quarta-feira, 1 de julho de 2009

Abandonado, Sarney virou presidente de mentirinha

José Sarney não preside mais a crise do Senado. É presidido por ela.

Longe do plenário, Sarney assistiu, pela TV, ao derretimento de sua autoridade.

Ruiu o apoio do DEM, que, por unanimidade, decidiu cobrar que se licencie.

“A credibilidade da instituição está fraturada e o presidente está acusado. Quero bem a Sarney, mas quero mais bem a essa Casa”, disse Agripino Maia.

Acentuou-se a aversão do PSDB, que sugere, além da licença de Sarney, a nomeação de uma comissão suprapartidária para gerir a crise.

“Estamos discutindo se Sarney continua como presidente sem governar, se vai pedir licença por 60 dias ou se vai renunciar”, disse Sérgio Guerra, presidente do PSDB.

Impaciente, o PDT encampou, também por unanimidade, a posição de Cristovam Buarque, que defende a licença de Sarney há dias.

“Pedimos que, ao se licenciar, Sarney permita uma investigação isenta, que possa, ao final, ter credito perante o Senado e a sociedade”, disse o líder Osmar Dias.

O PT ainda não se reuniu. Mas, a despeito dos apelos de Lula, metade da bancada torce o nariz para a permanência de Sarney.

Entre as legendas que têm algum peso, só o PMDB permanece ao lado de Sarney. Ainda assim, em ritmo de apelo:

“Alguns senadores e bancadas pedem que Sarney se licencie. Estaríamos fazendo um pré-julgamento, sem direito a defesa”, disse Valdir Raupp, em nome do PMDB.

“Por que não inverter essa proposta? Por que não darmos 60 dias para que Sarney possa comprovar sua inocência?”

Na prática, a pseudopresidência de Sarney está nas mãos de Renan Calheiros.

No papel de presidente informal do Senado, Renan lidera duas bancadas –a do seu PMDB e a do PTB.

A partir desse núcleo, tenta conter os rombos que se abriram no casco do navio de Sarney.

A idéia de um Senado à beira do abismo já foi superada.

A borda do abismo foi Jader Barbalho. O meio, ACM. O fundo, o próprio Renan.

Sarney é o subsolo do abismo, uma espécie de pré-sal do caos. Sarney é o erro levado às últimas consequências.

Após três presidências que resultaram em desastre –Jader, ACM e Renan— Sarney tornou-se a hipocrisia irrefletida.

Sarney virou a ousadia do velho esfregada na cara de uma opinião pública que anseia pelo novo.

A caravela do vício, por insustentável, roça o rochedo. Aos pouquinhos, o Senado vai aprendendo que tudo tem limite.

Certas circunstâncias não podem ter como resposta os infindos conchavismos da complacência.

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