Mesmo no clima geral de achincalhe da política e da atividade parlamentar, consequência inevitável da parceria entre o presidente Lula e o coronelato que controla o Senado da República, ele passou da conta ao dizer que "todos eles (os senadores da oposição) são bons pizzaiolos". Lula respondia à pergunta de um jornalista sobre a possibilidade de a CPI da Petrobrás - a seu ver, "uma irresponsabilidade" - acabar em pizza. A grosseria incomodou até os seus companheiros, como o líder petista Aloizio Mercadante, que se viu constrangido a soltar uma nota para criticar a "frase infeliz". Mas o que chama a atenção no episódio, além da absoluta naturalidade com que o presidente se permite ofender uma instituição legislativa, embora apequenada, é o fato de ser ele o primeiro a ligar o forno onde pretende ver incinerados os derradeiros vestígios de autonomia do Senado, no que possam contrariar os esquemas de poder do Planalto.
O comportamento rombudo da maioria governista na imposição dos nomes do presidente e do relator do inquérito parlamentar sobre a Petrobrás é um exemplo disso. Outro, na mesma linha, está na escolha do novo presidente do Conselho de Ética, no qual 10 dos 15 membros integram o bloco da situação. Comprovando que o governo está determinado a não deixar aberta nem uma fresta sequer para o exame, no colegiado, das denúncias contra o senador José Sarney - de quem Lula se tornou arrimo -, o líder do PMDB, Renan Calheiros, fez eleger um pau-mandado, o seu correligionário do Rio de Janeiro Paulo Duque. Ele chegou ao Senado como segundo suplente do atual governador Sérgio Cabral e não pretende se candidatar em 2010. Nas últimas semanas, ninguém o superou na defesa de Sarney, nem em ênfase nem em primarismo.
O maranhense, Duque chegou a dizer, "é diferente dos outros senadores" por ter criado a TV Senado, "que permite que eu me dirija a todo o povo brasileiro". E arrematou: "Isso não tem preço." Tudo se faz com a maior desfaçatez. Calheiros, obviamente de comum acordo com Lula, vetou o nome de Antonio Carlos Valadares, do PSB de Sergipe, indicado pela liderança petista, porque este, que deverá disputar a reeleição, poderia se mostrar menos propenso a bloquear um processo por quebra de decoro parlamentar contra Sarney. O presidente do Senado mentiu ao negar que tivesse responsabilidades administrativas na fundação que leva o seu nome e que desviou R$ 500 mil do patrocínio cultural de R$ 1,3 milhão recebido da Petrobrás. Sarney é também suspeito de envolvimento na edição dos famigerados atos secretos, nos 14 anos em que a diretoria-geral da Casa foi ocupada pelo seu apadrinhado Agaciel Maia.
Essas suspeitas se adensaram com a revelação, na edição de ontem deste jornal, de que gravações da Polícia Federal (PF) autorizadas pela Justiça captaram telefonemas do empresário Fernando Sarney, primogênito do senador, para Agaciel. As interceptações foram feitas no curso da Operação Boi Barrica, que levou a PF a indiciar o empresário, que cuida da rede de comunicação da família, por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha. A operação foi desencadeada para apurar o uso de recursos ilícitos nas eleições de 2006, quando Roseana Sarney era candidata ao governo do Maranhão. Dois dias antes do segundo turno, Fernando teria sacado R$ 2 milhões em dinheiro vivo. Há outras acusações escabrosas.
Entre março e abril de 2008, a filha do empresário, Maria Beatriz, tratou com o pai e com o avô da nomeação do namorado Henrique Bernardes para o lugar do meio-irmão Bernardo que tinha se demitido. Sarney é instruído a encaminhar o currículo do namorado da neta a Agaciel. Pouco depois, ele foi nomeado por ato secreto. O detalhe que vale por um tratado sobre a mentalidade do clã, pela qual os seus membros têm uma espécie de direito natural sobre o patrimônio comum dos brasileiros, é o argumento usado por Maria Beatriz para justificar a nomeação de Bernardes: afinal, a vaga pertencia à família. É o caso de dizer que, se o filho de Sarney cometeu o crime de formação de quadrilha, o senador, a parentela e os agregados passaram anos formando família, compulsivamente, sob o teto do poder público. Pelo menos 10% dos 663 atos secretos no Senado favoreceram parentes e aliados políticos do seu tripresidente por quem Lula assará pizzas de todos os tamanhos e sabores.
