Um moralista, como se sabe, é um degenerado que ainda não ficou preso no elevador com a Maitê Proença.
Do mesmo modo, um petista é um tucano que ainda não recebeu um pedido do Lula para apoiar o Sarney.
Do mesmo modo, um petista é um tucano que ainda não recebeu um pedido do Lula para apoiar o Sarney.
Poucas horas antes de um jantar em que Lula apelará por Sarney, a bancada de senadores do PT vive um dilema.
Assediado pela crise moral do Senado, o petismo não sabe se vira a mesa ou senta-se a ela, ao lado de Sarney e tudo o que ele representa.
Na noite de terça (30), sete dos 12 senadores do PT posicionaram-se a favor de um pedido de licença de Sarney.
Na quarta (1), informado acerca da novidade, Sarney disse que preferia renunciar a licenciar-se.
Do estrangeiro, onde se encontrava, Lula entrou em parafuso.
Pôs-se a telefonar para Brasília. Mobilizou ministros e assessores. Era preciso chamar o PT às falas.
A firmeza do petismo subiu no telhado. Ou, por outra, escalou um muro que, noutros tempos, era território exclusivo do tucanato.
Numa das peças de Nelson Rodrigues, ambientada num Rio de Janeiro que ainda era a capital do país, um personagem grita, em meio a uma suruba:
"Se Vinicius de Moraes existe, tudo é permitido!"
A frase é, na verdade, uma atualização de comentário de outro personagem, de Dostoievski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”.
Pois bem, Lula sugere ao PT que reflita sobre outra máxima: Se Sarney existe, tudo é permitido. Inclusive apoiar o inaceitável, em nome da governabilidade.
Em 1959, o Partido Social Democrata alemão rejeitou os conceitos de “luta de classes” e “economia planificada”.
Em 1991, o Partido Socialista francês renegou o marxismo.
Em 2002, numa carta ao povo brasileiro, Lula pisoteou o passado e aceitou as regras do mercado.
Em 2009, Lula pede ao PT que renegue os princípios da moralidade pública. Na prática, mera formalização de algo que já ocorreu.
O PT de hoje, evidentemente, não é o PT de ontem. No governo, viu-se compelido a mimetizar o PSDB de FHC, abraçando-se a parceiros como o PMDB.
Um PMDB que frequenta as franjas do poder ameaçando romper com o governo, pleiteando, pedindo, querendo... E obtendo.
O apoio do PT a Sarney, exigido por Lula, será mais um exemplo das metamorfoses que o poder costuma operar.
Para que a hipocrisia possa funcionar, salvando o Senado do caos, é preciso que o PT faça o seu papel. O papel de otário.
Otário consciente, assumido, que reconhece a conveniência de sucumbir às amoralidades alheias em nome da governabilidade.
Afinal, Se Sarney existe, tudo é permitido!
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