Frei Betto, que foi assessor especial da Presidência da República no começo do governo Lula, desencantou-se quando este, depois da história do mensalão, achou que só podia governar, unindo-se aos coronéis mais atrasados do nordeste e do país. Foi demais e o Frei pediu para sair... Não queria – e com razão – essa contaminadora companhia.
Recentemente escreveu um artigo, cuja publicação foi feita pela Folha de S. Paulo no último domingo. O artigo, muito inspirado, veio sob o título “Catilina abusa de nossa paciência”. Vejamos:
"Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?", indagou Marco Túlio Cícero ao senador Lúcio Sérgio Catilina, a 8 de novembro de 63 a.C., em Roma. Flagrado em atitudes criminosas, Catilina se recusa a renunciar ao mandato.
Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, pôs em sua boca a indignação popular: "Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disso conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?"…
"Ó tempos, ó costumes!", exclamou Cícero, movido por atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado… "Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?" .
Jurista, Cícero se esforçou para que Catilina admitisse os seus graves erros: "É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia"...
Se Catilina permanecia no Senado, não era apenas a vontade própria que o sustentava, mas sobretudo a cumplicidade dos que teriam a perder, com a renúncia dele, proveitos políticos. Daí a exclamação de Cícero: "Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?".
Catilina fingia não se dar conta da gravidade da situação. Fazia ouvidos moucos, jurava inocência, agarrava-se doentiamente a seu mandato…
(...)
Cícero não demonstrava esperança de que seu libelo fosse ouvido: "Mas de que servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma coisa fazer-te dobrar? Tu, como poderás algum dia corrigir-te?". E não poupou os políticos que, apesar de tudo, apoiavam Catilina: "Há, todavia, nesta ordem de senadores, alguns que ou não veem aquilo que nos ameaça ou fingem ignorar aquilo que veem".
Acuado, Catilina se refugiou na Etrúria e morreu em 62 a.C. Cícero, afastado do Senado por Júlio César, foi assassinado em 43 a.C. Um século depois, Calígula, desgostoso com o Senado, nomearia senador seu cavalo Incitatus, com direito a 18 assessores, um colar de pedras preciosas, mantas de cor púrpura e uma estátua, em tamanho real, de mármore com pedestal em marfim.
É claro que o Frei Betto, ao reviver a história romana, estava olhando para o Brasil, especificamente para Sarney, que, ao mesmo tempo que desce a nível moral nunca conhecido por outro ex-presidente da República, realiza que o faz arrastando consigo a imagem do Senado e dos políticos brasileiros.
E a instituição desce ao inferno no julgamento da opinião pública, porque não consegue se livrar de Sarney, que como Catilina, não admite renunciar. E o faz, frise-se, contra a vontade dos brasileiros, conforme pesquisa do DataFolha publicada domingo.
De acordo com a referida consulta, 78% da população foi informada do caso envolvendo Sarney. Destes, 74% querem o seu afastamento. Quase a unanimidade! O presidente do Senado está passando de “coronel” a kamikaze. Será que Catilina reencarnou em nele?
E mais: por um lado, vem à tona agora que empresas offshore, sediadas em paraísos fiscais, investem na Fundação que leva seu nome. Que inusitado! Por outro, descobre-se que familiares moram em apartamentos comprados por empreiteiros que trabalham para o Ministério de Minas e Energia. Outra grande coincidência, não acham?
Ouve-se dizer agora também que no começo do ano, um certo diretor do Senado, informou a Sarney sobre os atos secretos, os mesmos atos que este, recentemente, disse nunca ter ouvido falar. De onde provém tanto esquecimento?
Tudo isso cobre o Maranhão de vergonha, culpado de manter no poder a família Sarney por tanto tempo. Sim, porque o julgamento do Brasil sobre o Maranhão é severo e então, automaticamente, passamos a ser repositório de todo o tipo de insultos e de brincadeiras como uma terrível menção aos senadores do estado em esquete apresentado na última edição do humorístico Casseta e Planeta, da rede Globo. Passamos por indolentes, desfribados, abjetos, acomodados, medrosos e culpados pelos mal-feitos de Sarney e da família, tão exaustivamente mostrados na mídia... Nunca uma família ou uma pessoa causou tanto mal ao nosso estado, tanta vergonha. Lamentável.
