O namorado da neta de Sarney foi contratado após pedido dela ao pai, Fernado Sarney, que é filho do presidente do Senado, José Sarney. As gravações foram divulgadas pelo jornal Estado de São Paulo.
Gravações aumentam a pressão sobre o presidente do Senado. As conversas ligam o senador José Sarney à contratação do namorado de uma neta dele por meio de um ato secreto.
Veja a reportagem
As conversas foram publicadas nesta quarta-feira pelo jornal O Estado de São Paulo. São gravações feitas pela Polícia Federal com autorização judicial, durante uma investigação contra Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney.
Os diálogos mostram intimidade da família Sarney com o ex-diretor Agaciel Maia, que chegou ao cargo nomeado por José Sarney e foi afastado sob acusação de irregularidades. Segundo o jornal, as conversas ocorreram entre março e abril do ano passado, quando Sarney não era presidente do Senado.
Maria Beatriz fala com o pai, Fernando Sarney, pedindo ajuda para empregar o namorado na vaga deixada pelo irmão no Senado.
- Maria Beatriz Sarney: Pai, deixa eu te perguntar uma coisa. Meu irmão saiu do Senado, né? Vai sair a exoneração dele amanhã. Aí você acha que dá pro Henrique entrar na vaga dele ou não?
- Fernando Sarney: Dá sim, mas amanhã de manhã cedo você tem que me ligar, pra eu falar com o Agaciel.
E agaciel maia, o diretor-geral na época, foi acionado imediatamente.
- Maria Beatriz Sarney: Pai?
- Fernando Sarney: E aí, meu bem? Já falei com o Agaciel. Peça ao Bernardo pra procurar o Agaciel e eu vou falar com o papai ou eu mesmo com o Garibaldi amanhã aí em Brasília, quando eu for, amanhã ou depois, pessoalmente, que é o único jeito de resolver. E aí se for o caso, pra ele já levar tudo do Henrique, já dizer: "a pessoa que o Fernando quer botar é essa aqui".
Beatriz recorre ao avô José Sarney. E no outro dia conta para o pai que Sarney reclamou porque ainda não sabia de nada.
- Maria Beatriz Sarney: (...) Falei com o vovô, né?
- Fernando Sarney: Sim.
- Maria Beatriz Sarney: Aí ele falou assim: "ah!, mas você tinha que ter falado antes, pra eu já agilizar".
No dia dois de abril, Fernando Sarney liga para um assessor do pai. E pede que relembre a Sarney sobre a ajuda que faltava: um telefonema para Agaciel. E trata a vaga como propriedade da família.
- Fernando Sarney: O irmão da Bia, quando papai era presidente do Senado, eu arrumei emprego pra ele lá.
- Assessor: Sei.
- Fernando Sarney: Ele agora tá saindo, eu liguei pro Agaciel pra ver a possibilidade de botar o namorado da Bia lá. Porque me ajuda, uma forma e tal de dar uma força para mim. E o irmão tá saindo, é uma vaga que podia ser nossa.
Em menos de uma hora, Sarney liga para o filho. E se dispõe a ajudar.
- José Sarney: Olha, você não tinha me falado o negócio da Bia.
- Fernando Sarney: Ela falou comigo sexta-feira.
- José Sarney: Mas ele (Bernardo) entrou logo com o pedido de demissão.
- Fernando Sarney: Eu falei com o Agaciel.
- José Sarney: Já falou com o Agaciel?
- Fernando Sarney: Falei, falei. Pedi pro Agaciel segurar com ele. Agaciel tá com os dois currículos na mão dele, tá com tudo lá.
- José Sarney: Tá bom. Eu vou falar com ele.
- Fernando Sarney: Pra prevenir. É só isso aí, o que eu queria. Que desse uma palavrinha com ele.
E funcionou. Oito dias depois, o namorado da neta de Sarney foi nomeado, e continua até hoje no cargo. A nomeação foi por ato secreto, com assinatura de Agaciel, passando por cima da autoridade de quem presidia o Senado.
“Tenho conhecimento agora que essa nomeação não foi assinada por mim, foi assinada pelo diretor geral e não foi publicada", disse o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN).
Apesar de oficialmente Sarney ter anulado os atos secretos, até agora ninguém foi demitido. A área jurídica do senado está estudando caso a caso. Mesmo em recesso, senadores da oposição voltaram a defender o afastamento de Sarney.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio, pediu ao Ministério Público que investigue Fernando Sarney e Agaciel Maia. E apresentou mais uma denúncia contra Sarney no conselho de ética. “O presidente Sarney também faltou com a verdade, porque havia negado tudo isso antes. Então, caracterizou-se, outra vez, a quebra de decoro”, disse.
Apesar de não existir no regimento, Cristóvam Buarque (PDT-DF) quer um plebiscito entre os senadores para decidir sobre o afastamento do presidente do Senado. “Deveriam ter clareza de dizer ao presidente Sarney: ‘presidente, ta na hora do senhor deixar a presidência dessa casa’”, disse Buarque.
O advogado de defesa da família Sarney, Eduardo Ferrão, divulgou nota. Disse que as conversas são estritamente privadas e sem conotação de ilicitudes. Segundo ele, o inquérito, de onde foram retirados os diálogos, corre em segredo de Justiça. E a sua divulgação constitui conduta criminosa. Segundo a nota, é um flagrante e inaceitável atentado às garantias constitucionais.
Trata-se, ainda, da divulgação mutilada de trechos de longas conversas telefônicas, que não revelam a prática de qualquer ilícito. E que medidas legais para preservação dos direitos de Fernando Sarney e responsabilização dos infratores serão tomadas.
A direção do Estado de São Paulo declarou que a reportagem não alterou nenhuma gravação publicada pelo jornal. (Do Jornal Nacional / Rede Globo)
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