quarta-feira, 19 de maio de 2010

Revista Época revelou elo entre Fernando e empresário do PI

Paulo Guimarães, o PG, é antigo parceiro de Fernando Sarney no mundo dos negócios

POR OSWALDO VIVIANI

Todos os indícios e provas levantados nas investigações da Operação Boi Barrica indicam que o grupo empresarial do Piauí que ajudou Fernando Sarney na transação de lavagem de dinheiro conhecida como “dólar-cabo” seria o do empresário Paulo Delfino Fonseca Guimarães, conhecido como o PG. Ele é dono de emissoras de televisão e jornais [grupo Meio Norte, de Teresina], de uma das maiores distribuidoras de medicamentos do país e de mais 15 empresas.

Em julho do ano passado, logo após Fernando Sarney ser indiciado por quatro crimes – formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e gestão de instituição financeira irregular –, a revista Época revelou o elo entre Fernando e PG.

A reportagem, de autoria de Andrei Meireles e Ricardo Mendonça, primeiramente resgata os aspectos principais das investigações Operação Boi Barrica – divulgada em primeira mão pelo Jornal Pequeno em 28 de setembro de 2008. Em seguida, trata das relações entre Fernando Sarney e Paulo Guimarães – este classificado como “um espectro que assombra a família Sarney há uma década” e “antigo parceiro de Fernando Sarney no mundo dos negócios”.

Reveja o trecho principal da reportagem da Época, já reproduzida no ano passado pelo JP.

O indiciamento de Fernando Sarney se deve à Operação Boi Barrica, uma investigação aberta pela Polícia Federal em fevereiro de 2007 a partir de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério da Fazenda. O Coaf detectou movimentações atípicas nas contas bancárias de Fernando e sua mulher, Teresa - como saques em espécie de R$ 2 milhões -, às vésperas das eleições de 2006. Naquele ano, Roseana Sarney disputou e perdeu as eleições para o governo do Maranhão. Só tomou posse no cargo neste ano [2009] depois da cassação do adversário Jackson Lago pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A investigação da Operação Boi Barrica - nome de um grupo de bumba-meu-boi que tem os Sarney como padrinhos - se desdobrou em cinco inquéritos. Fernando Sarney e Teresa foram indiciados no inquérito em fase mais adiantada para a conclusão - o que trata das relações entre as empresas de comunicação da família Sarney, o Grupo Mirante, e a São Luís Factoring. A empresa de factoring foi criada por Teresa Sarney, tem sede no mesmo local das empresas da família Sarney, não tem clientes, mas chegou a movimentar R$ 11,6 milhões em 2006, segundo um relatório da Polícia Federal. A suspeita dos investigadores é que a empresa de factoring tenha sido criada apenas para simular operações do grupo Sarney, reduzir a base de cálculo de tributos e sonegar impostos.

‘Turma da Poli’ - O inquérito mais embaraçoso para Sarney e o filho Fernando, porém, não é esse. É o que mostra, no entendimento da Polícia Federal, que Fernando Sarney manipulava licitações públicas, desviava dinheiro de obras públicas e mantinha negócios ilícitos à sombra do Estado, aproveitando-se da influência e do poder do pai. Com base em interceptação de telefonemas, e-mails e documentos apreendidos graças a quebras de sigilo autorizadas pela Justiça, a PF diz ter detectado uma “organização criminosa” dentro da administração pública federal. Ela teria sido montada por Fernando Sarney, um engenheiro eletricista formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio de seus antigos colegas de faculdade, a turma da Poli de 1978 (tema da reportagem “O grupo da Poli de 78”, publicada por Época em 10 de outubro de 2008).

