quinta-feira, 2 de julho de 2009

Enigma

A revista Veja publicou excelente matéria neste final de semana intitulada “Hora da Faxina”. Nela, expõe a perplexidade em descobrir que Sarney não é nada daquilo que se pensava: um homem realizado, satisfeito por ter alcançado cargos onde nunca poderia ter chegado, imortal da Academia Brasileira de Letras, homem que faz questão de mostrar grande erudição, prosa fácil e amena, um simpático senhor de 79 anos de idade, com fama de grande político, estrategista etc.

A matéria sugere ainda o questionamento sobre os motivos que o levaram a chegar a tal ponto, o porquê de não ter se recolhido quando terminou seu mandato de Presidente da República, enfim, por que continuou na lide política e nos embates e disputas que no fim fizeram-no descer do pedestal que imaginou para si?

Para melhor compreensão reproduzo parte da material da Veja:


Sarney tem biografia e nome para, a esta altura da vida, estar distante das refregas mais rasteiras do mundo político. Mas ele nunca quis, ou pôde, se afastar dos cargos que conferem poder de nomear e influir. Sem isso, Sarney torna-se presa fácil para seus não poucos adversários. Além dessa circunstância, vale a pena investigar, munidos apenas dos mecanismos da psicologia mais comezinha e da história, o que leva um político a essa situação. A resposta mais lógica, amparada na história, é a fronteira indefinida e fluida entre o público e o privado na vida nacional. Quando d. João VI se mudou com a corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808, os nobres foram alojados nas melhores casas da cidade, das quais os donos foram sumariamente expulsos. Mas não eram eles os proprietários? Eram. Até que uma necessidade específica do estado os privou do que parecia um direito adquirido. Na mão oposta, são incontáveis os casos de altos funcionários do império e da república que se valeram de suas funções públicas para satisfazer suas necessidades particulares. Sarney é um herdeiro dessa mentalidade, com raríssimas exceções, prevalente no Brasil”.

E nisso incutiu em toda a família a mesma crença. Que diria o articulista da Veja se examinasse mais de perto o que fizeram e fazem Roseana Sarney, Fernando Sarney, isso se os dispusermos a citar apenas esses dois?

Roseana, como foi noticiado na época e relembrado agora, é ela própria cria de um ato secreto do Senado. Foi admitida por meio desse expediente, em um famoso trem da alegria em 1985. Talvez até fosse aprovada se tivesse feito concurso, vamos acreditar, com muita boa vontade, mas para quê, se podia entrar por meio de fraude?

Ela cresceu sem saber distinguir o que era público e o que era privado. Foi educada assim, a vida era fácil e boa , tudo era dela… Dessa forma, dezenas de parentes pertencentes a essa “grife” foram arranjando polpudos empregos, sob a égide de atos secretos do senado. Estavam acostumados e para eles era mais do que natural, era um direito. Depois, em sequência, foram amigos do peito, defensores intransigentes da família, agregados e apadrinhados, faz-tudo, serviçais... Enfim, uma constelação de apaniguados. Todos dependendo de quem? De Sarney, naturalmente.

Assim, como sair, como se aposentar, pois essa turma que chega a milhares, poderia, de uma hora para outra ficar desempregada com a aposentadoria do patriarca? E Sarney, acostumado com o poder, leitor da biografia de poderosos da História, que passavam por cima de todas as regras e massacravam os adversários, o que iria fazer sem a razão de sua vida, o poder absoluto?

Por outro lado, pode-se conjeturar um outro motivo para Sarney se expor tanto. É o fracasso de seu plano em ter um sucessor que segurasse tudo e herdasse todo seu poder. Ele imaginou, tempos atrás, que Roseana poderia assumir o seu lugar, acreditava que ela tinha talento e inteligência para isso. Hoje sabe que Roseana é fraca e sem talento, não seria nada sem o sobrenome Sarney, que ela, aliás, aturdida, quer esconder.

Abafar o inquérito da Polícia Federal contra Fernando Sarney é outro motivo forte para ser dependente do poder.

E ele renunciará? O historiador Marco Antonio Villa, em entrevista na Folha, diz: Sarney raciocina pensando nos interesses da sua família. Creio que o grande temor de renunciar à presidência do Senado é o de perder influência no governo federal e isso prejudicar os interesses da família. É esse raciocínio que ele vai utilizar para decidir se renuncia ou não. A saída só ocorrerá se ele perceber que a avalanche de denúncias chegou a tal ponto que coloca em risco o domínio da família no Maranhão e a eleição de Roseana ao governo estadual em 2010. Ele é um bom chefe de família, basta ver o número de familiares que empregou no Senado.

Em 2010 o povo maranhense saberá dar uma resposta a essa família!

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