A hipótese mais branda com que o alto comando do governo conta para o affair Sarney é seu afastamento da presidência do Senado. A pior, claro, é a perda do mandato, por cassação por quebra de decoro no Conselho de Ética, o que já foi uma hipótese remota, mas, após a divulgação de gravações que explicitam nova prática de nepotismo por parte do senador, deixou de ser.
O governo, pois, já pensa no chamado day after. O que fazer após o desfecho do caso Sarney? Estará rompida a aliança com o PMDB na sucessão presidencial? Rompida, propriamente, não. O PMDB não é de rompimentos. É um partido pragmático, que não costuma ter gestos radicais, nem afirmativos. “Garanto que talvez” é o seu lema. O muro, instância existencial dos tucanos, é hoje – foi sempre, na verdade - do PMDB.
O ocaso de Sarney deve acentuar o caráter ambíguo do partido. Parte do PMDB, sobretudo os diretórios do Sul, fecha com o PSDB. A outra parte – Norte e Nordeste – tende para o PT, embora tudo dependa, claro, do desfecho da crise do Senado. Lula sabe disso, mas já chegou ao limite na exposição pessoal em defesa do senador.
Está sendo aconselhado pelo PT e por seus assessores mais próximos a se conter, daqui por diante. Os fatos tendem a piorar, segundo já lhe informaram. Há ainda munição contra Sarney a ser desovada no noticiário político. Enquanto as denúncias restringiam-se ao empreguismo no âmbito do Senado, ainda havia por onde defendê-lo. Mas a constatação de que funcionava como intermediador dos negócios do filho – que, na verdade, são negócios da família – junto ao Estado faz com que seu contencioso derive para áreas mais delicadas. O destino do clã Sarney não depende hoje só do Conselho de Ética. Está também nas mãos da Polícia Federal.
Já não é possível – se é que foi em algum momento – dissociá-lo do destino judicial de seu filho Fernando Sarney, investigado pela Polícia Federal por acusações que vão do tráfico de influência a formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Mesmo que venha a ser penalmente inocentado, o reflexo político desse simples indiciamento já é fatal ao pai senador, na medida em que se constata seu envolvimento como facilitador nos negócios do filho.
“A situação se agravou muito”, constata uma das defensoras intransigentes de Sarney, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), diante das novas denúncias. Não é uma visão solitária, nem despropositada. Pragmatismo tem limite. Napoleão Bonaparte dizia que, com uma baioneta pode-se fazer tudo, menos sentar-se sobre ela. A um político pode-se pedir tudo, menos que se suicide eleitoralmente. Dois terços do Senado vão renovar seus mandatos ano que vem.
O reflexo das denúncias junto ao eleitorado está sendo acachapante, bem mais do que poderiam supor os senadores petistas que, escorados na popularidade de Lula, admitiram, até aqui, segui-lo incondicionalmente, mesmo em situações desconfortáveis como a de Sarney. Mas, diante do fato de que Lula não será candidato a nada – e, portanto, não poderá escorá-los -, revêem o procedimento adotado e já ponderam que não é possível sentar-se sobre a baioneta.
Como se não bastasse, começa em agosto a CPI da Petrobras, que, por mais blindada que esteja, é sempre uma janela aberta ao imponderável. Agosto, mês emblemático da política brasileira (suicídio de Getúlio Vargas, renúncia de Jânio Quadros, morte de Juscelino), mais que nunca se prenuncia como mês de desgosto. Promete, como diz a senadora Salvatti. E provavelmente cumpre.
O ocaso de Sarney deve acentuar o caráter ambíguo do partido. Parte do PMDB, sobretudo os diretórios do Sul, fecha com o PSDB. A outra parte – Norte e Nordeste – tende para o PT, embora tudo dependa, claro, do desfecho da crise do Senado. Lula sabe disso, mas já chegou ao limite na exposição pessoal em defesa do senador.
Está sendo aconselhado pelo PT e por seus assessores mais próximos a se conter, daqui por diante. Os fatos tendem a piorar, segundo já lhe informaram. Há ainda munição contra Sarney a ser desovada no noticiário político. Enquanto as denúncias restringiam-se ao empreguismo no âmbito do Senado, ainda havia por onde defendê-lo. Mas a constatação de que funcionava como intermediador dos negócios do filho – que, na verdade, são negócios da família – junto ao Estado faz com que seu contencioso derive para áreas mais delicadas. O destino do clã Sarney não depende hoje só do Conselho de Ética. Está também nas mãos da Polícia Federal.
Já não é possível – se é que foi em algum momento – dissociá-lo do destino judicial de seu filho Fernando Sarney, investigado pela Polícia Federal por acusações que vão do tráfico de influência a formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Mesmo que venha a ser penalmente inocentado, o reflexo político desse simples indiciamento já é fatal ao pai senador, na medida em que se constata seu envolvimento como facilitador nos negócios do filho.
“A situação se agravou muito”, constata uma das defensoras intransigentes de Sarney, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), diante das novas denúncias. Não é uma visão solitária, nem despropositada. Pragmatismo tem limite. Napoleão Bonaparte dizia que, com uma baioneta pode-se fazer tudo, menos sentar-se sobre ela. A um político pode-se pedir tudo, menos que se suicide eleitoralmente. Dois terços do Senado vão renovar seus mandatos ano que vem.
O reflexo das denúncias junto ao eleitorado está sendo acachapante, bem mais do que poderiam supor os senadores petistas que, escorados na popularidade de Lula, admitiram, até aqui, segui-lo incondicionalmente, mesmo em situações desconfortáveis como a de Sarney. Mas, diante do fato de que Lula não será candidato a nada – e, portanto, não poderá escorá-los -, revêem o procedimento adotado e já ponderam que não é possível sentar-se sobre a baioneta.
Como se não bastasse, começa em agosto a CPI da Petrobras, que, por mais blindada que esteja, é sempre uma janela aberta ao imponderável. Agosto, mês emblemático da política brasileira (suicídio de Getúlio Vargas, renúncia de Jânio Quadros, morte de Juscelino), mais que nunca se prenuncia como mês de desgosto. Promete, como diz a senadora Salvatti. E provavelmente cumpre.
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