quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Só o Medo Explica

No último sábado, uma notícia dominou o noticiário e indignou os brasileiros: a tentativa desesperada de Sarney em calar a imprensa sobre os indícios de crimes apurados na Operação Boi Barrica que envolvem o seu filho Fernando Sarney. A ação visou o jornal O Estado de São Paulo, mas o alcance pretendido é atingir qualquer um que fale sobre esse assunto.

O Estado de São Paulo, que só havia sido censurado nos primeiros momentos do duro período do regime autoritário iniciado em 1964, denunciou imediatamente a essa iniciativa de calá-lo. A reação foi imediata. Senadores foram os primeiros a condenar a agressão à Constituição Brasileira, numa clara alusão à ofensa de claúsulas pétreas da Lei magna, tão caras aos brasileiros, e que tratam da liberdade de opinião, essência mesmo dos regimes democráticos. Logo vieram a OAB, a ANJ, a ABI e tantas outras entidades, que se uniram na total condenação ao ato de desespero perpetrado pelos Sarney.

Quem sintetizou tudo foi o articulista da revista Veja, Reinaldo Azevedo, em seu blog que certamente é o mais acessado do país. Ele viu o ato tresloucado da seguinte maneira:

“Acabou! É o fim da linha para o senador José Sarney (PMDB-AP). E esse fim não poderia ser mais melancólico. Apelar à censura prévia à imprensa, a exemplo dos melhores tempos da ditadura, foi a única forma que encontrou para tentar “esfriar” o noticiário. Mas não esfria. Aquece-o com a desonra. Defendi, como sabem, desde o primeiro momento, que ele renunciasse à presidência do Senado. Agora, creio que deveria renunciar ao mandato, retirando-se para a sua ilha particular no Maranhão, onde poderá se dedicar à meditação e às suas memórias”.

E continua:

“Eu sou contrário a qualquer limite à publicação de material apurado pela imprensa que conste de processos em andamento. As razões são simples, e os argumentos dos que querem criar empecilhos à publicação são simplórios.
Se um jornalista fica sabendo de informações de um processo que estão sob sigilo de Justiça, isso quer dizer que elas já vazaram. Se ele sabe, outros também saberão. E não lhe compete se tornar uma espécie de guardião de um segredo. O PAPEL DE UM JORNALISTA É PUBLICAR O QUE SABE, NÃO ESCONDER. É claro que me refiro a processos que digam respeito a questões de “interesse público”.
Não é ao jornalista que cabe guardar o sigilo. Se, antes dele, houve uma cadeia de autoridades e/ou advogados que não souberam fazê-lo, todos eles passíveis de punição segundo a lei ou um código de ética, que o Estado se encarregue de fazer valer o que está escrito.
- A lei garante ao jornalista o sigilo da fonte.
- A ética de um jornalista compreende, entre outras coisas, publicar informações que sejam de interesse público.


A Constituição protege um valor bem maior, que é a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão, mormente quando se trata de matéria de interesse público. Uma neta que pede ao avô emprego para o namorado no Senado não se dedica a um ”diálogo íntimo”, a menos que o Parlamento brasileiro tenha sido privatizado pela família Sarney. Um filho que trata com o pai da mobilização de autoridades para tratar do canal de TV da família, do mesmo modo, não cuida de assunto particular. “Ah, mas tudo está sob segredo de Justiça”. Perfeito! Que aqueles que deveriam zelar pela sua guarda sejam responsabilizados caso se chegue a eles. Jornalista não tem nada com isso.

Sarney não é ingenuo, nem simplório. Ele sabia que essa seria a reação ao seu desejo de cassar notícias sobre a investigação do seu filho pela Polícia Federal. Ele sabia que a reação seria indignada e firme. Por que então foi buscar de um antigo funcionário da gráfica do Senado, amigo de Agaciel e ligado a Sarney que esteve em sua posse como desembargador do Tribunal de Justiça do DF, retratado com Sarney e Renan Calheiros no célebre casamento do filho de Agaciel, notório pela música do filme sobre a mafia, O Poderoso Chefão?

A única razão que fica é o receio de que tem muito mais coisas nos arquivos da investigação, muito piores e destrutivas do que o que já foi publicado. Anima e dá força a suposição da existencia, inclusive, de diálogos entre familiares de Sarney e autoridades do judiciário sobre o triste e igualmente célebre processo de cassação de Jackson Lago para aboletar a filha querida que estava inconsolável com a derrota nas urnas em 2006. Por que Sarney tem tanto medo?

Ele sabe que isso poderia anular o estranho julgamento que atropelou a Constituição do Estado, para fazer voltar a prevalecer a vontade do povo expressa nas urnas. Sem o Senado e sem o governo do Maranhão, seria o caos para a família.

O fato é que Sarney perdeu todas as condições de dirigir o Senado e até de manter o mandato. Lula só está pedindo ao PT que não seja o partido a atirar a primeira pedra. Já lavou as mãos. Acabou, como diz Azevedo.

E aqui o que imaginávamos já está acontecendo. O CREA, entidade que representa a classe da engenharia denuncia ao TCE que não há como contratar hospitais baseando-se no edital de licitação da Secretaria de Saúde. Como orçar as obras, se não se dá o endereço delas e tampouco as sondagens do terreno? Ricardo Murad, quando titular da extinta Gerência Metropolitana, marcou sua administração recusando-se a fazer licitações. Gosta mesmo é de eleger os vencedores, entregando obras sem licitação a empreiteiros amigos e colaboradores. Gosta de se mostrar acima das leis. É um megalomaniaco. Continua o mesmo.

E Roseana nada vai fazer a respeito? Aí é querer demais…

E, finalmente, vejam que maravilha deste honesto governo de Roseana. A referência e da última edição da Veja, na seção Holofote:

“Uma das primeiras providências da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão na gestão de Roseana Sarney foi contratar o advogado Arão Lobão por 1,5 milhão de reais por um ano. Piauiense, Lobão é desconhecido no Maranhão, não está registrado na OAB local e, por isso, só pode peticionar em cinco causas por ano no estado. É um generalista, que trabalha em todo tipo de processo. Ainda assim, foi contratado sem licitação por "notória especialização". Ele é parceiro de Marcus Vinicius Coelho, que advogou para Roseana na cassação do ex-governador Jackson Lago. Lobão diz que não houve tráfico de influência e que ganhou o contrato por puro senso de oportunidade.

Que coragem!

Coisas assim mostram que nada mudou.

Continuam os mesmos de sempre!

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