais baixo do que nos países desenvolvidos - e esses são apenas alguns dos exemplos.

Quais países mais surpreenderam o senhor em termos de sistemas de educação?

Estudei as práticas do sistema educacional em nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como Nova Zelândia, Alemanha e Austrália, além de outras do velho bloco soviético e em desenvolvimento. Os países desenvolvidos com o nível de educação alto são Finlândia, Dinamarca e Noruega, por exemplo, no grupo da Europa. Taiwan, Cingapura, Hong Kong e Coreia do Sul fazem parte da alta performance educacional da Ásia. Minha análise serviu para avaliar o quão efetivo é o tempo que as crianças passam em sala de aula com seus professores.

O senhor estudou apenas escolas públicas?

Não. Em alguns países, existem escolas privadas que também analisei. Eu ainda estou procurando por diferenças entre as escolas públicas e privadas. Nas escolas particulares, claro, há mais horas-aula de todas as matérias, mas não é uma diferença muito grande. É uma questão que está aberta e eu ainda estou pesquisando a respeito.

Existe algum segredo para a educação de qualidade?

Em minha análise, conclui que alguns pontos são muito importantes para melhorar o aprendizado. Um deles é a autonomia que as instituições de ensino têm para contratar e demitir professores e determinar seus salários. Em segundo lugar está a flexibilidade das escolas, para que elas tenham liberdade para decidir o que vão fazer em seus programas. Em terceiro, está o que chamamos de responsabilidade, ou seja, a informação sobre a performance dos estudantes em cada escola é transferida, aberta e conhecida pela comunidade. Acredito que esses sejam os três pontos principais que levantei em meu estudo para determinar a qualidade de ensino em relação ao desempenho dos alunos.

O que o senhor concluiu sobre o Brasil?

Existem dois pontos principais que podem ser melhorados. Primeiro, no Brasil, a carga horária de disciplinas como ciências, matemática e leitura é inferior se comparada à dos países desenvolvidos - é preciso melhorar essa questão. Além disso, a qualidade do ensino e o desempenho dos alunos são muito inferiores aos demais países. Assim, o Brasil deve acompanhar o desempenho dos países desenvolvidos, aumentando o tempo que as crianças passam na escola, a flexibilidade e autonomia das instituições para contratar e demitir professores, entre outras medidas. O Brasil tem um longo caminho a seguir para melhorar todos esses aspectos e alcançar uma educação realmente de qualidade.

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