A turma é formada, entre outros, por Astrogildo Quental, diretor financeiro e de relações com investidores da Eletrobrás, estatal do setor elétrico que movimenta cerca de R$ 6 bilhões por ano, e Ulisses Assad, [ex-diretor de engenharia da Valec, uma estatal ligada ao Ministério dos Transportes, responsável pela Ferrovia Norte-Sul; foi exonerado no mês passado]. A investigação da PF tem transcrições de conversas em que Fernando Sarney discute com amigos nomeações para a Eletrobrás. Segundo a PF, outros dois ex-colegas de Poli de Fernando Sarney - Gianfranco Perasso e Flávio Barbosa Lima - teriam montado empresas de consultoria de fachada para negócios com empresas públicas. Em uma conversa captada pela PF, Gianfranco comemora a nomeação de Ronaldo Braga para a diretoria comercial da Manaus Energia, uma empresa do grupo Eletrobrás, obtida graças à influência de Sarney.

Movimentações no exterior – Em poder da PF, há também documentos que registram movimentações financeiras de Fernando Sarney no exterior e mencionam contas em paraísos fiscais do Caribe, como as Bahamas e as Ilhas Virgens Britânicas. A transação mais intrigante (publicada por Época em outubro de 2008) é uma transferência de US$ 1 milhão, autorizada com a assinatura de Fernando Sarney, para uma conta no banco Hong Kong and Shanghai Banking, na China. A remessa foi intermediada pelo banco HSBC, nos EUA, e teve como beneficiário final uma empresa de nome Prestige Cycle Parts & Accessories Limited. Para tentar decifrar a natureza dessa transferência, os investigadores da PF e do Ministério Público Federal pediram a colaboração do governo chinês. Em um de seus relatórios, os delegados da PF deixam transparecer que a remessa para a China teria relação com uma antiga parceria que Fernando Sarney mantém no mundo dos negócios com o empresário Paulo Delfino Fonseca Guimarães, conhecido como o PG.

O espectro de PG - Paulo Guimarães é um fantasma que assombra a família Sarney há uma década. Ele é dono de emissoras de televisão e jornais [grupo Meio Norte, de Teresina], de uma das maiores distribuidoras de medicamentos do país e de mais 15 empresas. Ele ganhou notoriedade há dez anos. Seu bingo Poupa Ganha, um de seus mais rentáveis empreendimentos, virou um escândalo ao ser acusado de lesar os clientes, lavar dinheiro e sonegar impostos. O bingo fechou depois de uma devassa da Receita Federal. Filho de um político [Napoleão Guimarães] que por três vezes foi prefeito de Timon, município do Maranhão na divisa com o Piauí, PG sempre teve ligações com o clã Sarney. José Sarney é seu padrinho. Fernando, seu amigo e sócio.

Paulo Guimarães costumava se exibir como um representante dos Sarney no Piauí. Fernando era passageiro habitual de seus dois helicópteros e de um Learjet 55. Os dois eram sócios em vários negócios. Até hoje, PG tem a concessão de um canal de televisão cuja sede é a TV Mirante, a emissora da família Sarney no Maranhão. Em Codó, município do Maranhão, uma emissora de TV está registrada em nome de Teresa Murad Sarney (mulher de Fernando) e da mãe de PG.

Depois de Paulo Guimarães virar alvo de investigação do Ministério Público, da Receita Federal e da CPI do Narcotráfico, Fernando Sarney espalhou em São Luís que não fazia mais negócios com o antigo parceiro. O próprio PG foi morar em Miami, onde diz a amigos que vive de renda. Em março do ano passado [2008], a Polícia Federal descobriu que a parceria não foi desfeita. Numa conversa por telefone, gravada com ordem judicial, Fernando Sarney trata de negócios com PG.
Quando o assunto fica mais delicado, Fernando, preocupado com o grampo telefônico, diz a PG para continuar a conversa por mensagem de texto com outra pessoa. Em seguida, Fernando liga para sua secretária e pede a ela que informe a PG que a mensagem deveria ser encaminhada a Ana Clara, a filha de Fernando que mora em São Paulo e é um dos alvos da investigação da Operação Boi Barrica. O próprio Fernando telefona para Ana Clara e avisa que Paulo Guimarães, que “está tratando daquele negócio”, vai entrar em contato com ela.

