A crise no PT não é irrelevante. Provocada pela adesão do partido à causa de José Sarney. Acho que estamos todos — refiro-me aos que escrevemos sobre política — mais ou menos equivocados sobre os motivos. O que é que se toma como dado na equação? Temeroso de prejudicar a candidatura de Dilma Rousseff, que precisa do apoio do PMDB, Lula decidiu emprestar solidariedade incondicional ao presidente do Senado porque considera que sua renúncia ou destituição da presidência da Casa prejudicaria o seu governo.
Será mesmo? Por quê? Quem é capaz de apontar os prejuízos efetivos? Como todos sabem, é uma falácia afirmar que o tucano Marconi Perillo (GO), vice-presidente, passaria a presidir o Senado. Seria assim por algum tempo. Outra eleição teria de ser feita. O governo tem a maioria necessária para fazer o novo presidente. Por que esse apoio obstinado?
Atenção! Lula já abandonou companheiros de jornada ao relento, petistas legítimos. Não se esqueçam: num dado momento, descolou-se de José Dirceu, de quem, de fato, nunca foi pessoalmente íntimo. Quando foi necessário, chamou Antonio Palocci e mandou ver: “Não posso seguir a partir daqui”. Lula sempre levou adiante a máxima de que o primerio dever de um estadista é a traição. E ele se considera, como sabem, um estadista. Estou chamando a atenção dos senhores para o fato de que o presidente está sendo mais persistentemente fiel a Sarney do que àqueles que detinham — e ainda detêm — alguns segredos do PT.
Num raciocínio que não requer grande complexidade, pode-se dizer que os benefícios que uma eventual composição com o PMDB trarão a Dilma podem ser anulados por essa proximidade com Sarney. Nada gruda em Lula, já sabemos. Mas ele tem uma imunidade única. Pode até dizer que seu Lexotan é um livro. E daí? O cara já nasceu sabendo. Ele diz isso, e alguns intelectuais aplaudem (eles também detestam leitura). Mas o partido sabe que está arcando com um desgaste que não é pequeno. Pior para uma liderança de São Paulo, como Aloizio Mercadante, que depende de uma eleição majoritária. Berzoini se reelege deputado com o voto petista. O senador, que pretende a reeleição, percebeu que Sarney passou a ser um fator de risco. Por isso tentou e tenta descolar o seu bigode do bigode do outro. Sente o as farpas (eco!) do beijo da morte.
Para o PT, Sarney é um daqueles casos em que a soma resulta menor do que o original — o sinal do homem é mesmo negativo. Quase 80% dos brasileiros gostariam de apeá-lo da presidência do Senado. Mas Lula fechou questão e, como sempre, bateu a mão na mesa e exigiu fidelidade do partido. Que se ajoelhou e até emitiu uma nota a respeito (ver posts de ontem). É bem verdade que ninguém precisa mandar Berzoniev fazer certas coisas. Ele age por gosto e vocação.
O que não conseguimos dizer até agora — nenhum de nós chegou lá — é por que Lula vive a sua mais persistente fidelidade. Até Mariza Letícia deve estar dizendo: “Gente, ele nunca foi assim”. O segredo, estou certo, está naquela reunião quase secreta de José Sarney com Dilma Rousseff enquanto Lula trocava abraços-e-beijinhos-e-carinhos-sem-ter-fim com o assassino em massa Muammar Khadaffi, na Líbia — naquele dia, num amarelo deslumbrante! Lula chamou o homicida de “amigo e irmão” — convenham: abraçar Sarney, perto disso, é pinto de bigode…
Se vocês recuperarem o noticiário, o presidente da República se preparava para deixar o peemedebista no deserto, como sempre faz um líder petista quando alguém cai em desgraça. Mas a conversa com Dilma mudou o rumo da história. E Sarney adquiriu, então, aquela face do obstinado. E passou a contar com o apoio incondicional, mesmo!, de Lula. Tudo por causa da eleição? Ora, ora, ora… Pensemos.
Caso Lula tivesse decidido (se pudesse) livrar-se de Sarney, vocês acham mesmo que os patriotas do PMDB romperiam com o governo para seguir um líder decrépito rumo, na melhor das hipóteses, ao oblívio? Sei que é difícil, mas deixem um pouco os escrúpulos de lado, escondendo de si mesmos a própria carteira, e tentem se colocar no lugar daquela gente. Lembrem-se: vocês são eles agora. O que fariam? “Ah, não! Sou Sarney até morrer! O governo que se dane! Aqui estão os meus cargos. Cansei desses ministérios, dessas estatais, dessas empreiteiras, dessa gente nos tentando com caixa de campanha… Cansei de tudo isso! Em vez de ficar com o Sarney do Brasil, vou ficar com o Sarney do Maranhão e do Amapá…” Vocês, sendo vocês, não ficariam com nenhum dos dois porque são éticos. Eles, sendo eles, ficariam com Lula porque não são burros.
Lula dorme lendo livros do Chico Buarque, mas não dorme com olhos alheios. Sempre foi um grande calculista. Ele está vendo o preço a pagar por manter o apoio a Sarney — e não é pequeno —, mas certamente sabe que o outro seria maior. E nada tem a ver com a disputa eleitoral de Dilma Rousseff. Ou alguém acha que essa lambança toda com Sarney colabora com a candidatura Dilma?