Só há uma maneira de mostrar que o povo do Maranhão é digno, altaneiro e forte. Em 2010, vamos mostrar ao Brasil, pelo voto, que também não aceitamos mais os Sarney! Nem aqui, nem no Amapá, nem em qualquer lugar.
E para terminar, o ministro do TSE, Carlos Ayres de Britto, que no julgamento do governador Jackson Lago, demonstrou muito querer cassá-lo, surpreendeu a todos ao reabrir o processo de cassação. Quase nunca acontece isso, mas aconteceu. Ele acolheu reclamação do ex-ministro Resek e mandou o processo ao Supremo para decidir sobre duas questões: a primeira consiste no questionamento se o TSE pode anular todos os votos dados a um governador eleito pelo povo, (principalmente em uma confusa sessão em que, embora dois ministros tenham dito não ver ali nada de errado, assomou a contestada decisão de 4 x 3 votos, que cassou o governador eleito). Isso sem falar no agravante que consiste no fato do prejudicado não poder recorrer, como de resto ocorre sempre na justiça comum.
A segunda questão diz respeito à dúvida que recaiu quando, decidido pela cassação, por que motivo o TSE não cumpriu as Constituições do Brasil e do Maranhão, que, em caso de vacância do cargo, manda fazer nova eleição direta, se a decisão ocorrer nos dois primeiros anos do governo e indireta nos últimos dois. Por este questionamento, será revista assim a decisão, por todos criticada, de dar o governo a quem perdeu as eleições.
Cumpre-nos então informá-los, caríssimos leitores, que, se antes a atual governadora do Maranhão já era ilegítima, agora está também sub judice, escancarando a terrível precariedade desse governo biônico.
É bom colocar as “barbas” (e bigodes, naturalmente) de molho...
Recentemente escreveu um artigo, cuja publicação foi feita pela Folha de S. Paulo no último domingo. O artigo, muito inspirado, veio sob o título “Catilina abusa de nossa paciência”. Vejamos:
"Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?", indagou Marco Túlio Cícero ao senador Lúcio Sérgio Catilina, a 8 de novembro de 63 a.C., em Roma. Flagrado em atitudes criminosas, Catilina se recusa a renunciar ao mandato.
Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, pôs em sua boca a indignação popular: "Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disso conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?"…
"Ó tempos, ó costumes!", exclamou Cícero, movido por atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado… "Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?" .
Jurista, Cícero se esforçou para que Catilina admitisse os seus graves erros: "É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia"...
Se Catilina permanecia no Senado, não era apenas a vontade própria que o sustentava, mas sobretudo a cumplicidade dos que teriam a perder, com a renúncia dele, proveitos políticos. Daí a exclamação de Cícero: "Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?".
Catilina fingia não se dar conta da gravidade da situação. Fazia ouvidos moucos, jurava inocência, agarrava-se doentiamente a seu mandato…
(...)
Cícero não demonstrava esperança de que seu libelo fosse ouvido: "Mas de que servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma coisa fazer-te dobrar? Tu, como poderás algum dia corrigir-te?". E não poupou os políticos que, apesar de tudo, apoiavam Catilina: "Há, todavia, nesta ordem de senadores, alguns que ou não veem aquilo que nos ameaça ou fingem ignorar aquilo que veem".
Acuado, Catilina se refugiou na Etrúria e morreu em 62 a.C. Cícero, afastado do Senado por Júlio César, foi assassinado em 43 a.C. Um século depois, Calígula, desgostoso com o Senado, nomearia senador seu cavalo Incitatus, com direito a 18 assessores, um colar de pedras preciosas, mantas de cor púrpura e uma estátua, em tamanho real, de mármore com pedestal em marfim.
É claro que o Frei Betto, ao reviver a história romana, estava olhando para o Brasil, especificamente para Sarney, que, ao mesmo tempo que desce a nível moral nunca conhecido por outro ex-presidente da República, realiza que o faz arrastando consigo a imagem do Senado e dos políticos brasileiros.
E a instituição desce ao inferno no julgamento da opinião pública, porque não consegue se livrar de Sarney, que como Catilina, não admite renunciar. E o faz, frise-se, contra a vontade dos brasileiros, conforme pesquisa do DataFolha publicada domingo.
