segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sarney diz que fica e esboça estratégia da resistência

Fixou como prioridade evitar que o DEM abandone o barco

Mandou levantar dados sobre negócios do neto no Senado

Menos de cinco meses depois de ter sido eleito para a sua terceira presidência no Senado, José Sarney respira uma atmosfera de fim de gestão.

Instado a abandonar a cadeira –por renúncia ou por licença— Sarney dá de ombros: “Não vou sair. Não há razão para isso”, diz, em privado.

Antevê para os próximos dias um agravamento do mau tempo. Para atravessar a borrasca, cuidou, nesta sexta (26), de vistoriar a armada.

Reuniu-se com os dois líderes que lhe são mais fiéis: Renan Calheiros, do seu PMDB; e Gim Argelo, do PTB.

Por decisão de Sarney, a conversa ocorreu na sala da presidência do Senado.

Na véspera, acuado pela descoberta de que o neto José Adriano Cordeiro Sarney agencia empréstimos a servidores do Senado, Sarney trancara-se em casa.

Fugira do assédio dos repórteres e do burburinho do plenário. Não queria que um segundo dia de ausência consolidasse a idéia de que é pautado pelo medo.

A portas fechadas, Sarney, Renan e Argelo passaram a conjuntura em revista. Concluíram que o noticiário sobre o neto produzira uma trinca no casco.

Alarmaram-se com o movimento ensaiado por um protoaliado. A marujada do DEM –14 senadores— caminha na direção do bote salva-vidas.

Decidiram tentar demover os ‘demos’ da idéia de abandonar o navio. O próprio Sarney tocou o telefone para José Agripino Maia.

Acalçou-o pelo celular, no interior do Rio Grande do Norte. Explicou-lhe as razões que o levaram a soltar a nota da véspera.

Um texto em que se apresentara como vítima de uma “campanha midiática”, por conta do “apoio” que dá a Lula e ao governo dele.

Agripino disse a Sarney que, para o DEM, é essencial que ele explique, de modo “convincente”, os negócios do neto José Adriano.

Como a conversa pareceu malparada, Sarney pediu a Renan que ligasse, também ele, para Agripino.

No diálogo com Renan, o líder ‘demo’ soou mais específico. Disse que o neto de Sarney fora pendurado nas manchetes em posição constrangedora.

Afirmou que o DEM defendera o afastamento do ex-diretor João Zoghbi logo que se descobrira que ele fizera negócios nas franjas da folha de pagamento do Senado.

Comparou a ação do neto de Sarney à do filho de Zoghbi, que, associado a uma baba-laranja, agenciara empréstimos consignados no Senado. Agripino deixou claro a Renan que, sem um lote de explicações que lhe ofereçam “conforto”, o DEM pode, sim, tomar distância de Sarney.

Mais tarde, ao trocar idéias com um amigo, Agripino explicaria: “Não faremos força para derrubar Sarney, mas, se não der, também não vamos ajudar a sustentá-lo”. Diante do cheiro de queimado, Sarney mandou levantar informações sobre os negócios da Sarcris, a empresa do neto.

A firma começou a operar em 2007. Firmou contrato com seis casas bancárias. Quatro permanecem em vigor. O DEM reunirá sua bancada na próxima terça (30). Traz os olhos grudados no noticiário. E aguarda pelas explicações “convincentes” de Sarney.

Desde fevereiro, mês em que prevaleceu sobre Tião Viana (PT-AC) de maneira triunfal, Sarney convive com uma ilusão.

Desceu das nuvens da vitória para o chão escorregadio do dia-a-dia administrativo, embalado pela quimera de que preside o Senado.

Em verdade, é presidido pelas circunstâncias. É governado pela crise. E reage a ela como se estivesse acomeido por um surto de amnésia. Não assume responsabilidades pelos desmandos de Agaciel Maia, personagem que nomeara 14 anos atrás.

Diz que não sabia que uma penca de Sarneys havia sido pendurada na folha do Senado. Não enxerga o conflito de interesses embutido na ação do neto-empresário.

Para complicar, Sarney enfrenta o contraponto da Câmara. Michel Temer, seu colega de partido, soube dar respostas ao pedaço de crise que lhe coube administrar.

Sarney tem conversado amiúde com o presidente da Câmara. Solidário, Temer sugeriu-lhe que adotasse a sua tese em relação às medidas provisórias.

Antes, entedia-se que uma MP prevalecia sobre qualquer projeto. Sob Temer, os deputados abriram brechas para emendas constitucionais e leis complementares.

Com isso, a Câmara votou 43 projetos em maio e 50 em junho. “Há uma animação entre os deputados”, festejava Temer na noite da última quinta (25).

Em privado, Temer estimula Sarney a romper o dique das medidas provisórias. Mas, no Senado, a crise engolfa a pauta de votações.

Sarney tornou-se prisioneiro de um paradoxo. Promete a modernidade sem chutar o atraso. Abraçado ao velho, prega um Senado novo, reformado e enxuto.

Amigo de Sarney, o tucano Tasso Jereissati (CE) identifica na companhia de Renan Calheiros um dos mais vistosos dramas do presidente do Senado.

Acha que o arcaísmo representado pelos métodos de Renan conspurca a idéia de que Sarney possa impor ao Senado um novo padrão estético. O diabo é que, para sobreviver, Sarney depende de Renan. Agora mais do que nunca.

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Um comentário:

julio disse...

Se o Brasil conhecesse a verdadeira história dos Sarney, que só se locupletaram com a miséria do hoje paupérrimo Maranhão, o "marimbondo de fogo" não seria mais político. Mas todo o povo merece os
ladravazes que elegem.
Por isso, o nordeste padece de desenvolvimento enquanto os 'coronéis e lárápios' continuarem vivos e enganando a população.