O comportamento rombudo da maioria governista na imposição dos nomes do presidente e do relator do inquérito parlamentar sobre a Petrobrás é um exemplo disso. Outro, na mesma linha, está na escolha do novo presidente do Conselho de Ética, no qual 10 dos 15 membros integram o bloco da situação. Comprovando que o governo está determinado a não deixar aberta nem uma fresta sequer para o exame, no colegiado, das denúncias contra o senador José Sarney - de quem Lula se tornou arrimo -, o líder do PMDB, Renan Calheiros, fez eleger um pau-mandado, o seu correligionário do Rio de Janeiro Paulo Duque. Ele chegou ao Senado como segundo suplente do atual governador Sérgio Cabral e não pretende se candidatar em 2010. Nas últimas semanas, ninguém o superou na defesa de Sarney, nem em ênfase nem em primarismo.
O maranhense, Duque chegou a dizer, "é diferente dos outros senadores" por ter criado a TV Senado, "que permite que eu me dirija a todo o povo brasileiro". E arrematou: "Isso não tem preço." Tudo se faz com a maior desfaçatez. Calheiros, obviamente de comum acordo com Lula, vetou o nome de Antonio Carlos Valadares, do PSB de Sergipe, indicado pela liderança petista, porque este, que deverá disputar a reeleição, poderia se mostrar menos propenso a bloquear um processo por quebra de decoro parlamentar contra Sarney. O presidente do Senado mentiu ao negar que tivesse responsabilidades administrativas na fundação que leva o seu nome e que desviou R$ 500 mil do patrocínio cultural de R$ 1,3 milhão recebido da Petrobrás. Sarney é também suspeito de envolvimento na edição dos famigerados atos secretos, nos 14 anos em que a diretoria-geral da Casa foi ocupada pelo seu apadrinhado Agaciel Maia.
Essas suspeitas se adensaram com a revelação, na edição de ontem deste jornal, de que gravações da Polícia Federal (PF) autorizadas pela Justiça captaram telefonemas do empresário Fernando Sarney, primogênito do senador, para Agaciel. As interceptações foram feitas no curso da Operação Boi Barrica, que levou a PF a indiciar o empresário, que cuida da rede de comunicação da família, por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha. A operação foi desencadeada para apurar o uso de recursos ilícitos nas eleições de 2006, quando Roseana Sarney era candidata ao governo do Maranhão. Dois dias antes do segundo turno, Fernando teria sacado R$ 2 milhões em dinheiro vivo. Há outras acusações escabrosas.
Entre março e abril de 2008, a filha do empresário, Maria Beatriz, tratou com o pai e com o avô da nomeação do namorado Henrique Bernardes para o lugar do meio-irmão Bernardo que tinha se demitido. Sarney é instruído a encaminhar o currículo do namorado da neta a Agaciel. Pouco depois, ele foi nomeado por ato secreto. O detalhe que vale por um tratado sobre a mentalidade do clã, pela qual os seus membros têm uma espécie de direito natural sobre o patrimônio comum dos brasileiros, é o argumento usado por Maria Beatriz para justificar a nomeação de Bernardes: afinal, a vaga pertencia à família. É o caso de dizer que, se o filho de Sarney cometeu o crime de formação de quadrilha, o senador, a parentela e os agregados passaram anos formando família, compulsivamente, sob o teto do poder público. Pelo menos 10% dos 663 atos secretos no Senado favoreceram parentes e aliados políticos do seu tripresidente por quem Lula assará pizzas de todos os tamanhos e sabores.
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