Lula não fechou com Sarney para se proteger da oposição. Lula fechou com Sarney para se proteger de Sarney!
Link Original
Será mesmo? Por quê? Quem é capaz de apontar os prejuízos efetivos? Como todos sabem, é uma falácia afirmar que o tucano Marconi Perillo (GO), vice-presidente, passaria a presidir o Senado. Seria assim por algum tempo. Outra eleição teria de ser feita. O governo tem a maioria necessária para fazer o novo presidente. Por que esse apoio obstinado?
Atenção! Lula já abandonou companheiros de jornada ao relento, petistas legítimos. Não se esqueçam: num dado momento, descolou-se de José Dirceu, de quem, de fato, nunca foi pessoalmente íntimo. Quando foi necessário, chamou Antonio Palocci e mandou ver: “Não posso seguir a partir daqui”. Lula sempre levou adiante a máxima de que o primerio dever de um estadista é a traição. E ele se considera, como sabem, um estadista. Estou chamando a atenção dos senhores para o fato de que o presidente está sendo mais persistentemente fiel a Sarney do que àqueles que detinham — e ainda detêm — alguns segredos do PT.
Num raciocínio que não requer grande complexidade, pode-se dizer que os benefícios que uma eventual composição com o PMDB trarão a Dilma podem ser anulados por essa proximidade com Sarney. Nada gruda em Lula, já sabemos. Mas ele tem uma imunidade única. Pode até dizer que seu Lexotan é um livro. E daí? O cara já nasceu sabendo. Ele diz isso, e alguns intelectuais aplaudem (eles também detestam leitura). Mas o partido sabe que está arcando com um desgaste que não é pequeno. Pior para uma liderança de São Paulo, como Aloizio Mercadante, que depende de uma eleição majoritária. Berzoini se reelege deputado com o voto petista. O senador, que pretende a reeleição, percebeu que Sarney passou a ser um fator de risco. Por isso tentou e tenta descolar o seu bigode do bigode do outro. Sente o as farpas (eco!) do beijo da morte.
Para o PT, Sarney é um daqueles casos em que a soma resulta menor do que o original — o sinal do homem é mesmo negativo. Quase 80% dos brasileiros gostariam de apeá-lo da presidência do Senado. Mas Lula fechou questão e, como sempre, bateu a mão na mesa e exigiu fidelidade do partido. Que se ajoelhou e até emitiu uma nota a respeito (ver posts de ontem). É bem verdade que ninguém precisa mandar Berzoniev fazer certas coisas. Ele age por gosto e vocação.
O que não conseguimos dizer até agora — nenhum de nós chegou lá — é por que Lula vive a sua mais persistente fidelidade. Até Mariza Letícia deve estar dizendo: “Gente, ele nunca foi assim”. O segredo, estou certo, está naquela reunião quase secreta de José Sarney com Dilma Rousseff enquanto Lula trocava abraços-e-beijinhos-e-carinhos-sem-ter-fim com o assassino em massa Muammar Khadaffi, na Líbia — naquele dia, num amarelo deslumbrante! Lula chamou o homicida de “amigo e irmão” — convenham: abraçar Sarney, perto disso, é pinto de bigode…
Se vocês recuperarem o noticiário, o presidente da República se preparava para deixar o peemedebista no deserto, como sempre faz um líder petista quando alguém cai em desgraça. Mas a conversa com Dilma mudou o rumo da história. E Sarney adquiriu, então, aquela face do obstinado. E passou a contar com o apoio incondicional, mesmo!, de Lula. Tudo por causa da eleição? Ora, ora, ora… Pensemos.
Caso Lula tivesse decidido (se pudesse) livrar-se de Sarney, vocês acham mesmo que os patriotas do PMDB romperiam com o governo para seguir um líder decrépito rumo, na melhor das hipóteses, ao oblívio? Sei que é difícil, mas deixem um pouco os escrúpulos de lado, escondendo de si mesmos a própria carteira, e tentem se colocar no lugar daquela gente. Lembrem-se: vocês são eles agora. O que fariam? “Ah, não! Sou Sarney até morrer! O governo que se dane! Aqui estão os meus cargos. Cansei desses ministérios, dessas estatais, dessas empreiteiras, dessa gente nos tentando com caixa de campanha… Cansei de tudo isso! Em vez de ficar com o Sarney do Brasil, vou ficar com o Sarney do Maranhão e do Amapá…” Vocês, sendo vocês, não ficariam com nenhum dos dois porque são éticos. Eles, sendo eles, ficariam com Lula porque não são burros.
Lula dorme lendo livros do Chico Buarque, mas não dorme com olhos alheios. Sempre foi um grande calculista. Ele está vendo o preço a pagar por manter o apoio a Sarney — e não é pequeno —, mas certamente sabe que o outro seria maior. E nada tem a ver com a disputa eleitoral de Dilma Rousseff. Ou alguém acha que essa lambança toda com Sarney colabora com a candidatura Dilma?
Lula não fechou com Sarney para se proteger da oposição. Lula fechou com Sarney para se proteger de Sarney!
Link Original
Nenhum comentário:
Postar um comentário