De acordo com a referida consulta, 78% da população foi informada do caso envolvendo Sarney. Destes, 74% querem o seu afastamento. Quase a unanimidade! O presidente do Senado está passando de “coronel” a kamikaze. Será que Catilina reencarnou em nele?
E mais: por um lado, vem à tona agora que empresas offshore, sediadas em paraísos fiscais, investem na Fundação que leva seu nome. Que inusitado! Por outro, descobre-se que familiares moram em apartamentos comprados por empreiteiros que trabalham para o Ministério de Minas e Energia. Outra grande coincidência, não acham?
Ouve-se dizer agora também que no começo do ano, um certo diretor do Senado, informou a Sarney sobre os atos secretos, os mesmos atos que este, recentemente, disse nunca ter ouvido falar. De onde provém tanto esquecimento?
Tudo isso cobre o Maranhão de vergonha, culpado de manter no poder a família Sarney por tanto tempo. Sim, porque o julgamento do Brasil sobre o Maranhão é severo e então, automaticamente, passamos a ser repositório de todo o tipo de insultos e de brincadeiras como uma terrível menção aos senadores do estado em esquete apresentado na última edição do humorístico Casseta e Planeta, da rede Globo. Passamos por indolentes, desfribados, abjetos, acomodados, medrosos e culpados pelos mal-feitos de Sarney e da família, tão exaustivamente mostrados na mídia... Nunca uma família ou uma pessoa causou tanto mal ao nosso estado, tanta vergonha. Lamentável.
Só há uma maneira de mostrar que o povo do Maranhão é digno, altaneiro e forte. Em 2010, vamos mostrar ao Brasil, pelo voto, que também não aceitamos mais os Sarney! Nem aqui, nem no Amapá, nem em qualquer lugar.
E para terminar, o ministro do TSE, Carlos Ayres de Britto, que no julgamento do governador Jackson Lago, demonstrou muito querer cassá-lo, surpreendeu a todos ao reabrir o processo de cassação. Quase nunca acontece isso, mas aconteceu. Ele acolheu reclamação do ex-ministro Resek e mandou o processo ao Supremo para decidir sobre duas questões: a primeira consiste no questionamento se o TSE pode anular todos os votos dados a um governador eleito pelo povo, (principalmente em uma confusa sessão em que, embora dois ministros tenham dito não ver ali nada de errado, assomou a contestada decisão de 4 x 3 votos, que cassou o governador eleito). Isso sem falar no agravante que consiste no fato do prejudicado não poder recorrer, como de resto ocorre sempre na justiça comum.
A segunda questão diz respeito à dúvida que recaiu quando, decidido pela cassação, por que motivo o TSE não cumpriu as Constituições do Brasil e do Maranhão, que, em caso de vacância do cargo, manda fazer nova eleição direta, se a decisão ocorrer nos dois primeiros anos do governo e indireta nos últimos dois. Por este questionamento, será revista assim a decisão, por todos criticada, de dar o governo a quem perdeu as eleições.
Cumpre-nos então informá-los, caríssimos leitores, que, se antes a atual governadora do Maranhão já era ilegítima, agora está também sub judice, escancarando a terrível precariedade desse governo biônico.
É bom colocar as “barbas” (e bigodes, naturalmente) de molho...
2 comentários:
Só gostaria de saber até quando vamos viver os desmandos destes coronéis... Ou melhor, do coronel José Sarney! Quero saber se é justo o que essa despota (Roseana) está fazendo com Tuntum... Por isso foram derrotados na ultima eleição e serão novamente porque não sabem fazer politica. Só estão pensando em si e não vêem que nesta cidade muitos idosos e crianças precisam do pólo de saúde que estava aqui! Senador José Sarney O povo não tem a mesma mentalidade da época de Tancredo! Estamos de olho... E seus desmandos não vão continuar... Nem os seus, nem os de sua filha!
Venho até aqui meu caro Zé Reinaldo, lhe parabenizar pelo texto, afinal como colaborador que sou do Jornal Pequeno, percebo que por vezes as acusações feitas a Sarney são quase sempre superficiais, ao contrário das suas, em especial este texto que elenca as catilinárias de Cícero. Minhas sinceras saudações.
Ivan Pessoa.
(cassady68@hotmail.com)
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