No dia 4 de março de 2008, a Polícia Federal grampeou a troca de mensagens entre PG e Ana Clara. De acordo com a transcrição registrada no inquérito, a conversa que Fernando Sarney não queria ter por telefone ocorreu assim por e-mail:

Paulo Guimarães - Você quer receber aí no Rural (suposta referência ao Banco Rural) na próxima semana ou junto aqui e até a próxima semana pega aqui tudo de uma vez, você que escolhe.
Ana Clara - Como seria essa entrega aqui? Quem pegaria? Como seria feito?
Paulo Guimarães - Duas carradas de leite Ninho e duas de Perlagon preços da Nestlé com nota fiscal do distribuidor do Piauí, você arranja quem pega aí.
Ana Clara - Me lig de um bom n. (A transcrição em poder da PF é feita dessa forma, mas depreende-se que o sentido da frase é “me liga de um bom número.)
No relatório da PF, os delegados afirmam que “as mensagens transcritas, embora cifradas, denotam, pela situação em si, não se tratar de algo lícito, até pela maneira como buscaram se evadir”. A revista Época ouviu quatro pessoas que tiveram funções estratégicas nas empresas de Paulo Guimarães e duas ligadas à família Sarney que dizem conhecer os negócios de Fernando. Todos falaram sob a condição de não serem identificados. De acordo com eles, Fernando e PG são sócios em algumas empresas de comunicação e manteriam parcerias em outros empreendimentos de PG. Segundo uma das fontes, os negócios dessa parceria hoje seriam administrados por Ana Rosa Fonseca Guimarães Souza, irmã de PG.

Negócios milionários - Registros em cartórios, juntas comerciais, Receita Federal e processos na Justiça mostram como PG tornou-se especialista em manipular ativos e passivos de empresas para concentrar as dívidas em firmas falidas e esconder os verdadeiros donos de negócios milionários. No papel, todos os seus empreendimentos estão em nome de quatro empresas com registro na mesma caixa postal nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal. Nos registros da holding do grupo empresarial de Paulo Guimarães, os sócios são a offshore Valspar, com 99,9% das cotas, e a irmã Ana Rosa Guimarães, com 0,1%, que também é procuradora da Valspar.

Por causa de dívidas milionárias com a Receita Federal e o INSS (cerca de R$ 210 milhões), os negócios de PG também foram investigados pela Procuradoria Federal da União. No processo enviado à Justiça, a procuradora federal Auzeneide Maria da Silva Wallraf esmiúça essa troca de controle acionário. “O esquema é engenhoso. O alvo é claro, disfarçar, esconder a responsabilidade do diretor-presidente, demais dirigentes, sócios e administradores (pessoas físicas e jurídicas)”, afirma a procuradora Auzeneide Wallraf em petição à Justiça, na qual pediu o bloqueio de bens de todas as empresas do grupo Paulo Guimarães.

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Um comentário:

Anônimo disse...

É BRINCADEIRA O QUE ESSAS PESSOAS ESTÃO FAZENDO COM O DINHEIRO PÚBLICO, SIM, PORQUE SEM O DINHEIRO DO CONTRIBUINTE ESSES CRIMINOSOS NÃO ESTARIAM ESCONDENDO DINHEIRO NOS PARAISOS FISCAIS. AGORA, PARA CONSEGUIR TER ACESSO AO DINHEIRO QUE PAGAMOS OS IMPOSTOS TODOS OS MESES DESCONTADO NOS NOSSOS CONTRA-CHEQUES, A QUADRILHA PRECISA DE ALGUÉM QUE POSSA PASSAR INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS E TENHA PODER DE NOMEAR PESSOAS PARA CARGOS EM QUE POSSA AUXILIÁ-LOS NO FURTO DO DINHEIRO PÚBLICO, E QUEM É ESSA PESSOA? JOSÉ SARNEY PRESIDENTE DO SENADO. ALGUÉM DUVIDA??