quarta-feira, 29 de julho de 2009

Não pode ficar e nem sair

Não foi por falta de aviso. Em seu blog, Ricardo Noblat disse a Sarney carinhosamente que ele devia ir para casa, cuidar da família e escrever livros. Outros lhe ofereceram presidência da Academia Brasileira de Letras em troca da presidência do Senado. Eu mesmo escrevi nesse espaço que ele abandonara a cautela que o acompanhou a vida inteira para temerariamente enfrentar o perigo evidente de peitar o PT, expondo-se a riscos muito grandes. Mas escrevi também que compreendia o porquê do gesto ousado e perigoso, uma vez que se encontrava premido por duas metas urgentes que envolviam os seus filhos.

A mais vistosa delas era tirar Jackson Lago do governo do estado e entregá-lo a sua filha Roseana Sarney, que havia sido derrotada nas eleições de 2006. O medo era de nunca mais chegar ao poder no Maranhão, caso não conseguisse, por meio dos Tribunais, colocá-la novamente no governo. A segunda razão, para ele tão importante quanto a outra, era blindar o filho Fernando nos processos que este responde na justiça.

Sarney imaginou que Lula o salvaria dos perigos que surgissem e controlaria o PT. Com acesso fácil na grande imprensa, o futuro Presidente do Senado achava que conseguiria controlar a mídia. E foi em frente.

Também cheguei a escrever que seus novos amigos, principalmente Renan Calheiros, por não terem limites éticos em suas ações, lhe criariam muitos problemas, pois não teria força para controlá-los.

Uma promessa de campanha era colocar o Color de Mello na Comissão de Infraestrutura que estava destinada ao PT, de acordo com a prática do Senado. E o PT havia escolhido Ideli Salvatti, lider do partido, para assumi-la.

Não tanto pela senadora, mas pela evidente volta de Collor ao centro do poder, soou um sinal de alerta na grande imprensa, que anos antes, muito se empenhara no processo que o obrigou a deixar a presidência da República.

Ali viram que Sarney colocava as necessidades da família acima de qualquer coisa, por pior que fosse, e que era necessário dar um basta. Começava a mudar o ambiente que lhe proporcionava um tratamento amigável por parte dos principais orgãos de comunicação do país.

Além disso, certamente alguns setores bem informados do PT tiveram um amplo canal para dar o troco. Chegara a hora.

O que nenhum adversário de Sarney - no Maranhão ou fora daqui - podia supor era o tamanho dos malefícios do Senador e de sua família, tanto no Maranhão como em Brasília, e de todos os seus tentáculos fincados em vários orgãos da Administração Federal.

No Senado, então, ficou claro que durante o tempo em que esteve na presidência da instituição, ele e sua turma pesada, privatizaram-na, ultrapassando limites inimagináveis, não prestavam contas (nem internamente, nem externamente) e jogavam dinheiro público pela janela. O que aconteceu ali, em toda sua extensão, está longe de estar esclarecido. Quanta irresponsabilidade!
Procuraram envolver todos os senadores e funcionários importantes, para que ninguém pudesse cair fora ou mesmo fazer denúncias, pois estariam envolvidos também de alguma forma. É como uma Máfia, que obriga os novos parceiros a apertar o gatilho - assassinando alguém - para ficarem definitivamente vinculados ao grupo.

Hoje, pelo que se lê na imprensa sulista, Sarney tem dinheiro no exterior, participa de Shoppings Centers e é um homem de negócios que se prepara para explorar gás no Maranhão. Que transformação e prosperidade! Um exemplo de empreendedorismo a ser seguido, caso não fossem iniciativas totalmente fundadas em informação privilegiada. O ex-presidente W. Bush é que deve estar batendo palmas com o novo poderoso parceiro na area do petróleo...

Vai acabar fazendo palestras para auditórios desejosos de ensinamentos de como crescer tanto na vida. Seria páreo duro com o Bernadinho, o treinador vitorioso da seleção nacional de Voleibol, que está com a agenda cheia de pedidos de grupos e empresas, sequiosos de ensinamentos...

Entretanto, Sarney precisa antes sair da brutal enrascada em que está metido. Outros presidentes do Senado da República, todos seus amigos, sairam do noticiário ao renunciarem ao cargo de presidente. Mas acredito que esse caminho ele sequer pensa, pois está convencido de que se sair da presidência de um dos poderes da República deixará exposto seu filho Fernando e até sua filha Roseana, que não consegue se legitimar no governo.

Também sabe que não pode ficar, pois assim a população brasileira poderá saber coisas cada vez mais graves sobre si, levando-o a viver humilhado e repudiado pela opinião pública.

Que destino! Não pode ficar nem sair da presidência do Senado... É um beco sem saída, para o qual não há solução fácil.

Mudando de assunto, aqui no Maranhão, houve curiosa reunião promovida por Ricardo Murad com outros gestores do governo, juntamente com empresários, tentando legitimar procedimentos em licitações. Esse tipo de reunião é sempre perigosa, pois sabemos como Ricardo nunca respeitou processos licitatórios, quanto mais juntando empresários na elaboração de licitações. Na verdade, o poderoso Secretário de Saúde gosta mesmo é de entregá-las aos seus empreiteiros preferidos. Licitações não fazem seu estilo.

Aliás, se quiser mesmo fazê-las direito, a solução é fácil. Chico Batista, que foi chamado para participar da reunião, é um extraordinärio e experiente conhecedor de como fazer uma licitação com lisura. Ele foi Presidente da Comissão Central de Licitações no meu governo e no de Roseana e se saiu muito bem. Se querem realmente fazer a coisa direito, recriem a CCl e coloquem Francisco na presidência. E aí podem ficar tranquilos. Mas não acredito que seja isso que querem. Chico foi chamado só para ser usado na mídia, tentando passar imagem de seriedade. Duvido que o façam!

O Maranhão começa a descer a ladeira. Caiu pela primeira vez em muitos anos os números referentes a empregos com carteira assinada no estado. Como está tudo parado e o governo não funciona, o problema só está começando.

E, no meio de tantas notícias de construção de dezenas de hospitais, o que está acontecendo é o fechamento de parte do Hospital Aldenora Bello, voltado para atender doentes com câncer. Isto, naturalmente, por falta de dinheiro do governo. A triste realidade suplanta e se impõe a todo os tipos de mistificação...

E a Fundação Getúlio Vargas volta a divulgar que, no meu período de governo, o Maranhão foi o terceiro estado do Brasil e o segundo do nordeste a obter melhor desempenho no avanço de indicadores sociais.

Vamos ver o que acontecerá neste arremedo de governo que se arrasta por ai, tentando se legitimar...

Engraçado é o que acontece: como não consenguem explicar nada, muito menos se defender, atacam a divulgação de gravações feitas com autorização da justiça. Mas não foi isso que fizeram a vida inteira contra seus adversários? O fato é que fizeram muito mal a tanta gente e que esse 'karma' se volta agora contra eles.

Como diz o velho ditado: aqui se faz, aqui se paga.

Um comentário:

Anônimo disse...

Diz um velho adagio popular que " não se cospe no prato que se come", ao ler sua biografia vi a quantidae de cargos que já ocupou. Fiquei curiosa em saber quantos destes cargos foram indicação do Senador José Sarney?